[pagina ]prisioneiro para a Baía de Todos os Santos.Quando Schkoppe soube do ocorrido, foi obrigado a modificar seu plano e esperança de abrir caminho nos arredores de Recife para Henderson que, segundo pensava, iria atrair as tropas. Provado que era vã sua esperança, procurou dirigir seus esforços no sentido de obter uma diversão de forças, indo acometer à Baía de Todos os Santos por mar, do mesmo modo que o Recife o era por terra, procurando causar-lhe toda espécie possível de contratempos.Nesse meio tempo, Henderson, cujo procedimento tinha sido recriminado, recebeu ordem de permanecer ainda durante algum tempo no Rio São Francisco com os 600 ho-mens que lhe restavam, apesar dos inimigos aí se haverem tornado mais fortes e quando o mais simples da parte dos holandeses seria evacuá-lo. A barca que ia levar-lhes víveres foi apreendida pelos portugueses no caminho, com os que a guarneciam, quando estavam distraídos a comer frutas na margem; foram todos mortos, com exceção de um ancião, que soltaram, a fim de ir dar a notícia. Os 2.500 homens retidos em Recife foram embarcados tanto em navios que cuja vinda do Rio São Francisco foi providenciada, como naqueles que estavam no porto e partiram com Schkoppe e o Almirante Banckert.Os que se encontravam na cidade de Olinda e no Cabo Santo Agostinho pensaram, ao vê-los no mar, que eles iam reforçar o pessoal de Henderson, conforme o rumo propositadamente espalhado por determinação dos que partiam. Avisada a Baía de Todos os Santos, muitos daí e de todos os lugares acorreram ao Rio São Francisco, mas Schkoppe surpreendeu-os onde eles menos esperavam. Toda a frota foi ancorar realmente no Rio São Francisco e aí se deixou ficar durante alguns dias, a fim de que todos os portugueses que ali queriam vir tivessem tempo de chegar. Depois, de repente, navegou para a Ilha de Ita-parica, a vinte léguas dali, três léguas em frente da Baía de Todos os Santos, uma légua da embocadura do canal que conduz ao porto da Bahia, em cujas bordas e do lado da terra há 17 fortes bem construídos. Desembarcou nessa ilha de cerca de quatro léguas de perímetro e que era bem povoada, fértil e cheia de riquezas. Logo de entrada os soldados não pouparam nenhuma vida; mataram até as mulheres e crianças, pilharam tudo e só foram proibidos de provocar incêndios. Os dois mil habitantes da ilha pereceram, uns passados a fio de espada e outros afogados nas barcas e botes em que tumultuadamente, se atiraram à chegada dos holandeses, a fim de fugir para a Baía de Todos os Santos.Vingaram-se, assim, os holandeses da perda que tinham antes sofrido no Rio São Francisco. Alguns dos habitantes de maior consideração, bem como dois frades francis-canos, foram aprisionados e levados para o Recife. Sabendo os portugueses que o Ministro Joducus e Stetten* estava em seu poder, vinham gritar para os que se encontravam no Recife e no Rio São Francisco que o queimariam e que ele jamais tornaria a pregar, pelo que sua mulher, desconsolada e inconsolável, não conhecia mais repouso. Os Senhores do Conselho mandaram dizer aos frades franciscanos que o mesmo tratamento dispensado ao seu Ministro, bom ou mau, lhes seria aplicado, e que ambos sofreriam o mesmo gênero de morte que lhe fosse dado, sem perdão; se cuidavam conservar-se, deveriam escrever para que não causassem ao Ministro Stetten qualquer dano, e que se atentasse para sua qualida-de, a fim de que os holandeses, por sua vez, atendessem à sua. Os franciscanos não se fize-ram rogar duas vezes e comunicaram diligentemente ao Vice-Rei e ao Superior do seu convento o seu infortúnio, fazendo-lhes saber que sua vida estava à mercê de seus inimi-gos, que lha fariam perder por meio dos mesmos suplícios que fossem infligidos ao seu Ministro, que era seu prisioneiro, havendo também promessa de não ficar abaixo do bomNo texto, ministro Astette. (L. B. R.)
História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo