de Olinda e passa entre a terra firme e a ilha ou dique do Recife, chamado o rio salgado, e aí construíram a Cidade Maurícia e diversos fortes aqui e ali, aproveitando destroços da cidade de Olinda, que fizeram em parte ruir, conforme se vê presentemente e se poderá melhor compreender pela descrição dada no começo deste discurso. Todo o campo foi assolado e os habitantes dizimados, não se lhes dando quartel; fugiam de todas as partes para as matas e praças fortes vizinhas.Antes que os castelhanos e portugueses que povoavam o país se dessem conta da situação e se armassem, e o Vice-Rei, que jamais havia previsto tal invasão e residia na Baía de Todos os Santos, cidade distante de cem léguas, desse suas ordens, iam chegando navios e mais navios da Holanda aos portos de Olinda e Recife. Estes caçavam os navios, galeões e caravelas da Espanha, carregados de açúcar e de valiosas mercadorias, sempre tomavam alguns e batiam por vezes as suas frotas, ao mesmo tempo em que impediam, pelos seus freqüentes cruzeiros, a comunicação por mar dos lugares situados ao norte e ao sul, isto é, do Rio Grande e Paraíba com a Baía de Todos os Santos, visto que estavam no meio do caminho, onde era preciso combater. Por terra, a comunicação era muito difícil; além disso, os reforços vinham sempre muito tarde, pois não podiam levar prontamente as notícias e transmiti-las num país onde o transporte se faz unicamente a pé, cheio de matas cerradas, freqüentemente inundado por grandes e profundos rios que é preciso passar a nado e guiar-se sempre pela bússola, algumas vezes num espaço de cem ou duzentas léguas.
Nova proposta feita aos Estados Gerais para ir conquistar o Brasil.Espalhara-se na Holanda o rumor de que o Brasil era o centro das riquezas, onde todos os soldados e marinheiros faziam fortuna, tendo capacidade para acomodar toda a Europa. Isso despertou a atenção dos principais comerciantes de Amsterdão, que a este propósito escreveram aos das boas cidades das Províncias Confederadas, reuniram-se e fizeram uma representação aos Estados Gerais, na qual diziam que tendo sido obtido tudo que já se possuía no Brasil por conta dos comerciantes, eles se ofereciam a continuar a conquista e estavam dispostos a equipar frotas inteiras e a armar tantos soldados quantos fossem necessários à sua própria custa, desde que se lhes garantisse a exploração da conquista que conseguissem ou viessem a conseguir, com todos os direitos, proveitos e rendimentos que daí pudessem retirar durante um certo número de anos. Condições em que esta proposta foi recebida. Como se chamou a sociedade que projetou esta vagem às Índias.Este pedido foi-lhes deferido pelo espaço de trinta anos, a começar de 1624 e a terminar em 1654, bem como o privilégio de nomear, prover, eleger e escolher todos os oficiais superiores e subalternos do governo, justiça, polícia, milícia e marinha, prestando por eles o juramento de fidelidade perante os Estados Gerais como a seus soberanos e obtendo deles confirmação, com a obrigação de manter os lugares, cidades e fortalezas e o que deles dependesse, os portos, pontes e passagens em bom estado, e mandar fazer os reparos necessários, demolir ou construir quando houvesse necessidade, pagar corretamente aos oficiais, soldados e todos os que estivessem a seu serviço, administrar boa justiça a seus súditos, mandar instruir os brasilianos e tapuias no conhecimento de Deus e da religião cristã, etc., com a condição de que, no fim dos trinta anos, ao entregar o país a seus soberanos, seriam reembolsados do valor de todos os seus navios, canhões, munições de guerra, equipagem, dinheiro empregado na construção de fortes, muros, casas e armazéns públicos existentes.
O Príncipe de Orange foi seu chefeA sociedade dos comerciantes e particulares foi chamada Companhia das Índias Ocidentais, a qual se dividiu em câmaras em cada boa cidade livre, cada uma com seus administradores próprios e tendo todas juntas por diretores gerais dezenove personagens dos mais opulentos, e como chefe honorário o Príncipe de Orange, a fim de prestigiá-los com