História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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contra a violência, e bem assim à conta dos matos e sítios arenosos, que se julgavam de proveito para os nossos, e também em razão dos rios, cobertos de pontes e de navios para remessa de socorros, acaso necessário em alguma parte.Corria o mês de dezembro, quando passou a armada espanhola à vista da costa austral de Alagoas, onde lançou ferro junto ao rio de S. Miguel, indo os marinheiros fazer aguada nas suas lanchas [^nota-250].

Mansfeld com forças posta-se em terra.

Neste tempo, postara-se o major Mansfeld, com algumas forças, em certo passo, a seis léguas do litoral, ordenando-lhe o Conde que, ao avistar a esquadra espanhola, se retirasse ele com o seu destacamento, porque não estava ali garantido por nenhumas fortificações para resistir aos contrários. Não obstante, lá permaneceu ele impertérrito oito dias e avisou ao Conde a chegada da frota e de seus tripulantes. Por se haver dito, falsamente embora, prepararem eles o desembarque, mandou Nassau que a nossa esquadra para ali se dirigisse em marcha acelerada, afim de acometer de improviso a armada espanhola ainda sobre as âncoras, e, se não a encontrasse, voltasse a sua primeira posição.Destarte, acendia-se simultaneamente a guerra marítima e a terrestre, e de um lado os soldados de terra, do outro os de mar, confrontavam, com a jactância militar, os seus riscos e deveres, e, diferindo nos desejos, cada um maldizia da própria sorte, e quem militava em terra desejava a milícia naval, e quem militava sobre as águas invejava a milícia campal.

Nossa armada faz-se de vela.

Apenas dera à vela o nosso Almirante, favorecido pelo vento do norte, quando parou diante de Barra Grande, enseada muito cômoda para os navios. Entanto, declinando o dia e já fazendo escuro, receou explorar o porto e proejou de madrugada para ali, onde supunha encontrar a frota adversa e ensejo de combate. Levado, porém, ao rio de S. Miguel, topou somente com quatro navios menores, os quais transportavam aparelho bélico para os batalhões que se conduziam por terra. Os nossos iates os impeliram para a costa e para os parcéis.

Ano de 1640.

Partida a armada, julgando que, por estar uma parte do nosso exército em Alagoas e a outra em Porto Calvo, deveria o Conde achar-se em outro lugar e com forças menores.Favorecendo outra vez o vento, toda a esquadra holandesa, a 1° de Janeiro de 1640, estava surta nos portos de Pernambuco, atenta a todas as eventualidades, para que nem escapulisse o inimigo nem desembarcasse impunemente. Anunciou-se então que