mais em estado de atacar, mas na defensiva; suas forças se tinham reduzido pouco a pouco, de diversos modos, e necessitavam de dez mil homens efetivos; com este número, os que lhes restavam e os tapuias e brasilianos de seu partido, que chamariam, poderiam sitiar a Baía de Todos os Santos e afastar os ocupantes dos arredores do Recife. Precisavam queimar a cidade de Olinda para cortar-lhes a retirada e lhes bastaria o Cabo Santo Agostinho para se restabelecerem, após o que iriam arruinar e assolar todo o país, desde a Bahia até o Rio de Janeiro. A menos, porém, que pudessem contar com um poderoso socorro, nada se poderia esperar se não se dispusessem a enviar-lhes forças suficientes, seria preferível ordenar que eles se retirassem a continuar a perder homens e bens.Decidida esta deputação, a dificuldade foi saber qual dos Senhores iria desempenhar a embaixada, pois cada um queria tomar a si a comissão. De todos, o Presidente Schonen-burgh era quem mais a desejava, não só para voltar, como porque jamais tivera a idéia de ali por os pés; preferia ter perdido trinta mil libras e nunca ter saído de Haia. Não podendo chegar a um acordo, chamaram os Políticos. Sua opinião foi que se enviasse o Senhor Haecx, o mais jovem dentre eles e o menos versado nos negócios de Estado, dizendo que o povo não permitiria o afastamento dos melhores, e se oporia ao embarque de qualquer dos outros três. Assim, tendo-se convindo que seguiria Haecx, tudo que era seu ficou pronto de um dia para outro. O Coronel Henderson, não muito estimado devido à derrota do Rio São Francisco, solicitou sua baixa, que lhe foi concedida. Meteram-se com Banckert em seu navio almirante, que partiu do Recife com cinco outros carregados de areia, em lugar de açúcar, soldados, pessoas doentes e inúteis para o serviço, judeus, particulares, prisioneiros portugueses, marinheiros, com provisões para dez semanas apenas, quando, ordinariamente, a viagem sempre levava, pelo menos, três meses.Em relação aos que queriam voltar, ordenara-se que mesmo os que tivessem obtido baixa não poderiam embarcar, salvo se tivessem inscrito seus nomes, com seis semanas de antecedência, numa lista afixada à porta do templo, para que o público fosse advertido da partida e fizessem prender os devedores e criminosos. Proibiu-se expressamente os capitães dos navios aceitar quem não constasse da lista, da qual lhes forneceram cópias, sob pena de responsabilizar-se pelas dívidas e pelos crimes dos que permitissem evadir-se, terem seus vencimentos confiscados, serem destituídos de seus postos e condenados a grandes multas. A todas as pessoas que se apresentassem sem constar da lista seria dada punição exemplar, teriam de pagar o dobro de suas dívidas, seriam presos por três meses e multados em trezentas libras.Para verificar se havia contravenção, antes dos navios desancorarem, o Procurador Fiscal, um Político e beleguins percorriam o navio de alto a baixo, examinando se ali se escondera alguém que não constava da lista, enquanto um deles ficava de guarda no convés. Aconteceu que um homem e uma mulher, sem licença e cujos nomes não estavam inscritos na lista, haviam embarcado em nosso navio, com o auxílio de alguns marinheiros, para regressarem; ao verem o Procurador Fiscal, pediram que os metessem numa barrica no fundo do porão e ali morreram asfixiados, por não ousarem sair; outra mulher, em cujo cofre, ao ser visitada, foram encontradas mil libras em moedas de prata, foi levada para o Recife com o mesmo, para assistir ao confisco desta soma para o erário, pois era expressamente proibido sair com qualquer quantidade de ouro ou prata do país, sob esta pena; os mesmos deviam ser consignados nas mãos do Recebedor, que daria uma letra de câmbio para o recebimento na Holanda, com juros de dez por cento.Levantadas as âncoras e desfraldadas as velas, Haecx, que mil vezes prometera voltar, para relatar ele próprio sua comissão e trazer o socorro, riu-se dessa promessa e disse que jamais voltaria. Nenhum de nós deixou de proferir o mesmo voto, encantados que
História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo