História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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AO ALTÍSSIMOPODEROSÍSSIMO E ILUSTRÍSSIMO Príncipe CESAR, DUQUE DE VENDOME, de Mercoeur, de Beaufort, de Penthieure e d'Estampes, Príncipe d' Anet e de Martigues, par e grão-mestre, chefe e superintendente geral da navegação e comércio de França e países conquistados.Senhor,Vossa Alteza, na qualidade de almirante, tem direito sobre tudo aquilo que o mar traz de precioso à terra; e entre as diversas utilidades advindas das navegações não é das menores o conhecimento que elas nos proporcionam de tudo o que se passa de notável nos mais distantes países, e nem das que menos agradam às grandes almas, como a sua, nascidas igualmente para conhecer e governar todo o mundo.Eis porque, havendo-me instruído sobre os negócios do Brasil durante dois anos, que ali permaneci, e particularmente sobre o começo da guerra, ainda não terminada, entre os portugueses e os holandeses, e desejoso de comunicar ao público esta parte da história do nosso século, que me pareceu considerável e bastante pouco conhecida, acreditei ser esta obra, fruto principal de minhas viagens, um tributo legitimamente devido a V. Alteza, não devendo ser publicada antes de lhe ter sido oferecida. Mas não é unicamente ao cargo de almirante que eu quero prestar esta homenagem, pois a situação eminente que V. Alteza ocupa no Estado, o brilho de seu ilustre nascimento, devido às virtudes heróicas do maior dos nossos monarcas, as quais revivem tão gloriosamente na sua pessoa, tornando-a tão cara e tão admirável a toda a França, exigem de todos os franceses todos os testemunhos honoríficos imagináveis. Sou de uma província que, além desta estima e afeição universais, deve a V. Alteza culto especial e reconhecimento extraordinário, possuindo particular conhecimento destas virtudes pela feliz prova enfrentada quando mereceu a honra de tê-lo por governador. Nos males da guerra, de que sofria, e no receio daqueles que a ameaçavam, a presença de V. Alteza deu-lhe então a segurança e logo a seguir a tranqüilidade, conservada posteriormente pelos seus cuidados e proteção, durante a quase geral agitação de todo o Reino, na qual, acreditava-se, ela tomaria parte principal.Este benefício público e as outras mercês recebidas da justiça, da brandura, do muito sábio e muito desinteressado procedimento de V. Alteza, mantendo esta província no repouso e na obediência que lhe trouxeram toda a felicidade permitida pelas condições do tempo, jamais me tocaram mais vivamente do que agora, pois refleti sobre as misérias e calamidades que acompanharam a sublevação dos portugueses no Brasil e a guerra que se lhe seguiu, a qual teve como causas principais a avareza, a crueldade, a injustiça e a imprudência dos comandantes. Julguei que a história descritiva das desgraças e maldades que as motivaram comunicaria aos outros os mesmos sentimentos por mim experimentados e, assim, servindo para fazer melhor conhecer, por um contraste vantajoso, a grandeza das obrigações que devemos a V. Alteza, poderia ser recebida como testemunho da minha gratidão.