curiosas árvores de pau-brasil, palmeiras, ébano, cedro de madeira branca como a neve, de madeira de cor violeta e marmorada e outras perfumadas que embelezavam as espaçosas e extensas avenidas, a perder de vista, que cercavam a soberba e magnífica casa de recreio mandada construir pelo Conde João Maurício; os judeus lhe haviam oferecido pela mesma com os seus pertences, seiscentas mil libras, para aí fazer a sua sinagoga, o que o povo impediu, invejoso de vê-los possuir o mais belo edifício do Brasil, para nele celebrar seus sabats. O grande e incomparável pomar, que o Conde Maurício mandara plantar e encher de árvores frutíferas, procuradas em setecentas ou oitocentas léguas do território, feitas vir da África e das índias Orientais, foi inteiramente arruinado, assim como as grandes cavalariças e agradáveis pavilhões, construídos no centro e nas extremidades das aléias e nos cantos do pomar. Também foi destruído o jardim, admirável pela grande variedade de flores em todas as estações. A parte principal do edifício, que esteve prestes a ser arrasada, permaneceu intacta, e julgou-se mais adequado ali estabelecer um corpo de guarda, do que perdê-la. Trabalhava-se também assiduamente na reparação das brechas e estragos nas muralhas e fortes de Recife, decorrentes da negligência anterior, quando, para cúmulo do terror, viram ancorar na sua enseada uma frota portuguesa de trinta e quatro velas, cujo almirante era D. Salvador Corrêa de Sá e Benavides*, seu navio era um poderoso galeão real, munido de sessenta peças de ferro fundido, que viera do Rio de Janeiro com vinte e um outros navios; os restantes eram da Baía de Todos os Santos.Lichthart, Tenente-Almirante dos holandeses, só dispunha de cinco navios, bem próximo do porto; imediatamente mandou içar as velas, desfraldou a bandeira vermelha, em cujo centro estava representado um braço nu tendo na mão um alfanje, sinal comum de provocação ao combate, avançou pelo mar e mandou dizer ao almirante português que ele tinha de orçar visto que estava a sotavento. Este mandou responder por dois delegados enviados ao navio de Lichthart que ali estava para socorrê-los e não para bater-se com eles; com este propósito já desembarcara algumas tropas em Tamandaré, enviara cartas aos che-fes e principais rebeldes para chamá-los ao seu dever e que, se não o fizessem, tinha ordem do Vice-Rei para forçá-los a isso. Lichthart, sem retrucar, conduziu-os para o Recife numa chalupa. Aí, tendo sido ouvidos pelos Senhores, o Conselho comissionou dois Políticos para irem encontrar-se com o almirante português e examinar a sua ordem, ver suas cartas e indagar de que modo pensava agir, visto que não dera aviso algum de sua vinda. Um ou-tro navio, que estava no porto, esforçava-se em sair, não obstante o vento contrário, a fim de ir juntar-se aos outros cinco de Lichthart. A frota portuguesa prestou-lhes então aten-ção e ficou tão fortemente espantada que, sem esperar a volta de seus delegados, levantou as âncoras e singrou em direção ao norte.Os delegados portugueses meteram-se com os de Recife numa barca e seguiram o navio almirante para juntos conferenciarem; mas este corria sempre na frente, e não lhes foi possível alcançá-lo. Fizeram, pois, entrar os portugueses numa caravela de sua frota e a barca voltou ao Recife, onde foi preso um navio da Holanda que ali tinha vindo fazer aguada para dirigir-se às Índias Orientais; dividiram com eles os seus víveres e munições de guerra e mandaram-no guardar por algum tempo a entrada do porto.Lichthart e seus navios foram no encalço da frota fugitiva, tomaram uma caravela que tinha se separado do grosso e levaram-na para o Recife. Os portugueses, em compen-sação, tiveram outra vitória em terra: dois mil homens, tanto vindos da Baía de Todos os Santos como habitantes da região, comandados pelos Coronéis André Vidal, Henrique*No texto, Salvador Correa de Bonavides. (L. B. R.)
História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses
Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo