História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Espanha a preocupar-se e mandar também algumas forças durante o período em que eles estivessem agindo em Cartagena.

Alianças feitas pelos holandeses.Deste modo, os Estados Gerais tinham planejado fazer do Brasil uma república muito rica, bela e poderosa, sem as lutas que ali se verificam presentemente. Pretendiam tornar-se o povo mais florescente e estimável do mundo com as grandes conquistas das ilhas e territórios que têm na Europa, África, América, Oriente, Ocidente, Setentrião, aquém e além da Linha, num e noutro hemisférios, o que esperavam conseguir sem grande trabalho, por meio de suas forças e das alianças que realizariam em todas as partes da terra, perfazendo mais de três mil léguas de caminho, desde a Holanda até a China, com o Rei de Marrocos, de Fez, do Congo, a Rainha de Angola, os persas e etíopes, os Reis de Java, da China, do Japão e o Rei do Chile, sem falar daquelas que têm na Europa, com quase todos os príncipes cristãos e repúblicas da cristandade e mesmo com o grão Senhor. Fariam das suas Províncias unidas, em virtude dos belos negócios que os seus súditos realizavam em todo o Sententrião até a Moscóvia e no Mar Mediterrâneo, um empório geral e incomparável de todas as coisas raras, preciosas, úteis e necessárias que se encontram em todos os cantos e partes do universo, com as inumeráveis variedades que pode produzir a terra.Mas neste momento em que eles recuaram tanto em relação a estes altos projetos e estão próximos da falência percebem aquilo de que gozavam no Brasil, agora desolado, e os funestos clarões da guerra, ateados não só nesse lugar, de que faziam tanta questão, como também nas índias, Oriente e África, onde os mesmos partidos procuram destruir-se. Para melhor se vingar do Rei de Portugal, entraram em acordo e concluíram uma paz com o próprio Rei da Espanha, sendo um dos seus motivos mais poderosos tratar de despojar aquele soberano de seu mais claro e belo rendimento. E ligaram-se mais estreitamente com os ingleses do que antes, e pelo mesmo motivo, devido à desgraça e à desordem sobrevin-das no Brasil.

Razões pelas quais os holandeses perderam o Brasil.Finalmente, e para conclusão deste relatório sem aprovar a traição do Rei de Portugal em relação aos holandeses e todas as outras que foram, são e serão praticadas por quaisquer povos ou nações, diremos, com os judiciosos políticos, que os Estados Gerais devem ser culpados por terem faltado às boas máximas que deviam observar para manter--se e conservar-se perpetuamente no Brasil. Deviam ter tido muito cuidado nisso, pois que lhes era tão importante. Assim, deviam ter ali sempre mantido um Conselho composto dos homens mais excelentes, de seu país, como aqueles que enviaram depois da desgraça, os quais teriam sabido manter boa ordem e polícia perfeita, estando munidos e prevenidos contra as perfídias dos portugueses, e não admitindo que os negócios importantes fossem confiados a pessoas de baixa profissão, que preferiam seu interesse particular ao público, os quais, por fim, pensando ter tudo ganho, tinham perdido tudo.Culpados foram também de não ter feito povoar o país à medida que o iam conquistando, pelos seus próprios súditos naturais; para esse fim, deveriam ter reunido um número suficiente de pobres e necessitados, enviando-os para ali, para onde desterrariam igualmente os proscritos e os homens de má catadura, repartindo com uns e outros as terras férteis, entre determinados casais. Deviam ter ali misturado os seus com os portugueses, assim como acertadamente fizeram os Reis de Portugal para povoá-lo, de modo que são os netos dos primeiros habitantes que ocupam o país e estão tão bem naturalizados e acostumados a prover-se somente com os frutos que a terra lhes dá, o que os holandeses não podem fazer, que raramente comem pão da Europa, apesar de fazerem deles tanta questão que o cobrem de açúcar, quando o encontram. Além disso, cabe-lhes a culpa de ter admitido