juramentos e promessas jamais lhes merecerão fé.De fato, eles bem mostram que têm razão de ressentir-se vivamente da traição que a nação portuguesa lhes fez, e querem aproveitar o que lhes resta para justificar-se, pois, não contentes em estorvá-los no Brasil, atacam-nos ainda na Europa, por mar e por terra, e no seu próprio reino. E para melhor abalar todo o seu Estado, os Estados Gerais concluíram paz com o Rei da Espanha, grande inimigo do Rei de Portugal, aliando-se e juntando-se a ele para derrubar os portugueses em todos os lugares onde possa estender-se seu domínio. Além disso, estes mesmos Estados Gerais, nessa querela, atraíram a República e o Parlamento da Inglaterra, que também lhes declarou guerra em todos os lugares, de modo que o Rei de Portugal está a braços com estes três poderosos inimigos, os quais não o deixarão sem ocupação, tendo muito o que fazer para se conservar em guarda nos seus países; assim, não só deixará de enviar navios e frotas ao mar, as quais não poderiam resistir, como terá grande dificuldade em se garantir.Entretanto, aconteça o que acontecer, no estado a que presentemente a sorte conduziu e levou os negócios de que tratamos, os elevados e grandes objetivos há tanto tempo concebidos pelos Estados Gerais, vaidosos da prodigiosa felicidade de que se viam cumulados nos Países Baixos e nas Índias pelo menos encalharam, se não naufragaram. Eles não teriam convencionado nenhuma paz com o Rei da Espanha se não estivessem perturbados no Brasil e se permanecessem na sua posse pacífica. Sua intenção, depois do ano 1654, era não mais entregar a administração a particulares, mas governá-lo eles próprios, por um membro de sua corporação, tornar o comércio livre para todo o mundo, não exigir senão direitos e tributos módicos, fazer do Recife uma universidade da América, que seria a Academia de todas as ciências e artes, fundada com os impostos para a manutenção dos sábios que aí ensinariam as belas letras, tomando especial cuidado em transmitir conhecimento aos brasilianos e tapuias, cujos filhos teriam de estudar desde cedo, a fim de melhor e mais facilmente torná-los morigerados e capazes de instruir os seus nas ciências humanas e nos mistérios do cristianismo, a respeito do qual os brasilianos já tinham alguns princípios.
Louvor aos jesuítas.Os jesuítas são dignos de louvor por terem organizado uma ortografia que exprimia todas as palavras e dicções de sua língua, muito próxima da pronún- cia nativa, em letras de nossos caracteres, e foram os primeiros que os ensinaram a ler e a escrever. Os holandeses, depois, também sempre mantiveram pregadores e mestre-escolas para evangelizá-los e ensinar-lhes a religião cristã nessa mesma língua. Mas de todos, quem merece os maiores elogios, por ter conseguido os melhores resultados, foi um jovem ministro inglês que tinha sido criado, como os seus outros colegas, especialmente entre eles, desde a idade de seis até quatorze ou quinze anos, quando foi enviado à Universidade de Leiden, onde estudou algum tempo e se tornou teólogo; voltou ao Brasil e depois de seu retorno a esses povos traduziu-lhes o Velho e o Novo Testamentos, do texto original para a língua brasiliana, com o que eles testemunharam maravilhosa alegria, pois desse modo entendem inteiramente a história santa, desconhecida de todos os seus antepassados e entregam-se com prazer à sua leitura e a ouvi-la.Demônios acompanham incessantemente os brasilianos.Os Estados Gerais projetavam também levar pouco a pouco os tapuias ao conheci-mento de Deus, pela brandura e pelos mesmos meios de que se serviram em relação aos brasilianos, que diferem deles na linguagem e aos quais ainda não se pode dar nenhuma impressão da verdadeira religião, devido aos demônios que continuamente os acompanham nas matas e lugares solitários, fazendo-se temer e adorar por este pobre povo. Comunicam-se com eles todas e quantas vezes os seus feiticeiros e adivinhos os invocam para consultá-los no tocante ao passado, ao futuro e àquilo que julgam ter necessidade de saber.