História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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O retrato que traça de Vieira o diminui bastante, pela duplicidade de caráter e o proveito que tirou das relações com os holandeses na época da paz, além das vantagens econômicas que soube extrair da guerra. "Os papéis inéditos sobre João Fernandes Vieira", publicados por Alberto Lamego (Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1912, t. 75, parte 2, 2150), vieram confirmar a opinião dos velhos cronistas, como o próprio Moreau e Nieuhof, sobre ele.Moreau não tem papas na língua e acusa João Maurício de Nassau de corrupto, di-zendo que prendia os chefes luso-brasileiros, e para libertá-los era preciso untar suas mãos. 0 biográfo de Nassau, Ludwig Driesen, cuja obra é até hoje considerada como uma das melhores biografias do Conde João Maurício (Leben des Fürsten Johan Moritz von Nassau Siegen, Berlim, 1849), repele com rigor a acusação (ob. cit., 137-138).Moreau é um francês que não tem nenhuma simpatia pela gente e pela terra pernambucana. Acusa os luso-brasileiros de fingidos, e os diplomatas Portugueses de falsos e mentirosos. A reação popular holandesa contra o ministro português, ao saber das notícias vindas do Brasil, relatando crueldades luso-brasileiras, mostra a diferença que separava os dois povos. Os holandeses acusavam os portugueses de faltar à palavra empenhada e protestavam vingar-se ao quádruplo.Não puderam os holandeses vingar-se no Brasil, nem manter a colônia. As guerras navais anglo-holandesas só começam em 1652, mas a hostilidade crescente exigia grandes esforços e recursos na Europa e no Oriente. Daí a desatenção ao Brasil, quando a Holanda ainda era a primeira potência naval, posição que só perdeu, ficando num segundo lugar, depois das três guerras com os ingleses (1652-1654; 1664-1667; 1672-1674). Foi a primeira que decidiu o retorno do Brasil ao dominio português, mas a pressão da esquadra holandesa no Tejo obrigou Portugal a solicitar os bons ofícios da Inglaterra para o Tratado de Paz de 1661, pelo qual pagou Portugal, isto é, o Brasil, através de imposto sobre o açúcar, a formidável quantia de oito milhões de florins, pela vitória que obtivera nos campos de luta em Pernambuco.Os Países Baixos eram um país rico, florescente, a maior potência comercial do mundo, e, como vimos, o maior poder naval até ser derrotado pela Grã-Bretanha.Não é assim surpreendente que mostrasse grandes projetos de criar uma colônia próspera no Brasil, como Moreau revela no seu livro: a conversão dos índios, a tradução da Bíblia em tupi, o estabelecimento de uma impressora, a transplantação de árvores e plantas do Oriente, as relações comerciais Oriente e Ocidente, a criação de uma república rica e poderosa, que fosse um grande empório comercial.Trata-se, assim, de um livro de leitura muito recomendável, pelo seu valor para a história social e a das lutas.BibliografiaA bibliografia se encontra registrada no meu livro Historiografia e Bibliografia do Domínio Holandês no Brasil, Rio de Janeiro, Instituto Nacional do Livro, 1949, nºs 557 e 558.Edições histoire des Derniers Troubles du Brésil Entre les Hollandais et les Portugais. Paris, Chez Augustin Coube, 1651. 212 págs. Um mapa.