História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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novidade ou de lhes ter acontecido uma coisa inaudita. Passam os séculos e os homens, mas repetem-se os fatos e suas causas.

Volto agora ao meu assunto.

Navegação da Companhia Oriental para as Índias.

Após algumas viagens incertas e isoladas ao Oriente, constituiu-se enfim uma companhia com capitais particulares, e, no ano de 1602, decidiu-se ir até lá.Nestas expedições precederam-nos os portugueses e castelhanos, e a estes os venezianos, que, durante cento e tantos anos foram os senhores da navegação das Índias através do Mar Vermelho até os empórios de Alexandria. Sabe-se, porém, com certeza, que anteriormente os árabes, os persas e os chineses, de vários séculos atrás até hoje, têm comerciado com os indianos, e antes destes povos, já o faziam Cartago e Roma. Estrabão, escritor asiático, e os mapas de Ptolomeu mostram a derrota de Hanão desde Gades até os extremos da Arábia, as embaixadas dos índios aos imperadores Augusto e Cláudio e a viagem descrita por Plínio. Não é preciso invocar para tão grandioso feito o testemunho do poeta venusino [^nota-8], em cujo tempo um mercador ativo chegou aos confins da Índia através de mares, de pedregais e sob os ardores do sol.Nas primeiras expedições, nem sempre tivemos fortuna próspera, e ficaram duvidosos os resultados dessas audazes empresas, à conta dos trabalhos, despesas e perigos. Entretanto, aumentando com os próprios prejuízos a coragem dos mercadores e buscando-se esperança no próprio desalento, venceram-se as dificuldades que os estorvavam, e cresceram desde então os lucros a tal ponto que as ações de cada um dos sócios da Companhia subiram a mais do quádruplo. Não é também a temeridade e a confiança dos mercantes que já tornam vendível a colheita do ano, quando ainda é objeto das esperanças e dos temores?

Celebes, Gilolo, Ceir, Filipinas.

Despenseiros agora e distribuidores de tantas riquezas, vendemos a outras nações as mercadorias dantes compradas aos venezianos e espanhóis, e monopolizamos algumas que foram antes a veniaga de outros. E não é insignificante hoje o nosso tráfico e domínio no Oriente. Navegamos o Golfo Arábico e Pérsico e as costas da Pérsia. Fizemos nossas as mais das Molucas. Edificamos em várias ilhas : Taprobana, hoje Samatra [^nota-9], Java, a maior Tajovana ou Formosa e outras. Ficamos sabendo quais são as Sindas e Barussas de Ptolomeu. Entabolamos relações comerciais com os chins e japões. Mandamos frotas para aquém e para além do Indo e do Ganges. Conquistamos a Áurea Quersoneso ou [^nota-10]