aos quais os tapuias jamais tinham pedido soldo, e pelos quais muitas vezes se tinham exposto. Quanto ao ouro e à prata, nada tinham a fazer deles e teriam mandado entregá-los se lhes tivessem falado nisso. Em todo caso, se Jacó Rabbi tivesse de ser castigado, devia--se ter seguido o costume dos holandeses; em vez disso tinham-no assassinado, quando poderiam facilmente mandar prendê-lo. Gostavam dele mais que de cem outros; apesar disso agradava-lhes ser sempre amigos dos holandeses, mas faziam questão de obter Garstman para matá-lo.Os Senhores lhes responderam que Garstman era oficial superior e não tinham o poder de entregá-lo, nem mesmo de condená-lo à morte soberanamente, a não ser por crime de Estado; do seu julgamento havia apelação para os Dezenove, sendo preciso ouvir Garstman antes de condená-lo; mas podiam ficar certos de que se faria boa justiça àqueles que tinham matado Jacó Rabbi, fato que lhes trouxera muito descontentamento. E, para mostrar-lhes que manteriam sua palavra, mandaram vir Garstman, que foi encarcerado em sua presença, e os Senhores do Conselho disseram aos Políticos que desejavam participar do conhecimento dessa questão. Os delegados dos tapuias, no entanto, voltaram descon-tentes para os seus, por lhes ter sido recusado Garstman, e disseram, ao partir, que os ho-landeses se arrependeriam.
Notar o termo usado pelo autor.Garstman foi depois interrogado, negou ter matado ou mandado matar Jacó Rabbi, acusou dois soldados da sua companhia, que tinham sido os instrumentos; estes foram tão apertados que confessaram o crime, dizendo ter sido mandados por Jacques Boulan, seu alferes. Boulan foi igualmente preso, e confessou que cumprira ordem de Garstman, seu capitão e general; este, acareado, negou tudo redondamente e disse a Boulan que ele era um impostor. Os dois soldados, mediante a confissão de Boulan, que os tinha eximido de culpa, foram soltos; os outros dois continuaram presos. Enquanto os Juízes debatiam esta delicada questão esperando alguma prova certa de qual desses dois devia ser acreditado, Garstman dizia que um oficial poderia assim imputar ao seu general a autoria de seus crimes; Boulan, ao contrário, alegava que um general, abusando de sua autoridade, faria depender dele a vida e a morte de seu oficial, empregando-o em vingar o seu ódio sob algum pretexto especioso de guerra e quitando-se depois pela negativa; se tivesse recusado a cumprir ordem seria demitido e proclamado poltrão; de outro modo seria preciso introduzir tabeliões e testemunhas para lavrar atas das ordens, mandados secretos e outros que se dão num exército. Afinal, foi descoberto que Garstman e Boulan se tinham manco-munado para mandar matar Jacó Rabbi, e tinham dividido a presa. Confiscaram-se todos os seus bens e soldos e eles foram demitidos de seus cargos, banidos do Brasil e reenviados à Holanda como schelmes, isto é, como pessoas indignas. Antes de tentar a fortuna das armas, que não prometia muito aos holandeses, este novo Conselho teria bem desejado, esquecendo todos os males passados, reconduzir os portugueses pela doçura à sua obediência, o que tentaram fazer mediante a publicação e afixação de diversos editais; neste, pretextando compadecerem-se de tanto sangue derramado, e ainda prestes a ser derramado no Brasil, pelo mau procedimento de alguns de seus súditos e a rebelião de outros, e dizendo que poderiam mandar passá-los a fio de espada, mas não o faziam porque se inclinavam mais à misericórdia que ao rigor, e queriam proporcionar a todos uma vida feliz e fazê-los retornar à antiga prosperidade, perdoavam e anistiavam todos os portugueses e todos os outros que, forçados ou voluntariamente, se tinham sublevado e pegado em armas contra o Estado, desde o passado até aquele momento, se, dentro de quinze dias, voltassem ao cumprimento do seu dever e se apresentassem para pedir perdão e novamente jurar que guardariam fidelidade. Prometiam restabelecê-los e manter a todos na posse de seus bens, com exceção de João Fernandes Vieira, Antônio Cavalcanti, Dirk Hoogstraeten e Amador de Araújo, autores da revolta e