História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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Os Estados Gerais das Províncias Unidas dos Países Baixos, não contentes de terem logrado grandes conquistas na Flandres contra o Rei de Espanha, resolveram fazer-lhe a guerra noutro pólo que o nosso. Mas antes de esforçar-se para atingir alvo tão generoso e obter um resultado feliz, era razoável que tomassem certas providências. Com este propósito, enviaram alguns navios para saber o estado do Brasil, que projetavam conquistar.Depois de sua volta, reconhecendo que a empresa não traria somente glória, mas também inestimável proveito, permitiram aos ricos negociantes de Amsterdão, que se ofereceram para tentar eles próprios as aventuras dessa viagem, equipar navios de guerra que se arriscaram neste penoso caminho, passaram a linha equinocial e, por fim, descobriram a terra firme do Brasil, seguiram as costas do Rio Grande e Paraíba, foram em direção ao sul até a Capitania de Pernambuco, tomaram de assalto em pleno meio-dia um forte na costa, no sopé de um monte, em cujo topo está construída a cidade de Olinda, a oito graus além da Linha e a uma légua do Recife, da qual aqui se falará muitas vezes.Esta cidade, desprovida de seus habitantes, que estavam cultivando os campos, foi assim encontrada sem resistência e imediatamente conquistada, ficando como prêmio dos vitoriosos todas as riquezas que nela abundavam. Os soldados holandeses passaram a fio de espada grande número de homens e mulheres, lisonjearam os escravos, tratados pelos portugueses com maior rigor que os animais, libertaram-nos e por esta graça obrigaram--nos a pegar em armas a seu favor e a dar-lhes a conhecer a região e seus arredores.

Primeiros ataques dos holandesesEstes novos conquistadores, seduzidos por uma sorte tão vantajosa, mandaram apressadamente à Holanda notícia deste afortunado sucesso. Envaidecidos por uma nova tão rara, despacharam logo outros navios que, mal chegaram, se juntaram às primeiras tropas e foram atacar um forte de pedra distanciado da cidade de Olinda uns três quartos de légua, situado sobre um dique, ou melhor, uma ilha de uma légua de comprimento e quinhentos passos de largura, entre a terra firme e esta rocha comprida e larga que borda toda a costa do Brasil, a um tiro de mosquete em direção ao mar.

Começo e origem da Cidade MaríciaDepois dessa proeza, foram um quarto de légua mais adiante, ao Recife, construído na ponta deste dique, que contava, então duzentas casas. Facilmente o tomaram e, tendo-se assegurado, aí construíram bons baluartes de terra sobre as passagens do dique. Apoderaram-se, pela fome, do forte de pedra situado sobre a extremidade da rutura da rocha, na embocadura da enseada, dito Farnaboco (Pernambuco) palavra portuguesa que significa boca do inferno, sendo fácil de entrar e difícil de sair. Dela tomou o nome a capitania, que é chamada de Farnaboco (Pernambuco); os holandeses, por corruptela de linguagem, dizem Pernambuco e os franceses Fernambourgh. Cobriram o trajeto do Recife a Santo Antônio, outra ilha de uma légua de circuito, cercada no meio pelo curso d'água que vem