e não razoáveis. Do mesmo modo, os corretores da Companhia que em seu nome comerciavam tudo, até chapéus, casacos, gibões, tecidos, camisas, colarinhos guarnecidos de rendas, vinho, cerveja, aguardente, manteiga, queijo, azeite, gordura, farinha, etc., entregavam-nos a crédito aos portugueses por somas prodigiosas, pagando-se depois em açúcar, algodão, gengibre, fumo, tomados ao preço que queriam. O pau-brasil era privativo da Companhia, que mandava cortá-lo e extrair o alburno pelos seus escravos, daí tirando grandes lucros. O Alto Conselho declarou também que lhe pertenciam todos os tesouros, rebanhos e presos escondidos nas matas e pelos campos, os cavalos (que se aproximam em excelência dos da Espanha, mas não podem ser utilizados na guerra, devido à dificuldade dos caminhos), os bois, vacas, carneiros, porcos, cabras e outros animais domésticos abandonados pelos portugueses mortos ou que se tivessem retirado para o lado da Baía de Todos os Santos.
Infame invenção dos holandeses para tirar dinheiro dos portuguesesEntão os portugueses sujeitos ao domínio holandês, aos quais era estritamente proi-bido, pelo medo que se amotinassem, ter em suas casas pólvora de canhão ou espingarda de fogo, vinham, freqüentemente, apresentar amargas queixas contra aqueles que iam re-buscar seus domicílios, porque estes próprios enviados, diziam, costumavam jogar secretamente pólvora nos recantos, obrigando-os a desembolsar grandes somas com medo de serem acusados e, em face da denúncia, serem condenados e feitos prisioneiros, como acontecera a diversos. Os oficiais e soldados, tanto das guarnições quanto do campo, mostravam-se também descontentes, pelo fato de os comissários, em lugar de distribuir-lhes os víveres para a sua ração de cada semana, conforme eram encontrados nos armazéns, escolherem os melhores para vendê-los aos portugueses e não lhes fornecerem senão os deteriorados e adulterados, indo de preferência buscá-los ou trocá-los em casa dos particulares. Era um grande favor a todos os assalariados da Companhia adiantar-lhes em víveres ou em di-nheiro alguns meses de seus salários, contados ao triplo: a maior parte deles, oprimidos pe-la necessidade, não dispunha de outro socorro senão vender e ceder aos burgueses ou aos judeus, por dinheiro à vista, os adiantamentos de seus serviços de dois, três, quatro ou cinco anos, pela quarta parte do que lhes era devido. Embora não se engajasse ninguém se-não por três anos, os que haviam servido dez a doze anos eram despedidos pura e simples-mente; o insuportável é que, depois de já terem embarcado para voltar, com muito bom passaporte, se acontecia naufragarem, os navios muito velhos, pela falta do piloto ou por outro qualquer acidente, ou a encalhar ou a ser tomados por piratas ou por inimigos, re-cusava-se, na Holanda, àqueles que tinham tido a felicidade de"escapar do perigo, o pa-gamento e a recompensa de seus salários, porque (dizia-se-lhes) não tinham sabido conser-var o navio que lhes fora confiado, donde a Companhia perdia mil vezes mais do que eles. Os ingleses, porém, faziam reparar esta injustiça aos de sua nação: justificavam por bilhe-tes (que lhes eram dados em Recife) seu tempo de serviço e os salários prometidos e deti-nham o primeiro navio holandês ancorado em seus portos, não o deixando sair antes que o mestre tivesse feito o pagamento devido; davam a este o recibo e seu recurso para a Companhia que era, depois, condenada a reembolsá-lo com juros. Os governadores de Dieppe e Calais imitaram, também, este procedimento em relação aos franceses, mas o fizeram rara e mais demoradamente. Os guarda-livros que deviam registrar os nomes dos en-gajados ao serviço da Companhia, o dia e data de sua vinda e os adiantamentos que lhes eram concedidos faziam a escrituração em folhas separadas para poderem ser enriquecidos durante sua permanência no país, e praticavam mil velhacarias, enchendo os papéis de fal-sos pagamentos; depois de havê-los feito verificar pela câmara das compras e aprovar pelos tesoureiros, estes lhes davam saques contra os pagadores da Holanda e assinavam juntamente de acordo, após o que esses papéis faziam fé. Os soldados podiam depois gritar e jurar