História das últimas lutas no Brasil entre holandeses e portugueses

Escrito por Moreau, Pierre; Baro, Rouloux e publicado por Ed. Itatiaia. Ed. da Universidade de São Paulo

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NOTA INTRODUTÓRIA

O cronista Pierre MoreauPouco se sabe de sua vida. Ele próprio contou, na dedicatória e no prefácio que, convencido de que não se aprende só com os livros, deixou-se levar pela doce paixão de viajar para conhecer pessoalmente o que existia de louvável e censurável nas outras nações. Dirigiu-se à Holanda, "verdadeiro ponto de encontro dos que tencionam dirigir-se às regiões distantes", soube da revolta pernambucana contra os holandeses, exercitou-se nas armas, ofereceu-se para participar da expedição que iria ao Brasil, foi apresentado aos Senhores do Conselho que vinham governar o Brasil Holandês, e escolhido para ser secretário de Michel van Goch, que em 1645 fora nomeado, juntamente com Walter van Schonenburgh e Hendrik Haecxs, para compor o referido governo do Brasil Holandês. Era livre para voltar quando quisesse, e retornou passados dois anos. Diz ter refletido muito sobre os horrores da guerra e sua crônica espelha a história sangrenta do domínio holandês no Brasil.Ao contrário dos cronistas portugueses, que desde o primeiro século diziam ser o Brasil um paraíso terrestre, tese especialmente sustentada por Simão de Vasconcelos, Moreau tem uma visão pessimista e torturada.Chamo atenção especial dos leitores desta tradução para o trecho do prefácio onde assinala o caráter sangrento dos dois primeiros séculos, com os portugueses massacrando índios, as lutas com os franceses, os holandeses e os espanhóis, com grande derramamento de sangue.O livro de Pierre Moreau não é só depoimento de uma testemunha, pois ao escrevê-lo não se valeu só do que viu e ouviu, mas consultou memórias e pesquisou registros da própria Companhia das Índias Ocidentais. Sua crônica cobre os anos de 1646 a 1648, seis anos antes de terminada a guerra.Como Johan Nieuhof, na Memorável Viagem Marítima e Terrestre ao Brasil (São Paulo, Biblioteca Histórica Brasileira, vol. IX, 1942, cuja edição preparamos, fazendo o confronto com a edição holandesa, introdução, notas, crítica bibliográfica e bibliografia), constitui uma das principais fontes, do ponto de vista holandês, da luta pela restauração do domínio português no Nordeste brasileiro.O Autor expõe a organização do governo e da justiça, a política indígena e negra, a liberdade de consciência, o papel dos judeus, a pregação religiosa, feita em holandês, francês, português, inglês e língua geral. Apesar disso a irreligião, a lascívia e a impiedade dominavam a vida de todas as classes. Descreve a situação dos negros escravos, as torturas a que eram submetidos, sua origem especialmente de Angola, a ligação estreita desta com o Brasil, os preços que custavam. Apesar de contarem com dez a doze mil soldados, e de usarem, como todas as nações colonizadoras, do maior rigor e repressão contra os rebel-des ao seu domínio, de castigarem, massacrarem, enforcarem, nada impediu que a revolta irrompesse e as guerrilhas se agravassem. A aversão luso-brasileira ao holandês era muito grande e se acentuou com a carestia, a falta de gêneros alimentícios, as dívidas dos principais chefes da revolta, sobretudo João Fernandes Vieira.

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