História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Senhores do Conselho por meio de presentes e os Políticos pela demonstração, feita com uma reserva assustada, de que estariam todos perdidos e reduzidos ao desespero se fossem tratados rigorosamente. Pediram uma renovação de suas dívidas, mediante pagamento dos juros, sugerindo que talvez agradasse mais à Companhia das Índias encarregar-se de todas essas dívidas, pagar aos seus credores e fazer cessar as suas perseguições caso em que eles se obrigariam por suas pessoas, seus bens e a colheita geral do seu açúcar, então próxima, sob estas ou outras condições que ela estipulasse.Os Senhores do Conselho mandaram reunir os credores, aos quais comunicaram esta proposta, ponderando-lhes a inconveniência de fazer-se pagar de uma só vez, tanto mais que isso era impossível, pois não havia dinheiro e o açúcar não estava pronto para ser fabricado; se quisessem perder alguma coisa, eles lhes assegurariam seus créditos. Os comerciantes, de boa ou má vontade, assentiram no contrato, que foi passado, pelo qual os Senhores do Conselho, em nome da Companhia e responsabilizando-se por ela, obrigaram-se a pagar as dívidas dos portugueses a seus credores, que se contentariam com setenta e dois por cento das dívidas velhas, que existiam há mais de um ano, e com cinqüenta e oito por cento das dívidas novas, as quais seriam compensadas com as importâncias devidas por estes credores à Companhia; quanto aos que não fossem devedores da Companhia, estes receberiam apenas cinqüenta e oito por cento, de modo geral, pelas dívidas velhas e novas. O pagamento lhes foi feito por meio de ordens e saques contra os tesoureiros e recebedo-res da Companhia, os quais, em lugar de dar-lhes dinheiro, como se lhes havia feito espe-rar, obrigaram-nos a aceitar negros e escravos de Angola pelo preço que valiam publica-mente. Se algum deles queria receber dinheiro era forçado a vender ou ceder seus saques a outros, a vinte libras por cento, dinheiro à vista, e desta forma os comerciantes perdiam oitenta libras por cento e ainda ficavam os vendedores caucionados e obrigados a restituir aos compradores as somas que tinham recebido, caso estes não conseguissem recobrar coisa alguma da Companhia.Os portugueses, de sua parte, vincularam particularmente a colheita de seu açúcar à Companhia, prometeram não vendê-lo nem cedê-lo a ninguém antes de estarem inteira-mente quites com ela, sem qualquer abatimento. Os Senhores do Conselho imaginaram extrair daí um lucro inestimável, quer de uns, quer de outros, e não obtiveram nenhum, por não terem sabido penetrar a intenção dos portugueses, de cujos atos tinham todos os motivos para desconfiar. Afinal, tendo-se estes posto a coberto por algum tempo, a pror-rogação serviu-lhes não para pagar com maior facilidade, mas para frustrar inteiramente a Companhia, como veremos.Logo que o Vice Rei teve notícia do teor desta convenção e que os portugueses não estavam mais receosos de serem molestados nem visitados pelos meirinhos, para encorajar estes habitantes e prepará-los para a revolta, enviou-lhes por terra soldados que se disper-saram aqui e ali. Um senhor de engenho de Serinhaém, não possuindo espírito faccioso, apesar de ser português, veio expressamente ao Recife a fim de avisar os Senhores do Con-selho que em sua casa tinham passado vários homens armados vindos da Baía de Todos os Santos, que se gabavam de esperar ver o Brasil em pouco tempo sob um só dono. Foram estes mesmos que levaram a João de Pontes, que tinha ido encontrá-los, a ordem concebi-da pelo Vice-Rei e por André Vidal, que devia ser obedecida para se apoderar do Recife, da Paraíba e do Rio Grande, pois uma vez tomadas estas praças, teriam as outras e o próprio país. Com este propósito estava resolvido que se casaria a filha de Antônio Cavalcanti, homem muito rico, com o filho de um homem da sua condição; as bodas se realizariam no dia de São João Batista, do ano de 1645, na casa de João Fernandes Vieira, e o banquete seria célebre e dos mais magníficos, devendo comparecer todos os portugueses de posição e convidados os Senhores do Conselho ou Políticos e outros oficiais holandeses. Após