O Domínio colonial hollandez no Brasil

Escrito por Watjen, Hermann e publicado por Companhia Editora Nacional

Página 151


Assim pois, uma empresa hercúlea aguardava João Maurício quando ele, coroado de virentes louros pelos sucessos alcançados no Sul de Pernambuco, de novo pisou o solo do Recife.Mas a ingrata tarefa não o apavorou. Na realidade, só ele era capaz de "Augiae hoc stabulum purgare 1.Sem se deixar levar por delongas burocráticas, logo começou a varrer, com um pulso de aço, a imundícia acumulada. Várias sentenças de morte foram lavradas, e os que haviam cometido roubos ou mesmo eram convencidos de delitos de menor gravidade, recebiam ordem de expulsão. Por outra parte tomou o príncipe a iniciativa de prover aos cuidados da saúde pública e assistência social, até então inteiramente menosprezados. Neste empenho foi ele zelosamente secundado pelo seu médico particular Willem Piso. Foi resolvida a construção de um hospital, e pelo modelo dos institutos congêneres, existentes nas cidades holandesas, organizaram-se planos para a fundação de asilos de pobres e órfãos.Não tendo os Conselhos políticos, apesar do decreto de anistia de 26 de Dezembro de 1634 que garantia ampla liberdade de religião na Nova Holanda, oposto o menor obstáculo ao furor catecista dos fanáticos Calvinistas, os católicos e judeus, que viviam nos domínios da Companhia, achavam-se grandemente oprimidos 2. João Maurício pôs termo a essa situação. A todos os adeptos do credo católico foram dadas garantias de que não mais seriam perturbados em seus exercícios religiosos, sendo-lhes permitido mesmo fazerem as suas procissões nos grandes dias santificados. Aos judeus


  1. Nota 143: Barlaeus, p. 79.

  2. Nota 144: Já logo após o estabelecimento em Pernambuco, o Conselho dos XIX havia enviado para o Recife os primeiros pastores protestantes.