História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Perda no mar de 6 navios holandeses.Umas três semanas depois dessa proeza, vieram ancorar no Recife mais nove navios da Holanda. Eram embarcações particulares e não da Companhia, absolutamente incapaz de fornecer qualquer socorro ao Brasil. As tripulações não desceram à terra e estes navios cruzavam o mar incessantemente para bater os portugueses, porque os Estados Gerais lhes haviam concedido as presas que fizessem, esperando que lançariam ao mar uma poderosa frota. Isso obrigou os Senhores a reenviar para a Holanda, de um mês para outro, os navios alugados à Companhia, e uma parte daqueles que lhes pertenciam, tendo o melhor deles vintes anos, apesar do Almirante, dos mestres dos navios e dos carpinteiros os julgarem incapazes de retornar sem evidente perigo, dada sua velhice. A impaciência de cada um fazia-os entregar-se ao desamparo; além disso, era necessário ter amigos para embarcar, e encontrar o meio de perder-se. Seis desses frágeis navios da Companhia e aqueles que neles estavam afundaram no caminho, sem que jamais se soubesse deles qualquer notícia.

Traidores enforcados. Acusações feitas pelos franceses aos holandeses antes de morrer.Enquanto isto, os navios particulares operavam prodígios no mar do Brasil. Raramente aprisionavam aqueles que se encontravam nas caravelas portuguesas apreendidas e que se lhes entregavam incondicionalmente, salvo os que suspeitavam ter importância ou haver, no passado, servido aos holandeses. Como só visavam ao lucro nas capturas que realizavam, o que lhes parecia oneroso era jogado ao mar. Soube-se, realmente, que depois de terem escolhido, de cinco navios portugueses, sucessivamente apreendidos, o mais belo e o melhor com que carregaram os seus, que não estavam providos apenas de víveres e munições de guerra, os particulares da Holanda jogaram os portugueses vivos no mar, puseram a pique os navios e partiram à caça de outros. Algum tempo depois, encontraram-se com o Almirante Bankert, aliaram-se a ele e, juntos, atacaram e tomaram, na altura da Linha, quatro outras caravelas portuguesas carregadas de açúcar, que vinham da Baía de Todos os Santos e se dirigiam para Portugal. Na abordagem morreram 120 portugueses e uns 50 holandeses. Estas caravelas foram, com os prisioneiros, conduzidos para o Recife, e entre eles reconheceram-se 50 soldados que tinham estado ao serviço da Companhia e haviam desertado para o lado contrário; uma boa parte deles eram franceses, e estavam sendo reenviados a Portugal a fim de deixar-lhes a liberdade de irem para os seus países, conforme lhes fora prometido nas proclamações espalhadas em Recife e outros lugares. E eis que, quando julgavam ter obtido sua salvação, foram presos e entregues àqueles que se gloriavam de ter abandonado. Este grupo de desventurados, a quem foi impossível evitar o golpe do destino, foi todo enforcado e estrangulado numa semana, e seus corpos atirados no monturo. Muitos desses miseráveis ainda tiveram bastante coragem para declarar publicamente, nos últimos momentos, as razões e queixas que não tinham ousado exprimir enquanto exerciam função militar. Acusaram altaneiramente os holandeses de terem, de todas as maneiras, falseado suas promessas, por conseguinte, eles próprios não tinham obrigação de manter as suas, pois tinham sido enganados em primeiro lugar. Haviam abandonado seu próprio país para vir servir, com risco de sua vida, uma nação estrangeira e conquistar para ela um país distanciado 2.000 léguas do de seu nascimento; muitas vezes tinham afrontado a morte, tinham-se exposto a muitos perigos, vertido seu sangue, coberto seu corpo de feridas, tinham gasto os mais belos anos de sua vida a combater e vencer seus inimigos, sofrido os rigores e misérias da guerra, as inclemências do clima e as calamidades do tempo, e, em lugar de verem reconhecidos seus trabalhos e seus padecimentos, tinham sido desprezados e tratados como animais. Não quiseram escutar suas queixas e súplicas, não lhes deram socorro com base em seus salários nas suas doenças, fraudaram seus vencimentos e as porções de víveres prometidos, e não justificavam os que os pilhavam debaixo dos seus olhos. Em lugar de três anos de serviço, período para o qual haviam sido engajados na Holanda, eram forçados a triplicar e quadruplicar aquele prazo e, no final de contas, nada