História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Os Estados queriam, ainda, para mais facilmente dispor de livros, estabelecer uma impressora para servir a uns e a outros; além disso, mandariam ensinar aos jovens de uma e outra nação desses selvagens as nossas artes mecânicas, a trabalhar, cultivar a terra e ganhar sua vida, como pessoas livres. Queriam distribuir o país em porções que seriam atribuídas a cada um, como Remo e Rômulo fizeram em Roma. Mandariam buscar do Oriente as árvores da noz moscada, do cravo da índia, da canela, da pimenta e outras especiarias, para plantá-las ali e fazê-las crescer. Fariam buscas cuidadosas das minas de ouro e de prata que existem nos desertos e regiões estéreis do Brasil, que ainda não se teve oportunidade de descobrir para explorar, uniriam e associariam sob sua autoridade o comércio das suas Índias do Oriente com os do Ocidente, com o que a Companhia dessas mesmas Índias, cujos Senhores têm sede e residência na Batávia, jamais quiseram concordar. Torná-las-iam conexas e dependentes uma da outra e estabeleceriam para este efeito um Conselho soberano em Haia, o qual teria a direção e governo dessas duas belas conquistas. Fariam do Recife, pela vantagem de sua situação, um depósito geral, onde desceria tudo que viesse da Europa, a fim de ser distribuído pelas praças da África que lhes pertencessem e nos países do Oriente, ao mesmo tempo que receberia tudo que lhes fosse enviado de rico e curioso desses lugares distantes, a fim de mandá-lo para a Holanda.Conquanto essas coisas não parecessem dizer respeito senão ao esplendor do Brasil, pretendiam eles tornar considerável e melhor dilatar a opulência em todos os lugares sob seu domínio por este comércio público dos diversos produtos que a terra lhes proporcionava, de um modo ou de outro.Não obstante, isso era apenas a sombra de seus grandes objetivos, que visavam a um vôo e arrojo mais altos, pois sob o pretexto desse famoso tráfico, que lhes serviria de capa, ninguém levantaria dúvidas sobre a quantidade de navios e homens que lançariam ao mar quando quisessem, fazendo crer que os dispersariam por Santo Eustáquio, Ilha da Terra Nova, que possuem pelo Brasil, por Angola e pelos seus países do Oriente. Tinham-se proposto reunir uma grande e poderosa frota no Recife, praça que consideravam, e de fato era, a mais segura e favorável à sua empresa, que mantinham e manteriam bem secreta, e lançariam de improviso, sem que ninguém descobrisse nada; em certo dia premeditado, como se estivessem indo uns para lá e outros para cá rumariam para o Norte, para o Maranhão, aí desembarcariam e iriam subjugar Cartagena e o Reino da Terra-Firme do Rei da Espanha, onde estão todas as minas de prata que lhe fornecem tantos tesouros. Todos os anos teriam o cuidado de enviar navios com aparência diferente dos holandeses, a fim de se tornarem menos suspeitos, poderem rondar os mares e as costas daquele país e auscul-tar a opinião do povo; sempre relataram que havia diversas entradas fáceis de abordar e muito poucos fortes.Os espanhóis, mergulhados nas delícias e prazeres do mundo, pensavam que jamais seriam atacados, não estavam preparados para a guerra e não cuidavam de ficar vigilantes, sendo assim fácil surpreender esse povo e tornar-se dono do país com menos dificuldade do que se tivera no Brasü.Os Estados Gerais também tinham entrado em combinação, desde longo tempo, com o Rei do Chile, situado a mil léguas ao sul do Recife, além do estreito do Rio da Prata, um dos confins do Brasil. Mandavam-no visitar uma ou duas vezes por ano, forneciam--lhe freqüentemente armas para expulsar os espanhóis que estavam de posse de uma parte do país e tinham feito nascer uma guerra entre eles, com o fim de melhor ocupar os espanhóis desse lado. O Chile é um reino temperado, de terreno fértil e abundante como a França. Este rei não queria outra coisa senão ver-se obedecido; quanto aos holandeses, ali faziam um bom amigo e desejavam enviar-lhe algumas tropas, a fim de obrigar o Rei da