do Rio Grande e da Paraíba, que encontraram afastados no interior, onde se julgavam se-guros, fazendo farinha de mandioca: mataram-nos, queimaram os engenhos de açúcar e casas campestres desde o Ceará até além de Goiana, próximo da cidade de Olinda, o que significa que devastaram cerca de duzentas léguas do país e de lá se retiraram para uma regi- ão entre o Recife e o Cabo Santo Agostinho.
Choque dos holandeses e portugueses em Itaparica. Assalto pelos portugueses do forete holandês em Itaparica. Morte de 400 portugueses.Logo depois aportaram ao Recife sete navios da Holanda, dos quais cinco tinham sido alugados por mês pela Companhia, num derradeiro esforço, incapaz de equipar um número maior, nos quais estavam uns 500 soldados e o Sr. Haus, antes general, que fora aprisionado por André Vidal, levado para a Bahia e mandado para Portugal com diversos outros oficiais, tendo de lá passado à Holanda e voltado ao Brasil. Asseguraram que a Companhia carecia de meios e abandonaria tudo se os Estados Gerais não tomassem a si a defesa do país. Os recém-chegados foram logo enviados a Itaparica, onde poucos dias depois, com o resto dos outros holandeses, formando ao todo 600 homens, quiseram sair para combater sob o mando de Schkoppe. Mil portugueses, entretanto, se lhes opuseram e os obrigaram a retirar-se apressadamente; uns vinte foram mortos e quarenta aprisionados, entre os quais alguns que se reconheceu já terem sido presos ali uma vez e enviados a Portugal, tendo voltado, os quais foram presos em quatro quartéis na Baía de Todos os Santos. Sabendo, por intermédio daqueles a quem pouparam a vida, que Schkoppe não chegava a ter 1.200 guerreiros, estando os outros doentes e incapazes para os embates da guerra, que esperavam logo um poderoso socorro e não dispunham de muitos víveres, o Vice-Rei resolveu mandar assaltar o forte. Incumbiu da chefia dessa empresa Hoogstraeten que, acompanhado de 3.000 homens que tinham passado à ilha, aproveitou-se das trevas e neblinas, para atacar vigorosamente este forte dos holandeses, por dois lugares. O general Schkoppe, que não se deixava surpreender, pois exercia contínua vigilância e atenção, estava pronto para resistir-lhes, defendeu-se valorosamente durante duas horas e rechaçou os inimigos. Estes, percebendo o alvorecer e temendo que o sol fosse testemunha da sua vergonha, retiraram-se, com a perda de 400 homens que ali pereceram, fora os feridos. No forte houve apenas 60 mortos e feridos.
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Escapulários usados pelos portugueses.Mas o que ocorreu de notável e não convém esquecer foram as grandes folhas de papel encontradas sobre os estômagos desses cadáveres, nas quais estavam pintados mosquetes, fuzis, lanças, alabardas, chuços, espadas, setas e flexas que os brasileiros carregam sempre com suas armas, servindo-se dos mesmos em combate, encontrando-se, entre outros, diversas cruzes pequenas e grandes entremeadas com a letra H; e embaixo dessas folhas de papel estavam escritas frases em latim contra as armas holandesas, que chamavam armas heréticas, e cujas figuras não eram ali representadas, para não ofender os soldados que as carregavam com fé sobre eles. Certamente este sortilégio visível e engenhoso só foi introduzido para os poltrões, aos quais não se pode animar senão persuadindo-os facilmente de serem invulneráveis com este escrito; os mortos não teriam tido esta fé e a firme confiança exigida por tais cartazes, para que a virtude que lhes era atribuída operasse. Eis uma invenção da tola superstição para sempre manter-se em crédito e não desgostar ninguém e da qual possivelmente se distraíram no calor do combate. Schkoppe foi tão amável, que mandou de volta uma parte deles a seus inimigos, a fim de que os colocassem de novo em seus soldados poltrões, de modo que, de futuro, ele não tivesse de combater senão soldados valorosos, por artifício ou naturalmente; os restantes foram levados para o Recife e para a Holanda, sendo entregues aos Estados Gerais, como uma raridade singular.