espessos, encontramos no verbete Marcgravia uma biografiazinha de MARCGRAVE.Depois de referir que o gênero botânico foi dedicado por PLUMIER à memória do malogrado sábio relata que ele viajou com PISO no Brasil e mais tarde visitou as costas do Mediterrâneo, o que sabemos ser inteiramente falso. Daí passara à África onde, em 1644, morrera aos 34 anos de idade.Refere ainda que JOÃO DE LAET publicou em 1648 os seus estudos sobre plantas, animais e indígenas do Brasil e que o oitavo volume de sua obra, foi repetido nas de PISO, editadas em 1658 e em Amsterdam, tendo como suplemento uma obra de BONTIUS.As referências a PISO, da Enciclopédia, são insignificantes.. A Grande Encyclopedia de BERTHELOT, relata que Piso nasceu em 1611 e morreu em Amsterdam em 1678. Estudou em Leyden e depois em Caen, onde se doutorou, em 1630. E lembra a frase pela qual STOKVIS O intitulou com exacção: "fundador da medicina colonial", ou tropical como diríamos hoje. Recorda ainda que ele introduziu o uso da poaia na Europa e tornou conhecido no Velho Mundo a patologia dos trópicos.Refere também os títulos de suas obras e nada diz de suas relações com MARCGRAVE.O The Century Dictionary and Cyclopoedia não lhe menciona o novo como a velha Encyclopedia de REES. E OS artigos a seu respeito do NouveauLarousse Illustré e do Larousse du XXème Siècle são minúsculos. Dele não se ocupa Meyei's Konversations Lexi-con de 1896.Os autores portugueses mostram-se, como era aliás de esperar, ainda mais alheios aos trabalhos do sábio de Liebstadt. A eles não aludem BRITO FREIRE, DIEGO LOPES DE SANTIAGO, Fr. RAPHAEL DE JESUS, Fr. JOSÉ DE SANTA THEREZA, Dom DOMINGOS DO LO-RETO COUTO, etc., ou se o fazem é do modo mais insignificante. Infelizmente não conhecemos referência alguma da lavra de MANUEL DE MORAES quando sabemos que o famoso apóstata privou longamente com MARCGRAVE e Piso.Aos que percorrerem este volume se deparará o vocabulário havido pelo sábio de Liebstadt do célebre jesuíta renegado.Quer nos parecer que foi BLUTEAU O primeiro a revelar ao mundo português o nome e a obra de MARCGRAVE ao imprimir o seu famoso dicionário: o Vocabulário Portuguez e Latino (1712-1721) e o Suplemento (1727)..Teve o célebre theatino sob os olhos, diversos informantes preciosos para as cousas do Brasil. Freqüentemente se refere às Noticias de VASCONCELLOS ; ao De facultatibus de Piso; à História Natural de MARCGGRAF, à História indica de MAFFAEUS.Fica-nos a impressão de que se entediou da di-cionarização de numerosos daqueles vocábulos da linguagem brasílica, apontados por estes autores que lhe inculcavam termos de assonância bárbara aos ouvidos.Não querendo porém passar por desidioso, no aproveitamento das fontes lançou mão de curioso recurso. Ao acabar o seu suplemento em dois grossos volumes, do tomo dos oito do Vocabulário, ainda inseriu, no corpo de sua enorme obra, um "vocabulário de termos comumente ignorados mas antigamente usados em Portugal e outros do Brasil ou da índia Oriental e Ocidental introduzidos".Referindo-se aos ensinamentos que dos livros de Piso e MARCGRAVE lhe podiam vir, declara que se limitara a arrolar nomes de plantas e animais que os dois ilustres naturalistas descreviam.Tão numerosos os termos deste suplemento que o levariam a compor um volume undécimo do Vocabulário.Os verbetes brasileiros ali catalogados são umas duas e meia centenas. A colheita obtida na História Naturális Brasiliae, de MARCGRAVE é incomparavelmente maior do que a de procedência do De medicina de Piso.Nesta, como era de esperar, avultam os vegetais; cerca de quarenta; os animais chegam apenas a uma dezena. Nos verbetes hauridos em MARCGRAVEfiguram umas setenta e tantas plantas, mais de cin-quenta peixes, outras tantas aves, uma dezena de cobras e outra de mamíferos.Verificação esta realizada muito per summa capita. Surgem neste catálogo menções a aves, mamíferos, peixes, plantas, etc, que estranhamos não encontrar averbados, no corpo do Vocabulário, taes como urubú, mutum, tatú, tucano, macuco, piranha, etc, etc.Emmamaluco reporta-se BLUTEAU ao De incolis Brasiliae de MARCGRAVE que ensina assim chamarem no Brasil "aos filhos de pays europeus e mãy negra". Ora, como os portugueses chamavam os nossos abori-genas "negros" a definição é aceitável. Em mazom-bo refere o ilustre dicionarista que colheu o termo em MARCGRAVE. Depois de umas tantas considerações retifica ao seu informante que não se referira ao valor pejorativo do vocábulo.Na nomenclatura vulgar da Historia Naturalis Brasiliae colheu BLUTEAU avultado número de verbetes, como era de esperar, aliás.Engana-se, por vezes, do modo mais natural, aliás. Assim abeberado em descrições obscuras de VASCONCELOS e MARCGRAVE entende que deviam ser sinônimos: Pacobeira, Pacoba, Pacobeta e Pacobeira, sendo o primeiro vocábulo de VASCONCELOS e os demais de MARCGRAVE.Dos nossos autores modernos poucos, também, os que atribuíram a MARCGRAVE o direito a que tem lugar nos fastos brasileiros, americanos e na História Universal das Ciências.SOUTHEY não lhe menciona o nome, embora mostre conhecer a existência da obra de Piso. O próprio VARNHAGEN, assás ligeiramente, dele se ocupa.Refere ROCHA POMBO que os dois membros principais da corte científica de NASSAU eram "GEORGE MARCGRAF e WILLEM PISO". Mas engana-se quando afirma que sob a direção de ambos cons-truíu-se o observatório de Friburgo. Faz, contudo, grandes elogios aos trabalhos astronômicos e cartográficos de MARCGRAVE e refere-se ainda com grandes encomios à História Natural, de autoria de ambos, parecendo ter ignorado que um e outro fizeram. obra autônoma.FERNANDES GAMA nas tão citadas memórias mostra desconhecer a MARCGRAVE, ,Publicando em 1895 Pernambuco e seu desenvolvimento histórico tratou OLIVEIRA LIMA, "do infeliz MARCGRAVE falecido em Loanda, de uma febre, vítima de sua nobre curiosidade" e de PISO. Mas na Formation Historique de Ia Nationalité Brésilienne (1911) refere-se encomiasticamente a um e outro. Obra de ambos declara ser a História Natural do Brasil "considerada não somente obra clássica e sim o livro fundamental, o tronco do qual saíram os ramos, mais tarde cobertos de folhas, flores e frutos da árvore da literatura científica do Brasil".Relata o escritor pernambucano que o contingente de MARCGRAVE vem a ser fraco pelo fato de que se considera perdida a maioria de seus trabalhos. É, aliás, ambígua a redação do trecho de OLIVEIRA LIMA induzindo o leitor a crer que os dois cientistas trataram em comum de assuntos por eles estudados separadamente.Em sua ardente Rehabilitação histórica do Conde de Nassau (1909) que é sobretudo veemente contradita ao Valeroso Lucideno, atribue F. A. PEREIRA DA COSTA a PISO "célebre naturalista" muito maior importância do que a MARCGRAVE a quem apenas designa por "naturalista alemão". "Estes dois sábios, acrescenta, fizeram algumas (sic) observações de história natural de subida importância". Mostra-se o autor pernambucano mal informado pois entende que Piso também era astrônomo e MARCGRAVE o autor de uma Historia Brasiliae. SEBASTIÃO DE VASCONCELOS GALVÃO repete as informações de PEREIRA DA COSTA em seu Dicionário Corográfico, Histórico e Estatístico de Pernambuco. VICENTE THEMUDO LESSA em Maurício de Nassau o Brasileiro (1937) depois de descrever o espírito científico e artístico do Príncipe estendeu-se bastante
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado