Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay

Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado

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CONRADO GESNER (1516-1565) um JOAQUIM CAMERARIUS (1534-1598), um CLUSIUS (1526-1609), um LOBEL (1538-1616) e outros, também encontramos a falta de terminologia baseada em princípios firmes cujo primeiro estabelecimento tentaram realizar L. FUCHS e CAESALPINUS de modo que, freqüentemente, tão pouco podem ser removidos, com precisão, os obstáculos ao reconhecimento e à explicação das espécies vegetais mencionadas nas obras desses autores. Aliás, ao mérito de MARCGRAVE muito acresceu a valia de sua iconografia. E tanto por este motivo como por causa do indiscutível direito à prioridade evidenciado pelo milésimo da primeira edição da obra, os sistematas, ao enumerarem as plantas brasileiras, colocam o sábio de Liebstadt na primeira plana.Assim procederam GASPAR, BAUHIN, RAI, JOHNS-TON, PLUKENET, MENZEL, ADANSON e LINNEU, separando os trabalhos de ambos os autores e citando-os cada qual de per si. Ultimamente, não se repetiu tanto o fato pois a obra de PISO, a de 1658, acha-se com maior freqüência em mãos dos botânicos do que a edição de 1648 que, se diz haver sido destruída, em parte, por incêndio.Fado mais propício do que o desta edição e o dosmanuscritos astronômicos de MARCGRAVE tiveram as pinturas originais que MAURÍCIO DE NASSAU mandou fazer no Brasil".Seja-nos permitido um reparo único às observações do grande naturalista da Flora Brasiliensist Não queremos de todo incidir na pecha de infrator do ne sutor. A acusação a MARCGRAVE feita de que era autodidata não pode, ao nosso ver, subsistir e decorre talvez da ignorância do sábio bávaro acerca de minúcias biográficas do seu criticado ou talvez de mero lapso de memória.Não deixemos de recordar, a bem dos créditos de MARCGRAVE, abalados pela irrogação injusta de um homem da enorme autoridade de MARTIUS que o patriarca da História Natural e da Astronomia no Novo Mundo não era de todo um auto didata.Rememoremos que nas Universidades de Rostock e de Leyden foi o discípulo de dois botânicos da mais alta reputação SIMÃO PAULLI e ADOLPHO VORST. Temos como certo que PISO não possuía melhor formação botânica do que o seu companheiro de missão científica no Brasil.capítulo XIVOpiniões diversas sobre marcgrave na bibliografia brasileira e universal. - a cartografia marcgraviana. - opiniões de rio branco.Na introdução ao seu estudo biográfico sobre MARCGRAVE e PISO, inserto na monumental Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e por nós transcrito no tomo XIV da "Revista do Museu Paulista" - extranha JULIANO MOREIRA que os nomes de MARCGRAVE e PISO tivessem estado ausentes dos índices da Revista até então.E recorda que, até aquele momento, jamais haviam ambos os cientistas, provocado, seriamente, a atenção dos historiadores brasileiros.O próprio Visconde de PORTO SEGURO apenas lhes dedicara umas poucas linhas em sua obra Os hollandezes no Brasil. E recordava quanto estes dois grandes apelidos da História das Ciências mereciam de. todos os que se ocupam dos fastos brasileiros.Até agora, apesar de mais conhecido, o nome de MARCGRAVE cujo significado é incomparavelmente superior ao de Piso, ainda não conseguiu a alta colocação que lhe é devida na História da Ciência.Como reflexo de tal capitis diminutio temos a contra-prova da insignificância dos artigos a ele consagrados em algumas das mais importantes enciclopédias das grandes línguas do Universo.Assim a notícia do Dictionnaire Universel du XIXeme Siècle, o Dicionário de Larousse é de deplorável e injustíssimo laconismo. "MARCGGRAF OU MAR-GRAFF (JORGE) naturalista e viajante allemão nascido em Liebstaedt (sic) na, Misnia, em 1610, e falecido na Guiné em 1644. Estudou medicina, ciências faturais, matemáticas, foi, com PISO, médico do CONDE DE MAURÍCIO DE NASSAU para o Brasil.Durante seis anos explorou o litoral desde Rio Grande (do Norte) até o sul de Pernambuco. Explorou, depois, as costas da Guiné, onde morreu, vítima da insalubridade do clima.As notas que redigiu foram publicadas com as de PISO sob a epígrafe: G Pisonio de medicina bra-siliensi libri IV; G Marggravi Historiae rerum na-turalium Brasiliae libri VIII (Amsterdam 1648, in foi. Aí se encontram informações muito exatas sobre animais e vegetais da América do Sul".O Nouveau Larousse illustré publicado em princípios de nosso século, suprimiu o artigo biográfico sobre o grande naturalista, assim como o Larousse du XXeme siècle. The Century Dictionary and Cyclopedia, em sua edição de 1906, menciona Marggrav (JORGE) latini-zado para GEORGIUS MARGRAVIUS. Consagra ao naturalista seis linhas apenas: nascido em Liebstadt(Saxônia) em 1610, morreu na costa de Guiné, em 1644. Era um naturalista alemão que acompanhou a expedição holandesa de NASSAU ao Brasil, em 1636, tendo permanecido neste país vários anos. Publicou Historia naturalis Brasiliae (1640) Itinerarium Brasiliae. Assim inculca o famoso dicionário de WHITNEY aos seus leitores grave erronia ao affirmar que MARCGRAVE imprimiu a sua História Natural.Não sabemos de todo, aliás, o que seja o tal Itinerarium que jamais vimos citado por qualquer outro autor.É extraordinário que La Grande Encyclopedie, a monumental publicação dirigida pelo grande BER-THELOT, não consagre uma única linha a MARCGRAVE quando arrola "Marcgravia" ao falar do gênero das Marcgraviáceas assim batisadas em honra ao naturalista?Mas muito mais pasma ainda que a edição de 1896 (a 5.a) do Meyers Konversations Lexikon, a grande enciclopédia alemã, não haja nem no corpo da obra nem em seus suplementos, até' 1901, uma única linha consagrada a um teuto que é uma das glórias das ciências naturais.A nona edição da Encyclopedia Britannica, de Edinburgo e de 1883, tiragem famosa pelos ótimos artigos sobre ciências naturais, também é inteiramente omissa em relação a MARCGRAVE e a PISO. Nem sequer averba marcgraviaceas. Margraf ou Marggraf (Jorge) lê-se na Enciclopédia Unievrsal ülustrada europeo-americana de Hijos de J. Espasa: naturalista alemán n. en Liebstadt y m. en Guinea (1610-1644). Estudio medicina, ciências naturales y matemáticas, y en 1638 formo parte de la expedición dirigida por Pisón, medico del Príncipe Maurício de Nassau, recomendo el Brasil por espácio de seis anos.Murió quando se disponía a explorar las costas de Guinea y dejó muy interessantes notas sobre la fauna y flora de América dei Sur, publicadas junto con los trabajos de Pisón en la obra de G. Pisonis de medicina brasiliensis libri IV. G. Marggravi historiae rerum naturalium Brasiliae libri VIII. Mais adiante refere-se a Enciclopédia a CHRIS-TIANO MARCGRAVE dizendo que devia ser da família do naturalista de Pernambuco provavelmente, como já aliás lembramos.Na velha e volumosa The Cyclopedia or Universal Dictionnary editada em Londres e em 1819, por ABRAHAM REES, em trinta e nove volumes, grandes e