História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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O nome completo é Francisco Godinho. Vide nota 238 na edição de José Honório Rodrigues, da Memóravel Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil de Joan Nieuhof. São Paulo, Martins, 1942, 129. (L. B. R.)

Este, logo que entrou em Ipojuca e alojou os seus homens, como não desejasse matar senão aqueles que encontrasse de armas em punho, proibiu aos soldados perseguirem as mulheres, crianças e os que se tinham escondido, procurando convertê-los pela clemência. Mandou afixar na aldeia (e os Senhores do Conselho mandaram-nos também para toda parte) bandos de anistia geral a todos aqueles que se tinham acumpliciado, aderido ou consentido na rebelião, exceto João Fernandes Vieira, Antonio Cavalcanti e Amador de Araújo, autores, se dentro de oito dias voltassem às suas casas e prestassem novamente o juramento de fidelidade.Alguns portugueses fugitivos, sabendo que o levante tinha sido muito precipitado e que era preciso, antes, esperar a frota e socorro da Baía de Todos os Santos, que não esta-vam retardados senão devido às grandes chuvas, voltaram às suas casas e livraram-se medi-ante a promessa de jamais fazê-lo de novo. Haus enviou de todos os lados patrulhas para descobrir o troço de portugueses armados; no entanto, três navios dos sete que estavam na Paraíba foram levar à Holanda notícia do perigo em que estava sua conquista no Brasil.Vieira, Cavalcanti e Araújo, principais autores da sedição, tendo sabido que eles es-tavam excluídos da anistia geral prometida pelos bandos, mandaram publicar em Maciape* aldeia onde já estavam fortificados, proclamações nas quais, atribuindo-se a qualidade de protetores da liberdade divina, prometiam doações, presentes e liberdade de consciência àqueles que, sendo do partido holandês, de qualquer nação, religião e condição que fos-sem, viessem enfileirar-se ao seu lado. Em conseqüência disso, os Senhores do Conselho puseram a prêmio as pessoas e vidas de João Fernandes Vieira, Antônio Cavalcanti e Amador de Araújo, prometendo àquele ou àqueles que os trouxessem vivos, três mil libras para cada um deles; aos que os matassem ou trouxessem suas cabeças, mil e quinhentas libras e outros privilégios; e, se fosse um escravo, a sua libertação.Cerca de duzentos habitantes do Recife pegaram em armas e, sob o comando do Capitão Blaer, internaram-se no país a fim de surpreender os chefes dos motins; aí comete-ram diversas hostilidades, pilharam as casas dos que tinham voltado sob a promessa de anistia, mas não tinham vindo apresentar-se outra vez, nem prestar novo juramento, de-pois foram juntar-se ao General Haus e, juntos, perseguiram os inimigos que recuavam..Apesar dos murmúrios e boatos que circulavam há muito tempo a previdência dos senhores foi tão insuficiente no mar quanto em terra: no porto do Recife havia, então, um único navio e um patacho. Neste enviaram como deputados os capitães Vander Voorde e Dirk van Hoogstraeten ao Vice-Rei de Portugal, D. Antônio Teles da Silva, que estava na Baía de Todos os Santos. Referiram-lhe o levante dos portugueses da conquista contra os seus soberanos e senhores, os Estados Gerais e a Companhia das Índias Ocidentais; dis-seram-lhe que tinham sido informados de que fora ele que os induzira à rebelião e enviara Henrique Dias e Camarão para fomentá-la; que, entretanto, mal podiam acreditar com que ânimo eles ousariam violar e contrariar a paz feita por intermédio de S. Majestade Cristi-aníssima entre o Rei de Portugal e os Estados Gerais; o Vice-Rei devia antes ponderar que, ao contrário, era obrigado a recusar-lhes auxílio, exortando-os ao respeito e à obediência, e que eles, os holandeses assim procederiam em caso semelhante. De outro modo uma ação tão covarde desonraria o seu Senhor, ele e sua nação; os Senhores dos Estados Gerais disso se ressentiriam, fariam arrepender-se aqueles que visavam traí-los; e ele não devia ignorar que os holandeses possuíam força e poder para vingar-se de tal afronta.No texto, Maliapes. Correção feita seguindo Varnhagen, História das Lutas com os Holandeses no Brasil desde 1624a 1654. Lisboa, 1872, 271. (L. B. R.)