História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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Contendas dos antigos sobre o domínio do mar.

portos. Aos cretenses, senhores do mar, não os sofreram os lídios, nem os pelasgos aos lídios, nem os ródios aos pelasgos, nem os frígios aos ródios. A dominação destes provocou a rivalidade dos cíprios e a destes a dos fenícios. Enquanto este povo se apropria do mar inteiro e da pesca e com éditos exclui os outros, conquistam o senhorio das ondas os egípcios, depois os milésios, os cários, os lésbios, os foceenses e os coríntios. Arrogando-se os lacedemônios o predomínio do mar circunjacente, navegaram-no mais audazes os atenienses, impondo leis a Lacônia assim como a Egina. Como sujeitassem os tírios ao seu poder não só o mar que com eles vizinha, mas também todo aquele que suas frotas tinham percorrido, os cartagineses, donos do mar da Sicília e da África, estimulados, freqüentaram as mesmas paragens que os tírios. Destruíram os romanos a potência marítima de Cartago. Tinham com eles pacteado os cartagineses não ultrapassassem o "Promontorium Pulchrum" na África. Envergonhou-se, porém, aquele nobre povo de que, tirando-se-lhe o mar e sendo-lhe arrebatadas as ilhas, pagasse tributos que costumava exigir. E quando senhoreou o mar inteiro, assim o que se estende aquém das Colunas de Hércules, como todo o Oceano onde fosse navegável, dele receberam leis marítimas Antíoco e Aníbal.Consta de narrações verídicas que, por causa da interdição dos portos e do comércio, surgiram guerras entre israelitas e amorréus, gregos e misos, megarenses e atenienses, bolonheses e venezianos, cristãos e sarracenos. E quase a mesma razão, isto é, serem privados do uso comum dos portos e das costas, tiveram os próprios castelhanos de atacar a mão armada os habitantes da Índia Ocidental. Injusta não é a censura de Tácito aos romanos, dizendo que eles estorvavam o intercâmbio das nações e de certo modo impediam a utilização das ondas e dos ventos, franca a todos. Já se pode, pois, admirar essa casta de homens aos quais apraz o bárbaro costume de proibir aos estrangeiros a hospitalidade das praias. Mas, por um revés, por uma contra-volta da fortuna, acontece que, reclamando só para si a terra e a água, são privados de ambas, porque se irrita a ousadia dos menos poderosos com a ambição de mando dos mais poderosos. Nem tolera o Criador do universo que um só povo desfrute e poucos potentados repartam entre si as águas criadas para o bem de todos e destinadas à utilidade geral.A relação destes exemplos me trouxe a esta digressão para não se queixarem os reis da Espanha ou de termos tentado alguma