História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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céu, dos ventos e do mar. Cada um deles preferiu afundar, com celeridade e furor, as naus contrárias a salvá-las, apresando-as. Cada um deles misturou com o próprio valor alguma coisa de temeridade e converteu em prudência o que o acaso oferecia. Batalhamos com tal felicidade que pouquíssimos caíram na luta, porque Nassau previra sabiamente que suas naus não abordassem as do inimigo para não serem metidas a pique pelo número de soldados contidos nas capitânias adversas. E assim, com avanços e recuos freqüentes, atacamos os contrários com reiterados canhonaços.Esta batalha, que só terminou ao pôr do sol, feriu-se junto à Paraíba, a duas milhas da costa. Aconteceu que a esquadra espanhola foi impedida pela hostilidade do mar e dos ventos para os confins setentrionais do Brasil, onde as correntes marinhas, dirigindo-se com grande rapidez para o ocidente, arrastam quaisquer navios sem que eles o queiram.Neste recontro foi derribado e partido pelas balas o mastro de uma das nossas naus, denominada o Cisne. Servia-lhe de bota-fogo Jacó Aldrich, soldado notável nos combates marítimos. Tendo-se inutilizado esta nau para a peleja, foi coagida a procurar defesa, ancorando-se. Conhecendo-se isto, lançaram-se contra ela doze naus grossas espanholas para a tomarem, pois se via impedida por causa do velame atrapalhado a caído. Vendo o nosso Almirante o perigo, mandou-lhe em socorro alguns navios, com cuja chegada largaram o Cisne seis naus espanholas. Travaram-no as demais, deitando-lhe os arpéus, e logo duzentos ou trezentos inimigos ocuparam-lhe como vencedores o convés e o castelo de popa. Aldrich, com o ânimo obstinado até os extremos da luta e com a fereza do seu caráter, expulsou-os virilmente, graças à covardia dos espanhóis e à indulgência da fortuna. A ousadia misturada com o desespero e a vergonha misturada com o temor foram os autores de tão brilhante proeza. De fato, cortadas as amarras que detinham a âncora, deu a nau nos parcéis e recifes da costa, para onde a seguiram, presas ao mesmo fado, quatro naus espanholas. Estas, porém, à vista do perigo, arrebentaram as cadeias e abandonaram o Cisne, deixando nele os camaradas, não já vencedores, mas prisioneiros. Consternados com este caso, parte deles saltaram ao mar e parte, buscando outro meio de salvar-se, pereceram numa luta cruel, ou trucidados a ferro ou tragados pelas águas.Uma quinta nau, capitaneada por Antônio da Cunha Andrade, comandante da esquadra de socorro enviada à ilha, ignorando que o Cisne encalhara no banco, abeirou-se dele por erro e, varando