História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Frederica, a três léguas do mar, à margem do Rio Paraíba, e mandou que todos os brasileiros se retirassem e abandonassem suas aldeias, porque os portugueses tinham partido, ordenou que quatro navios voltassem ao Recife, mas o vento contrário jogou-os no Rio Grande, a sessenta léguas além para o norte.Os nossos portugueses, tendo sabido que a sua empresa sobre Recife, Paraíba e Rio Grande estava descoberta, quase morreram de desespero; a populaça gritava que estava perdida, não podia evitar que se tornasse miserável. Entretanto, não havia mais nenhum meio de voltar atrás, visto que a coisa estava muito adiantada; seus chefes e principais, que tinham recorrido aos meios extremos, prometeram vitória dentro de três meses, despa-charam homens para Camarão e Henrique Dias, a fim de apressá-los a chegar a Pernambu-co, indo eles e seus escravos esconder-se novamente no mato.O lugar em que estes portugueses se sublevaram primeiramente e espalharam sangue foi na povoação de Ipojuca, a seis léguas do Recife e a uma légua do Cabo de Santo Agostinho, onde, no dia 20 de junho de 1645, estando o povo reunido na praça e entre eles um jovem judeu, o atacaram por meio de palavras e disseram-lhe que os judeus é que haviam difundido que eles queriam revoltar-se. Sabendo que nada de bom lhe adviria dali, sem perder tempo em escutá-los ou responder-lhes, confiou-se às suas pernas, sendo perseguido com gritos de "Viva o Rei de Portugal"; os soldados de um reduto situado na extremidade da povoação que se divertiam com o espetáculo, assustaram-se e recolheram-se com o judeu ao Cabo Santo Agostinho. Neste mesmo momento, todos os de Ipojuca pegaram em armas e marcharam em grupo pelo campo, comandados por Amador de Araújo, promovido por Vidal. Sua primeira façanha foi matar sete marinheiros holandeses recém-chegados, numa barca que pilharam; apunhalaram três judeus que residiam entre eles e lhes vendiam quinquilharias, erigiram diversas forcas e cadafalsos, a fim, diziam, de executar aqueles que se recusassem a pegar em armas a serviço do Rei de Portugal.

O Senhor Haus, Tenente-Coronel do Conde Maurício, aramado para a defesa dos holandesesO Conselho do Recife não teve mais tempo de remediar, como teria desejado, a desgraça que iria esmagar a sua conquista nem muito lazer para arrepender-se do desprezo testemunhado pelos avisos que lhe haviam sido dados de todas as partes; agora a razão não era mais oculta e era preciso castigar os rebeldes pelas armas. O Senhor Haus, Tenente-Coronel do Conde Maurício, foi nomeado General da milícia. Reuniu habilmente quinhentos homens, tanto dos que estavam a seu serviço como outros que tinham levado armas, misturou entre eles bra-sileiros, com eles percorreu o campo e dirigiu-se para Ipojuca, visando a abater os revoltosos. Quando chegou a Tabatinga, aldeia a meia légua dali, um português chamado Godinho* simulando fidelidade e temendo estar perdido, veio perguntar-lhe para onde ia. Haus respondeu que ia desbaratar os rebeldes. Este português, procurando impedi-lo de avançar, sugeriu-lhe que voltasse, pois os outros eram em muito maior número e o derrotariam. "Não importa, replicou o General, quero vê-los e é preciso que tu, que falas, também venhas". Depois foi para Ipojuca, onde aqueles que o viram aproximar-se tocaram o sino a rebate, a fim de fazer que todos pegassem em suas armas; em lugar, porém, de esperar e resistir, fugiram para o mato e os bosques. Godinho foi estrangulado numa das forcas que ele próprio mandara erguer para aí executar os que se recusassem a pegar em armas pelo Rei de Portugal; o conselho que dera visava apenas a dar tempo aos inimigos de formar um grupo considerável, enquanto Haus se retirasse.