História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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no lugar daquele que estava em exercício havia seis anos. Os antigos magistrados tinham mais vontade de voltar do que os novos de empreender esta viagem, pois acreditavam firmemente espantar os portugueses pela sua presença, restaurar tudo logo que chegassem e, assim, eternizar a sua memória; tiveram, todavia, bastante tempo para reconhecer o seu erro e penitenciar-se desta presunção.Estes senhores, em número de cinco, foram escolhidos dentre os mais entendidos na ciência e experiência de governo e administração de suas boas cidades, suplicando-se-lhes que aceitassem esta comissão. Eram os seguintes: o Senhor Presidente Schonenburgh, tirado expressamente do corpo dos Estados Gerais, o Senhor Van Goch, magistrado e pensionista da cidade de Vlissingen, deputado ordinário da Província de Zelândia às assembléias dos Estados Gerais, o Senhor van Beaumont, advogado fiscal da cidade e região de Dordrecht e do curso do Mosa, todos três possuidores de singular virtude e probidade, peritos nas letras e na arte de administrar, que possuíam ainda conhecimento completo das línguas clássicas e das vulgares em uso na Europa, tendo viajado, na sua mocidade, por todos os Reinos e Províncias da Cristandade; para adjuntos, a fim de verificar as contas da Companhia, os Senhores Haecx e Trouwels,* notáveis comerciantes da cidade de Amsterdão; para secretário o Senhor l'Hermite, advogado da cidade de Delft, filho do grande piloto 1'Hermite, que fez a circumnavegação da terra.A este Colégio concederam o privilégio de intitular-se nobres poderosos, para distingui-los dos outros que não eram chamados senão nobre nobreza; tal qualidade de nobres poderosos jamais tinha sido outorgada senão aos Estados Particulares das Províncias Unidas, pelos Estados Gerais, que se fazem honrar, em termos superlativos, de Altíssimos e Poderosíssimos. Sob a sua obediência, para chefe dos guerreiros, em terra, foi nomeado o Senhor Sigismundt Schkoppe, alemão que já servira ali como general, do qual falaremos adiante, homem valente e generoso, mas que tinha fama de cruel. Pediram-lhe que demonstrasse maior doçura e cordialidade em relação aos soldados que anteriormente, a fim de melhor obrigá-los, pela sua amizade, a permanecerem fiéis e a bem cumprir o seu dever. Como chefe da guerra no mar seguiu o Senhor Banckert, ** almirante da Zelândia, comandante das costas dos Países Baixos, feito almirante dos mares do Brasil e de Angola. Embarcaram todos ao mesmo tempo, enquanto as cidades, fortalezas e navios dos portos destas províncias exprimiam seus votos de nos verem sair felizmente nesta nossa empresa, disparando enorme quantidade de tiros de canhão no momento da partida desta grande frota que montava a cinqüenta e dois navios.De todas as frotas enviadas da Holanda ao Brasil não consta, absolutamente, que al-guma tenha tido tantos contratempos quanto esta, que serviu de perpétuo joguete às in-constâncias tempestuosas do mar, durante o espaço de seis meses que levou no trajeto. Tendo partido na pior estação do ano para a navegação, viu-se, também, exposta a diver-sos acidentes, e dois dias depois da nossa partida, as grandes tempestades que se elevaram com o vento contrário fizeram-nos ancorar e estacionar na enseada das dunas da Inglater-ra, em frente a Newhaven,* que não era segura e estava exposta a todas as tormentas. Como as âncoras não se pudessem firmar bem na terra, as rudes sacudidelas das ondas fizeram romperNo texto, Troire. (L. B. R.)No texto, Baucher Rodolfo Garcia (História Geral do Brasil, de Varnhagen, III, 52, nota 92), baseado no Barão do Rio Branco, dá a grafia correta, Banckert, e atribui o erro à má interpretação do manuscrito de Moreau pelo impressor.No texto, Nieuport. José Honório Rodrigues, em nota à Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil, de Joan Nieuhof (São Paulo, 1942, p. 258, nota 364), dá o nome correto: Newhaven. (L.B.R.)