História dos feitos praticados no Brasil, durante oito anos sob o governo do ilustríssimo Conde João Maurício de Nassau.

Escrito por Barleus, Gaspar e publicado por Fundação de Cultura do Recife

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da costa, Olinda, Cabo de Santo Agostinho, Santo Aleixo, Rio Formoso, Porto Calvo, Alagoas, Itamaracá e Paraíba, pondo-se ao pairo, atentas em descobrirem a armada. Não sendo ela avistada, voltou o Almirante ao Recife para juntar a si outras naus e ir mais forte contra o adversário. Logo foi o Conde informado por prisioneiros baianos de que a frota espanhola, tendo-se feito ao mar a 15 de Setembro, voltara para a Baía, depois de assegurar a alguns navios mercantes a navegação para a Espanha e de conduzir para o Morro de S. Paulo [^nota-246] dois galeões que reclamavam concertos. Diziam que das praças do Rio de Janeiro tinham sido enviados socorros e muitos bastimentos, esperando-se também do Rio da Prata algumas naus e de Portugal novas tropas, e que assim, estava prestes a cair sobre nós toda a violência da guerra, vindo os portugueses recobrar as suas perdas.É, pois, tempo de levarmos para o largo toda a armada espanhola, apercebida para restaurar o Brasil e destroçar os holandeses. O rei de Espanha, com efeito, julgava, seria morosa a guerra feita no Brasil com expedições terrestres, organizadas de quando em quando, não se ressarcindo os prejuízos públicos com incêndios alternados de fazendas, engenhos e casas, que são danos de particulares. Por isso, aprestando poderosíssima armada, semelhante àquela comandada pelo duque de Medina Sidonia, com a qual outrora, no reinado de Isabel, atacara Filipe II a Inglaterra [^nota-247], determinou acometer o litoral do Brasil sujeito aos holandeses e, em vez de enfraquecê-los com uma luta arrastada e lenta, esmagá-los como sob uma alude guerreira, reunindo as forças de terra e mar.Nesse intento, não havia muito ajuntara, nos portos da Espanha, Portugal, Galiza e Biscaia, elevado número dos maiores vasos para tentar fortuna no mar. Havia a esperança de que, destroçada e vencida a esquadra holandesa, se franqueariam todos os portos brasileiros e seria fácil recuperar-se a terra, vedando-se a nós a entrada nas baías e costas.

Descrição da armada espanhola.

Eram as naus da armada espanhola de estupendo porte, formidandas pela artilharia e pelo efetivo de soldados e marinheiros. Chamavam-se galeões, cujo costado são pranchas emalhetadas, numa espessura de cinco palmos e mais, quase impenetráveis às balas de canhões de vários calibres. Transportavam uns 800, outros 600, quais 500 homnes, tanto de peleja, como de mar. Passando junto ao litoral de Pernambuco e da Paraíba, entraram na Baía de Todos os Santos e lançaram ferro a 16 de Janeiro de 1639. Eram muitos mil marinheiros, de várias nacionalidades, - espa