História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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tratamento que acaso lhe fosse dado. Diziam que não se podiam queixar dos holandeses, a não ser da apreensão em que estes os mantinham de fazê-los morrer, caso algum mal acontecesse ao seu ministro, e pediam-lhes que lhe dessem toda razão de contentamento, a fim de que eles também a tivessem. O Vice-Rei e o Superior do convento franciscano da Bahia, após a leitura destas cartas, fizeram sair o Ministro Stetten do sombrio quarto onde estava detido incomunicável, e onde era obrigado a observar não somente as vigílias, as têmporas, as abstinências de cada semana, mas muitos outros jejuns não ordenados pela Igreja. Mandaram-no ao Palácio, onde lhe foi dada liberdade de andar pelas ruas, proibindo-se sob pena de morte, que o injuriassem ou atacassem; em lugar da prisão, alojou-se em casa de um burguês, com a mesma ração que a de um tenente de companhia de soldados, podendo freqüentar a Mesa do Paço quando quisesse, em casa do Vice-Rei ou no convento. Ele logo comunicou esta notícia aos Senhores do Conselho, à sua mulher e aos próprios franciscanos, congratulando-se com eles por lhe terem proporcionado essa felicidade, e lhes foi dado tratamento semelhante. Algum tempo depois ambos requereram sua permuta pelo ministro, ou pagarem resgate, o que não se lhes quis conceder, a menos que se trocasse um por um somente; eles disseram, porém, que não podiam separar-se e preferiam ficar, se não obtivessem liberdade juntos.Schkoppe e seus homens tornaram-se senhores absolutos da ilha, e para ali melhor se firmarem construíram um forte (que chamaram Real) à beira da margem, do lado da Bahia, ao abrigo do qual estavam ancorados seus navios; alguns destes se conservavam sempre à espreita da saída ou entrada de caravelas na Bahia, não ousando ir procurá-las no canal, devido à artilharia dos fortes, enquanto outros cruzavam o mar aqui e ali, na esperança de caçar navios inimigos. Lichthart morreu nessa ilha de doença natural, muito apressada por Baco, do qual era valente campeão; seu corpo foi inumado em Recife, sendo sua morte muito sentida pelo povo devido à sua coragem e maestria do mar, e pelo seu zelo na defesa de sua pátria. Os da Bahia, temerosos de vizinhos tão perigosos que os impediam de mostrar-se, não ousavam sair, nem ir e vir com tempo claro, belo e sereno, só se aproveitando das estações tempestuosas e cheias de procelas, durante as quais era impossível a batalha no mar. Resolvidos que estavam a expulsar pela força os holandeses da Ilha de Itaparica, aí desembarcaram uma noite, aproveitando-se da escuridão, 1.500 homens em barcas, patachos e escaleres e estes se entrincheiraram na outra extremidade da ilha, de onde os holandeses não conseguiram expulsá-los. Daí em diante houve escaramuças diárias e mortos de um lado e de outro; muitos dos soldados de Schkoppe iam entregar-se aos seus inimigos, sendo bem recebidos e mandados para a Bahia. Escreveu-se aos do Recife, que presenciavam a mesma coisa, e cada vez que a guarda era rendida, verificava-se que alguns tinham escapado, os quais atravessavam para o outro lado do rio quando a maré estava baixa. Três infortunados jovens soldados, ou melhor, crianças, pois o mais velho contava 16 anos, foram surpreendidos quando fugiam e foram enforcados juntos; um deles era filho de uma personagem muito opulenta da cidade de Ruão, o qual, nessa idade de volubilidade e falta de juízo sem procurar outro conselho que o de sua cabeça, tomou de seu pai todo o dinheiro que conseguiu tirar-lhe e, sem dizer adeus a ninguém, aproximou-se de um marinheiro e deu-lhe três pistolas, a fim de que o escondesse num bergantim da Holanda que deveria partir dentro de dois dias, prometendo-lhe, ainda, pagar sua passagem. Seu pai não o encontrando, e tendo ouvido dizer que ele queria viajar por mar, mandou procurá-lo por toda parte e visitar os navios onde ele se fizera esconder, mas sem nenhum êxito; quando ele chegou à Holanda, depois de ter gasto todo o dinheiro em extravagâncias, alistou-se na frota de que se falou, para vir ao Brasil esposar uma forca. Mais que qualquer outro, ele tentou por meio de todas as submissões sugeridas pelo desejo de viver, até o seu último momento, convencer os Senhores que o perdoassem pela sua