História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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ao pé dela, e dispararam sobre os túmulos três salvas de mosquete, querendo com isso mostrar que reparavam a injustiça feita a esses infelizes.

Holandeses punidos da mesma forma que tinmham punido os portuguesesÉ de crer que estas freqüentes e odiosas execuções não inspirassem amor aos soldados; mas o terror que experimentavam fez perder a muitos a vontade de fugir. Só os desesperados tentaram, sempre, escapar ao acaso. Tudo isso enfraqueceu muito as forças dos holandeses, contra os quais os portugueses, e sobretudo os que desertaram para o seu lado, conceberam um ódio implacável, por terem sido enforcados seus companheiros e por imaginarem que um dia poderiam ter o mesmo destino, caso pensassem voltar, sendo inútil esperar quartel para as tropas de Schkoppe. Eles próprios enforcavam, nas primeiras árvores à vista, os que se deixavam apanhar, vindo para isso expressamente espionar além do rio, quando os outros iam procurar lenha ou pescar.

Crueldade exercida depois da morte.Quanto às mulheres, contentavam-se em abusar delas, despi-las e mandá-las de volta sem camisa. Quando eram os tapuias então estes faziam bons repastos de homens e mulheres. Vindo do Recife um comboio de víveres para a guarnição de Afogados, os portugueses, escondidos nos arbustos à margem do rio, o atacaram no caminho, justamente entre os dois fortes da Cidade Maurícia, distantes um tiro de canhão um do outro, misturaram-se entre os holandeses, sem que as guarnições dos fortes ousassem atirar, com receio de ferir os seus, nem sair sem ordem, não sabendo se isso era para surpreendê-los. Houve uns cinqüenta mortos de um lado e de outro, mas no dia seguinte uns vinte tapuias escondidos no mesmo lugar e pensando pegar alguém, foram agarrados pelos negros do Recife, que lhes cortaram as cabeças, carregando-as espetadas em chuços pelo meio das ruas, cantando e dançando à sua moda, jogaram bola com as mesmas e depois lançaram-nas ao mar.O forte de Barreta quase foi surpreendido no mesmo dia pelos portugueses que, durante a noite, trouxeram duas peças de campanha para muito perto, as quais levantaram sobre uma bateria que fizeram atrás das árvores; e desde a alvorada até o meio-dia atiraram incessantemente sobre o forte e arredores, matando e ferindo mais de 60 soldados. Os do Recife acorreram por mar, mas os outros já se haviam retirado.

Bravata dos Estados GeraisAs Províncias Unidas dos Países Baixos não podiam prover tão bem nem tão prontamente o socorro desejado pelo Conselho do Recife, devido à divisão que ameaçava seus Estados. O Rei da Espanha, perfeitamente instruído de tudo que se passava no Brasil e do descontentamento dos holandeses, tinha enviado um embaixador a Haia, aos Estados Gerais, a fim de concluir paz com eles. Este foi muito bem recebido e acolhido, e três províncias estavam quase convencidas, mas a da Zelândia, sobretudo, opunha-se firmemente, protestando em alta voz que era preferível buscar a proteção da França a consentir nesse projeto. Diziam não querer paz nem tréguas com os espanhóis, temendo ser por eles traídos da mesma forma que seus compatriotas o tinham sido pelos portugueses no Brasil; eram os seus vizinhos mais próximos, e seriam os primeiros a serem surpreendidos. Os Estados Gerais ponderaram que esta paz lhes seria vantajosa, e saberiam bem prover ao seu bem-estar e manter a paz interna. Ser-lhes-ia fácil vingar-se do Rei de Portugal, reunindo o poderoso socorro necessário para a reconquista do Brasil; o Rei da Espanha se oferecia para ajudá-los e não pedia outra coisa senão contribuir para a destruição daquele príncipe desleal. Mas os Estados particulares da Zelândia, não se convencendo com tais razões, persistiram em declarar que impugnavam e impugnariam tudo que se fizesse no tocante a essa paz. Os Estados Gerais disseram a estes deputados que deviam saber que eles constituíam o navio da República, sendo os zelandeses apenas a chalupa; mandariam inundar todo o seu país se os zelandeses continuassem a manifestar