intenso era de parte a parte o furor da artilharia, que a cerração e a fumarada escondiam aos olhos o próprio céu e os inimigos.
Segunda batalha (13 de janeiro), entre Goiana e o Cabo Branco.
Durou este segundo conflito até tarde velha. Em relação à atrocidade da briga, houve do nosso lado poucos mortos ou feridos. O teatro desta batalha foi entre Goiana e o Cabo Branco.O nosso navio denominado o Louro Sol [^nota-253], feito pedaços pela artilharia inimiga, soçobrou com o coronel Mortemeer e 44 soldados. O capitão do navio, entretanto, e 34 marinheiros saltaram num escaler e, apesar de alvejados pelas contínuas descargas dos contrários, escaparam-se a salvamento.Por sobre as redes jaziam esparsos os cadáveres com os membros mutilados, espetáculo contristador, mas também glorioso.Ao narrar estes sucessos, vem-me ao espírito este pensamento: que o choque entre dois exércitos de guerreiros, assim armados, assim travados, não difere da luta das feras. Flamejam os olhos, empalidecem os rostos, o semblante descobre o furor, a voz ronqueja de raiva. Há uma grita louca de alucinados. O homem inteiro é de ferro e minaz e cruento. Estrondeiam as armas, fulminam as bombardas, trovejam os canhões, não menos horrendos que os verdadeiros trovões, porém mais funestos. E que rictos em cada um, que frêmito, que crueza, que embates furiosos, que mescla tumultuária, que cruéis alternativas dos que tombam e dos que trucidam, cadáveres amontoados, amuradas e toldas escorrendo sangue ! E é de maravilhar que, nascendo homens para sermos humanos, mansos, bons e brandos, nos tenha algum deus ou algum acaso impelido a desembainhar, intrépidos, o ferro mortífero uns contra os outros, em todas as campanhas, em todas as armadas. E, todavia, somos arrastados por uma necessidade superior a estas matanças humanas por amor da liberdade, da religião, do poder ou das riquezas, sendo um heroísmo e um dos maiores títulos de glória arriscar a vida para afastar dos filhos e das esposas, dos altares e dos lares, a violência, e dilatar os términos do próprio poderio.
Terceira batalha junto à Paraíba - 14 de janeiro
Ao amanhecer do dia seguinte, ajudados os holandeses pelo vento do sul, acometeram terceira vez a armada espanhola, que navegava desfavoravelmente.O Almirante Huyghens, inaugurando dignamente o seu novo posto, meteu-se entre as duas capitânias de Castela e de Portugal, pois julgava pouco lutar com um só adversário. E pelejou-se aí com tal ferocidade que se ignora quem foi mais feroz. Cada um dos comandantes valia-se doutamente da sua perícia náutica, do