fazê-los voltar à posse de suas conquistas; insistiu em tomar a si o encargo de mandar-lhes entregar os autores da sedição e reparar com os bens dos mesmos os danos sofridos. Mas foi inútil essa arenga fraudulenta dirigida por este Embaixador a estes sábios e avisados republicanos, na crença de que eles não estavam exatamente informados de tudo, ignoravam que o seu discurso estava repleto de dissimulação, mentira e dolo, e que suas ofertas e proposições se baseavam apenas na astúcia e no embuste. Sem dignar responder-lhe, os Estados Gerais mandaram a S. Majestade Cristianíssima queixa da perfídia e ingratidão do Rei de Portugal, que lhes devia tantas obrigações, e que após terem eles empregado tantos cuidados e seus próprios tesouros para elevá-lo, os recompensara tomando, covardemente, as suas praças do Brasil, corrompendo os governadores e exercendo mil barbadas sobre os seus súditos, por pura traição, com violação da paz geral jurada entre eles no ano de 1641, pelo que se viam obrigados a declarar-lhe a guerra. S. Majestade mandou-lhes dizer que se tratava, no caso, de negócios particulares, como eles próprios haviam alegado no passado, quando fora a tomada de Angola. Que o Rei de Portugal negava ter jamais consentido, aconselhado ou mandado fazer quaisquer desordens, e oferecia-se a empregar os seus ofícios a seu favor e diligenciar para obter-lhes desagravo, era muito importante para estas duas potências soberanas, como para toda a Europa, que as mesmas não se tornassem inimigas e fossem guerrear aqui por causa de um país tão distante; em lugar da quebra desta união, desejada pelo espanhol, inimigo comum de todos três, seria preferível imitar os franceses e ingleses, que não obstante os distúrbios e dificuldades surgidos entre eles na Terra Nova não deixam de viver em boa paz na Europa e em nada alteram seu mútuo comércio, embora, de um lado e de outro, estes dois povos enviem as forças que lhes aprazem para bater-se ali, sem que isso lhes traga aqui a menor contenda; os Estados Gerais e o Rei de Portugal deviam fazer o mesmo, tratando, no entanto, de acomodar-se e dar o direito a seu dono.Os Estados Gerais resolveram não anuir a este conselho, mas sim vingar-se e pedir satisfação mais cedo ou mais tarde ao Rei de Portugal, por todos os meios que então se apresentassem. Julgaram, porém que ainda era prematuro tocar em tal ponto, pois antes precisavam fixar as máximas que observariam e também aguardar as explicações que lhes prestariam os portugueses. Não retiraram, portanto, o seu Embaixador de Lisboa e o de Portugal não se mexeu de Haia, nenhum deles provocou o outro em mar ou em terra, nem houve descontinuidade no comércio além da linha equinocial. Visando, porém, a não perder tempo nem deixar escapar um país tão belo e tão grande, que lhe queriam subtrair contra a fé prometida, os Estados persuadiram a Companhia das Índias Ocidentais, à qual ainda restavam alguns fundos em caixa, a equipar uma frota de cinco ou seis mil homens que, segundo a informação dos Senhores do Conselho, seria mais do que suficiente para se restabelecerem em toda parte e baterem os rebeldes; as melhores praças ainda lhes per-tenciam e, como indenização, ser-lhes-ia mantido por quinze anos o arrendamento para a posse do Brasil, de modo que se pudessem reembolsar. Para tornar-lhe mais fácil o engajamento de homens, foram despedidas vinte e cinco companhias do corpo de seu exército, dos quais a maior parte, com o que se pode reunir em cada regimento e por todas as cidades, em número de quatro mil homens efetivos (sem contar os marinheiros e pessoas li-vres), foram alistados, sendo os navios para embarcá-los fretados e aparelhados às expensas da Companhia.A Frota ficou pronta para partir em novembro de 1645 e marcou-se o encontro dos navios no Porto de Vlissingen; sobreveio, porém, uma queda extraordinária da temperatura, todos os portos gelaram e os navios aí ficaram retidos pelo espaço de três meses. Vindo o degelo, a frota singrou os mares no começo de fevereiro de 1646 e nela seguiu, também, o Colégio do Alto Conselho do Governo da Conquista do Brasil, nomeado e pro vido
História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo