segundo desenhos que tinha feito de assuntos brasi- leiros, e ganhou com a venda na Europa somas consideráveis.Ainda hoje se encontram numerosos vestígios do assíduo trabalho de FRANCISCO POST. A Biblioteca Real de Berlim conserva notável coleção de 1640 desenhos de paisagem e marinha, em 1652, compra- da ao Conde de NASSAU pelo Eleitor do Brande-burgo, FREDERICO GUILHERME, mediante a soma de 150.000 marcos da moeda atual.Igualmente existem no Castelo de Frederiks-borg na Dinamarca 7 peças grandes e 8 pequenas para forro de paredes e vãos de janelas, de 8 m. de comprimento cada uma e com pinturas a óleo, representando assuntos brasileiro: indígenas de diferentes províncias, tipos curiosos de mamíferos, pef-xes, pássaros, cobras, árvores, ervas, frutas e flores. Mandou NASSAU cingir de fossos e muros a nascente cidade, determinando outrosim que, nos dois pontos extremos, se construíssem sólidas fortalezas: No recinto da nova capital PEDRO POST erigiu o Paço Municipal e grande templo protestante.O gosto arquitetônico do conde de NASSAU não podia deixar de atuar sobre o espírito do povo, despertando emulação e suscitando numerosas e elegantes edificações.Em menos de três anos a face oriental da ilha de S. Antônio constituía cidade maior e mais bela do que a primitiva sede administrativa de Pernambuco.Por isto o Conselho Político de Recife, resolvendo dar ao ínclito governador testemunho solene de reconhecimento, conferiu à cidade, que ele acabava de criar, o nome de Maurícia.Somente a população portuguesa não acompanhava o contentamento dos Neerlandeses, agastada como se achava pela profanação dos grandes conventos e das suntuosas igrejas de Olinda e completa demolição de muitos prédios particulares estragados pelas operações militares.Causava-lhe mágoa não ter NASSAU proibido, nas recentes construções o emprego dos valiosos materiais extraídos dessas ruínas. Fora o mármore vindo de Olinda aproveitado até em obras públicas, no próprio palácio de Vrijburg com ele se lajeara a base de uma bateria na qual se assentavam dez bocas de fogo.Mais tarde deu NASSAU satisfação a tão legítimo sentimento, promovendo a restauração de Olinda que não tardou a recuperar a antiga prosperidade.Em Maurícia foi que o Conde de NASSAU mandou construir um grande Observatório Astronômico, o primeiro e o único existente no Brasil durante o período colonial. Aí também, intentava inaugurar a primeira Universidade sul-americana.Edificiu NASSAU uma vivenda campestre denominada Boa Vista ou em holandês Schoonzigt. Ladeada de quatro torres, esta morada de verão constava de um palácio quadrangular com dois pavimentes, aos quais estava sobreposta espécie de sótão, também formado de dois andares. No pavimento térreo do corpo principal do edifício estavam assestadas peças em canhoneiras, as quais podiam cooperar com as do Forte das Três Pontas, protegendo a ilha de S. Antônio pelo lado do sudoeste. Nesse formoso remanso costumava Nassau demorar-se algum tempo no estio, recreando-se das fadigas da laboriosa administração.Na formosa Maurícia, nos luxuosos paços de Vrijburge da Boa Vista cumpria-se a alta missão civilizadora de JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU. Aí não o preocupavam somente deveres de príncipe. Seu espírito, preparado por ilustres mestres e profundos estudos de gabinete, aprimorado pelas lições da experiência em campanha e em viagens foi o foco de luz que surgiu na entenebrecida Terra do Cruzeiro. Tanto na Europa, como na América concorreu NASSAU diretamente para o progresso dos conhecimentos humanos. Ausente da Europa, não se des-lembrou dos insignes investigadores com quem tinhaentretido relações, remetendo-lhes valiosas informações a respeito da América meridional.Durante a estada no Brasil não cessou de coadjuvar aqueles homens distintos que abrilhantavam sua Corte e até com alguns colaborou diligentemente em trabalhos científicos.Ainda hoje existem numerosos documentos de sua assiduidade ao estudo. Dedicava-se, com desvelo, às investigações astronômicas no grande Observatório de Maurícia, promovia indagações metereológicas, consagrava-se a minuciosa análise das virtudes terapêuticas das plantas do Brasil.Graças à sua magnificência, conseguiu MARC-GRAVE colher materiais para a sua obra clássica: História Natural do Brasil. No exemplar desta obra de uso particular do Príncipe e agora pertencente à Real Biblioteca de Berlim, encontram-se notas marginais do próprio punho do seu primeiro possuidor. Igualmente na coleção de estampas de MARCGRAVE, que também se acha guardada na mesma Biblioteca, encontram-se esclarecimentos autógrafos ao lado de cada uma das 455 folhas do volume maior e assim também em muitas das 488 folhas do volume menor". A esta descrição contraponhamos um documento contemporâneo, de origem batava, o depoimento do historiógrafo do Príncipe: GASPAR BARLAEUS."Nada vale engrandecer uma dignidade com um edifício, si se busca toda a dignidade só com o edifício, pois convém que ele se honre mais com o dono que este com ele filosofa o nosso país egipsista. Do contrário, fazem os donos que se hajam de ver antes as pedras, os mármores, as estátuas, as tapeçarias e tudo o mais do que a eles mesmos, e para eles já não brilham as riquezas como honra, mas como opróbrio." Havia na chamada Ilha de Antônio Vaaz (tal era o nome do antigo possuidor) ampla área de terreno, entre o forte de ERNESTO e o das Três Pontas, situada entre o Capibaribe (sua denominação deriva das capivaras, porcos anfíbios, cuja caça é freqüente neste rio) e o Beberibe.Era uma planície safara, inculta, despida de arvoredo e arbustos, que, por estar desaproveitada, cobria-se de mato. Na margem ulterior do Capibaribe, erguia-se uma colina que, em tempos de guerra, havia de prejudicar a cidade, porquanto, não entrincheirada dessa banda, ficava acessível aos danos feitos pelos inimigos.Mais de uma vez sugerira o Conde ao Supremo Conselho ligar por um valo os dois referidos fortes para se pôr a coberto aquela área, mas não logrou persuadi-lo em razão das vultosas despesas. Recear estas, quando há proveito, na verdade é próprio dos econômicos e dos mercadores, não, porém, dos que fundam possessões num território estrangeiro "cáustica o nosso autor aproveitando o ensejo para deixar patente as diferenças de mentalidade entre burgueses mesquinhos e o seu tão admirado príncipe mecenas. "Não obstante, ao Conde aprouve furtar aos olhos aquele terreno desnudo, sombreando-o com uma plantação de árvores, não só para não ficar exposto às ofensas do inimigo, mas ainda para os cidadãos e soldados, durante as quadras ásperas, delas tirarem o alimento e o refrigério dos frutos, encontrando também ali os habitantes um abrigo seguro.Realmente, houve uma ocasião em que, não se podendo entrar no Recife por causa do rio, trezentos cidadãos, passando além deste para colherem laranjas, foram quase exterminados, e aprenderam tardiamente a necessidade do seu abastecimento doméstico.Por conseguinte, NASSAU, para não pesar ao tesouro e para prover ao bem público, adquiriu a sua custa aquele terreno, transformando-o num lugar ameno e útil tanto à sua saúde e segurança como à dos seus.Cansado dos negócios públicos, deleitava-se então o Conde com os ócios ali gozados. Nesta rusticação passava o exímio General as horas vagas, entregando-se à contemplação da Natureza, sempre que não lhe fosse dado ocupar-se da República, e
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado