História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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igualmente na areia, travou com ele peleja. Enraivaram-se ambos os vasos horrendamente e, de lado a lado, jogou a artilharia de tal modo, que os espanhóis, deitando às ondas as espadas que empunhavam, pediram quartel, suplicantes e acovardados. Trinta que se tinham precipitado nas águas, nadaram para serem salvos pelo nosso Cisne, posto que navio inimigo. Entretanto, embravecidos os ânimos dos marinheiros pelo calor do conflito, foram eles expulsos, degolando-os a sanha ou sorvendo-os o Oceano.Os marujos holandeses transportados pelo Cisne, retirando dele o que lhes podia aproveitar e saltando num batel, entregaram ao mar o bojo vazio da nau.Ensinou então a experiência, mestra de tudo, nada poder conseguir a destreza humana contra a violência e o ímpeto dos canhões. Logo depois puseram-se em batéis os espanhóis que a nau de Andrada levava em número de 230. Entre eles se achava o próprio Andrada, capitão da frota de socorro, quatro frades, dois capitães e outros tantos alferes e um médico.Calculava-se em 30.000 florins a presa de prata amoedada, lavrada e em barra, feita no navio, fora um colar de ouro e outros objetos subtraídos pelos marinheiros. O conde Maurício remeteu para a Holanda este Andrada, homem de inteligência cultivada e caráter afável, julgando pudesse ser útil à Companhia detê-lo ali algum tempo.

O Almirante exorta os seus a perseguirem a armada.

No dia 15 de Janeiro experimentou a mesma clemência dos ventos e do céu, soprando ainda o sul. Convocando então o Almirante os comandantes das naus, pronunciou estas palavras varonis: "Não deixeis escapar-vos das mãos a vitória. Está em fuga o inimigo, arrastado para sítios do mar hostis e temerosos pelo ímpeto de suas correntes. Praticareis ação digna de marinheiros, se vos quiserdes salvos e cheios de glória. Não deixeis de tentar nada por medo". E como visse a armada espanhola aproximar-se da costa, avisou por um iate ao governador do forte de Ceulen, sito às margens do Rio Grande, que estivesse alerta à chegada do inimigo e defendesse a sua posição.

Marcha de novo contra o inimigo

Depois, com extraordinária galhardia e descuidoso de todos os perigos, dando, como o permitiam as circunstâncias, a ordem da batalha onde podia, marchou de novo contra o espanhol. Sobreveio, porém, quando já estava próximo dele, tal calmaria, que as duas frotas se tornaram joguete das ondas e não consentiam ser governadas pelas velas e lemes. Durou ela até às 3 horas da tarde, em que cursou outra vez o vento. Para que a tarde iminente não