História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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nhóis, portugueses, biscainhos, bretões, holandeses - recrutados no norte e até na Europa inteira. Nem era de achar na Espanha tantos entendidos de mareação. Havia condes, príncipes, cavaleiros, pertencentes à flor da nobreza espanhola, alegres de se lhes deparar ensejo de provarem ao seu rei, como alguma luzida façanha, a sua fidelidade. Quase ninguém tinha dúvida de se subjugar e recuperar o Brasil Holandês. Diziam, com efeito, que os batavos, lutando com falta de soldados e de mantimentos, em vão sustentariam o embate de tantos veteranos, afamados já em várias campanhas e em várias expedições navais.Durante o ano inteiro permaneceram as naus ociosas nas estâncias, sem tentar nenhuma hostilidade. A causa desta demora era a espera de tropas suplementares mandadas vir do Rio de Janeiro e de outros lugares, por terem morrido na travessia três mil homens, atacados de peste junto à chamada costa do Cabo Verde, na África.

Interceptam-se cartas dos espanhóis

Neste entrementes o nosso Almirante, andando ao pairo junto à Baía com dezoito naus, apresou um transporte carregado de açúcar e interceptou maços de cartas escritas pelo Conde da Torre, capitão general da armada, e por altas patentes do exército espanhol. Elas inteiraram Nassau das condições dos inimigos, do poder da frota, dos contratempos por eles sofridos e dos planos do rei. Informavam que toda a armada constava de 46 naus, sendo 26 os galeões; que contara 5.000 homens de armas, tendo perecido 3.000 na viagem pelo ar pestilento da África, e que os demais, levados enfermos para a Baía de Todos os Santos, definhavam e morriam. Continham entre as instruções do rei que, apenas chegasse a armada ao Brasil, fossem logo desembarcados os soldados nas vizinhanças de Olinda, fechando-se todo o mar para os holandeses e cruzando alguns navios o Oceano para insidiarem as embarcações vindas da Holanda.Havia entre os holandeses do Brasil tal penúria de mantimento e de petrechos bélicos que, se os reveses do mar e a malignidade dos ares não tivessem assolado a armada, e se Deus, a nós propício, não lhe tivesse frustrado os planos, seria lamentável e próximo da ruína o estado da Companhia.O inimigo, entretanto, aplicava-se sem descanso a reparar a frota, alistava com a maior diligência os íncolas aptos para a milícia, procurava reforços por toda a parte, e fortalecia os soldados enfermos, calculando que em Agosto seguinte, feita junção com as tropas de Bagnuolo, desembarcaria no continente 5.000 homens