MARTIUS, não só na Flora Ratisbonna (XX, parte II, 1887, Beibl. 5 e 6), citada pelo Prof. URBAN e de que não disponho; depois em trabalho especial, sob o titulo: Versuch eines Commentars über die Pflanzen in den Werken von Marcgrav und Piso über Brasiliens, nebst meiteren Eröterungen über die Flora, dieses Reiches, pu blicado nos Abhandlungen der Kgl. Bayer. Akad. d. Wiss., mathem.-phys. Kl., München, vol. VII, 1853 (1855), que pude consultar. Trata então quasi só de plantas criptogâ micas, em geral filicíneas, justamente as que MARCGRAVE cita em menor número.Na Flora Brasiliensis, há numerosas citações de nomes comuns coligidos por MARCGRAVE, cada nome citadoa propósito da espécie respectiva, verificada esta à vistade exemplar de herbário; muitos casos há de nomes, descrições e estampas que os especialistas não puderam identificar, por deficiência das indicações originais; as identificações constantes da Flora de MARTIUS, aqui coligidassão as mais importantes; as demais valem como aproximações . * * ?Muitos nomes vulgares coligidos por MARCGRAVE, sempre com evidente empenho de fidelidade, não são mais usados hoje; vários deles foram modificados pelo linguajar de portugueses, índios, pretos, saxões, flamengos e autóctones, sendo bem difícil agora, e só possível aos especialistas em idiomas, reconhecer os significados de cada termo vulgar, nem sempre fácil à verificação do justo conceito em que BARBOSA RODRIGUES tinha a Genética da linguagem, dos nossos índios, em especial. Se gundo MARCGRAVE, saimbé, hoje caimbé; nomes da dile niácea Curatella americana.O que causa mesmo maior embaraço é o fato de espécies de um mesmo gênero de plantas terem nomes comuns diferentes, e às vezes muito diferentes, como acontece com os termos Guiti toroba (de Piso II, 137) que é de Lucuma vivicoa, Gaertn., sapotácea, segundo a Flora de MARTIUS; Ibiraee (de MARCGRAVE, p. 101), corresponde a Lucuma glycyphloea MART. & EICHL.; Maçarandiba (Piso II, 1877) é provavelmente de Lucuma procera MART., segundo a referida Flora; outros guitis são rosá ceas, como se vê, é difícil o problema lingüístico.Procurei coligir, nas monografias consultadas, em especial da Flora Brasiliensis de MARTIUS, O maior número possível de correspondências entre nomes comuns, de MARCGRAVE, e os científicos autenticados por especialistas, como se vê nas anotações feitas na tradução e no índice a seguir.De fato, os trabalhos de MARCGRAVE () e de Piso, feitos separadamente mas tendo muitos pontos de contatorepresentam importantíssimas contribuições para os estudos floristicos de Pernambuco, Maranhão e Nordeste em geral; foram mesmo os primeiros trabalhos botânicos sobre a região nordestina e adjacências; os segundos, em relação ao Brasil, pois os primeiros foram os de ANDRÉ THEVET, sobre a França Antártica (1558).A propósito desses trabalhos e de outros dos mesmos autores, como indica a Flora Brasiliensis, LICHTENSTEIN publicou uma série de artigos, sob o título "Die Werke von Marcgrav und Piso über die Naturgeschichte Brasi liens, etc", em Abhandl. d. phys. Kl. Preuss. Ak. d. Wiss., 1814-15, 1817, 1820-21 e 1826.Algumas das designações vulgares registradas por MARCGRAVE, foram adotadas depois por vários taxinomis tas, como termos genéricos, assim Micambe Adans. (Cleome), Arapabaca Marcgr., Atilara Marcgr. ex Barrè re - Essai Hist. Nat. France Equin., 1741.Quanto à acentuação das palavras, o que se verifica na edição de 1648, da obra de MARCGRAVE por JOÃO DE LAET, é a falta de acento, assim caraguata-guacu; no entanto, na Flora de Mart., lê-se caraguatá-guaçú; na edição de JOÃO DE LAET, SÓ encontrei acentuado e com ç o termo jeticuçú.Poucas são as vezes em que há indicação de localidade onde coligida cada planta; nas citações que a Flora de Martius faz de MARCGRAVE, apenas indica os nomes comuns registrados por este botânico; aliás antigamente era quasi regra esse menosprezo pelo habitat exato de cada planta.O que se pode afirmar hoje é que o campo de her borização de MACGRAVE, de 1637 a 1644, no Brasil, foi o seguinte, segundo informa o Prof. URBAN, na Flora de MARTIUS: 1637 a 1640: Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Baia e Ceará; 1640 a 1644: Recife, de onde saiu em 1642 para o Maranhão (Ilha Maranhão e rio Itapicurú); voltou a Recife que deixou definitivamente em 1644, época em que se transferiu para a Guiné, na África, onde morreu no mesmo ano.Piso que herborizou com MARCGRAVE na mesma época, regressou à Holanda em 1644; coube a JOÃO DE LAET, eminente geógrafo na ocasião, editar os trabalhos de Piso e MARCGRAVE, em primeira edição.A propósito de alguns nomes comuns, coligidos por MARCGRAVE no Brasil, a Flora de Martius indica um Li ber Princeps, de MARCGRAVE, existente na Biblioteca Real de Berlim; assim, a propósito de Hyptis lappulacea, labiada.PLUMIER criou o gênero Marcgravia, mantido depois por LINNEU; não há, porém, inteiro acordo entre os autores na grafia desse nome, assim Marcgrafia Gled. (1764), Marggravia Willd. (1808), Marcgraavia Griseb. (1854).ANOTAÇÕES, CORRESPONDENTES A NÚMEROS NO TEXTO1 Pela descrição é uma gramínea; não se pode indicar,porém, nem o gênero com segurança, porque a descriçãofoi muito curta; a Flora de Martius, na monografia dasgramíneas não se refere a MARCGRAVE, O que deixa ver queas descrições de MARCGRAVE,foram deficientes, se não houve exemplar de erbário.2 Por ter caule triangular, deve ser uma ciperácea.3 Deve ser ciperácea, uma vez que o caule é triangular .4 Provavelmente Ciperárea do gên. Dichromena.5 Deve ser ciperácea (caule triangular); o termo grânulos" então usada não é claro, indica parte de umbela; espigueta floral, naturalmente.6 A correspondência dos nomes vulgares e científicosé dada no final destas anotações.7 Deve ser o sapê comum: Imperata brasiliensis Trin.,a Flora Brasiliensis de Martius não cita exemplar deMARCGRAVE, nem o nome vulgar "Jacapé".O fato de não ser citado MARCGRAVE, nas monografias das Gramíneas e de ciperáceas, da Flora de Martius faz crer não terem sido verificados espécimes de gra mineas e de ciperáceas no erbário de MARCGRAVE; SÓ pelas descrições, não é possível chegar ao reconheci mento de espécies.Na monografia das Ciperáceas, da Flora de Martius, "jacapé" ou "Capim de cheiro" (Piso 1658, p. 237, c. icone) é espécie de Kyllinga, ciperácea.8 MARTIUS, em trabalho publicado em 1853 (1855), jáindicado, divulgou a correspondência científica dos nomes vulgares "conambaia, caticaá ou coaticaá, avencae avencão, de várias filicíneas, em especial polipodiáceas e squizaeáceas; assim:GÊN. Adiantum: A. curvatum Sw., intermedium Sw., tetragonum Schrad., cuneatum Langsed. et Fisch., tene rum Sw., radiatum L., pentadactylon Langsd. et Fisch., subcordatum Sw. e platyphyllum Sw., sob a denominação de canambi-miri segundo( Piso, isto é, samambaia pequena na terminologia atual, sendo que se diz geralmente, "avenca", para as espécies de Adiantam.Das espécies citadas, nenhuma chegou a ser denominada por MARCGRAVE OU por Piso; algumas são mesmo de descrição e batismo relativamente muito recentes. GÊN. - Polypodium - P. brasilianum, vulgo caticaá ou coaticaá seg. Piso: P. elatius Schrad. que vive sobre Cocos coronata; P. incanum Sw., P. menisci ifolium, P. decumanum.As plantas a que MARCGRAVE chamou polipódios são, segundo MARTIUS: Blechnum brasiliense Desv. (Bl. cor covadense Raddi, Bl. fluminense Vell.) ou talvez Bl. an-gustifolium Willd.Outras filicíneas: Gymnogramme calomelanos, Chei lanthes spectabilis Kaulf. vulgo "avencão", Pteris pal mata, Pt. pedata e Pt. leptophylla ou prox. de Pt. ara chnoidea.Squizaeácea: Lygodium volubile ou L. hastatum.Sinu omnium Sanctorum., na expressão de MARC GRAVF -9Segundo MARTIUS, OS polipódios de MARCGRAVE são 10 do gên. Blechnum.Ononis, nome geral de avencas, seg. MARTIUS, salvo 11 uma Ononis non spinosa et floribus buteis que é Stylo santhes guianenses, leguminosa. Há também, Ononis, leguminosa. A comparação parece ser pois com Ononis, leguminosa.MARTIUS fez um estuda especial das Filicíneas coli gidas por MARCGRAVE, no artigo sob o título Versuch eines() A Flora de MARTIUS, no vol. XIII-1, a propósito de capotaya (Capparis cynophallophora) indica: Marc grav Liber Princeps t. 417, na Bibliot. Real de Berlim.
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado