Dias, Camarão e Martim Soares * sitiaram o forte de Serinhaém, comandado pelo Capitão françês la Montagne e anteriormente pelo Tenente Van Loo, intimaram-no da parte do Rei de Portugal a render-se e capitular; surpreendido, não tendo em sua companhia senão quarenta soldados, sem víveres, pólvora ou chumbo, e sem esperança de socorro, foi obrigado a entregar-lhes a praça, saindo a salvo com a sua tropa e voltando para o Recife em duas barcas que lhe concederam. O povo, desencorajado por este acidente, gritava que era preciso mandar voltar Haus e seus homens, pois não tinham capacidade para enfrentar o inimigo.Quando esta frota, da qual se falou, se viu avançada no mar, uns jogavam a culpa sobre os outros de nada terem feito e diziam que para isso não fora preciso aparecer diante do Recife. Como não se pudessem por de acordo, uns seguiram por despeito para Portugal com o galeão real e os outros foram levados pelo vento a passar novamente em frente do Recife e ancoraram na Baía da Traição, onde, tendo alguns ido a terra, um deles foi apri-sionado por brasileiros que o conduziram para a Paraíba. Soube-se por intermédio deste que a esquadra portuguesa desembarcara mil e duzentos homens em Tamandaré, além de três companhias da Baía de Todos os Santos que tinham vindo encontrá-los por terra, sem contar o pessoal de Camarão e Henrique Dias, e que eles só tinham ancorado diante do Recife para induzir os habitantes, pela sua presença, a pegarem todos em armas.
Haus surpreendido. Haus atacado por 2000 portugueses.O General Haus, que estava a três léguas do Recife, recebeu ordem de recolher as suas tropas aos fortes; mas porque tivesse demorado demais a obedecer, à espera do Capitão Blaer, que procurava por toda parte mulheres portuguesas para aprisioná-las, aconteceu que na noite seguinte vieram dizer-lhe que o inimigo estava muito perto. Desprevenido de sua segurança e da de seus homens, que eram cerca de quinhentos, foi rudemente atacado à meia-noite por dois mil portugueses comandados por André Vidal; os brasilianos, que compunham quase a metade dos homens, fugiram levando alguns outros e só duzentos sustentaram o choque durante algum tempo. Estes, quando viram que tinham morrido uns trinta dos seus e que havia outros tantos feridos, pediram tréguas, que lhes concederam, sendo todos aprisionados; Haus, o Capitão Blaer e outros oficiais foram levados para a Bahia, ficando os soldados retidos entre eles. Todos os portugueses, radiantes com estas vantagens, entoavam gritos de "Viva o Rei de Portugal". Quanto aos holandeses que estavam no campo, estes tiveram de recorrer às praças-fortes, abandonando-o aos seus adversários, que não mais os deixaram sair livremente dos lugares em que se tinham refugiado. As passagens do Recife foram bloqueadas por meio de emboscadas, mantidas permanentemente, de noite e de dia.
A farinha de mandioca é um alimento nocivo.Na Paraíba, os brasileiros que restavam se reuniram no Forte Santa Margarida, mas logo estranharam o pão e a carne que lhes distribuíam, assim como aos soldados, de que precisavam para viver. Queixavam-se de que essa alimentação os tornava doentes e fazia-os morrer, que teriam preferido a sua farinha de mandioca. Esta causa aos europeus, quando se alimentam sempre dela, o mesmo efeito: ataca e ofende o estômago e, com o correr do tempo, corrompe o sangue, muda a cor e debilita os nervos.Os habitantes do Recife, privados de todo socorro dos campos, de frutas e de re-frescos, até de água doce, que mandavam apanhar, antes, além do rio salgado, nas fontes da terra firme, cavaram buracos e poços em volta de Maurícia e de seus fortes, mas aí só