ramente científica expedida por país europeu àa terras do novo mundo. Assim foram designados GEORGE MARCGRAVE e HENDRICH CRALITZ - Ger-manos, medicinae et matheseos candidatos, no dizer de BARLAEUS. DO segundo apenas sabemos que também era saxão, estudante de medicina em Leyden, que era um joven cujos estudos faziam dele esperar brilhante futuro, mas que em caminho sucumbira aos trinta anos de idade - immatura morte suffo-catus, como diz PISO.Por ocasião da partida de W. PIES, O grande poeta holandês JUSTO VAN DER VONDEL dirigiu-lhe um adeus poético, no qual muito lhe recomendava velar pela saúde do Conde.Durante a estadia no Brasil, colheu W. PIES as múltiplas observações médicas, com as quais compôs sua - de Medicina Brasiliense que é a primeira parte da História Naturalis Brasiliae, cuja primeira edição foi publicada em 1648, sob os cuidados de JOHANNES DE LAET, a quem o Conde enviara os originais.De quatro livros ou secções se compõe a obra. O livro primeiro trata de aêre, aquis et locis. O segundo de endemiis et familiaribus morbis in Brasília, dividido em 32 capítulos em que sucessivamente se ocupa das febres, das doenças oculares, de spasmo, de stupore, de catarrhis, da disenteria, das doenças contagiosas, do bicho do pé, etc. O livro terceiro trata de venenis et eorumque antidotis. O quarto de fa-cultatibus simplicium. Esta obra, evidentemente magistral, reexaminada com afinco, evidencia, a cada perquisição, excelêneias novas e, porisso, ainda é hoje, uma das mais lídimas glórias da literatura médica holandesa, A PIES devemos uma descrição exata e minudente das endemias então reinantes no Brasil e dos meios de tratá-las. Observou a bouba, o tétano, paralisias várias, a disenteria, a hemeralopia, o macúlo, etc.Descreveu a ipeca e sua qualidades emeto-catár-ticas, das quais aliás já se utilisavam os aborígenes, muito antes do célebre médico ADRIANO HELVETIUS, avô do notável filósofo francês CLAUDIO ADRIANO HELVETIUS, haver recebido de Luiz XIV mil luíses de ouro, títulos e honrarias, por haver descoberto exatamente aquelas mesmas virtudes terapêuticas. De 1688 data o Tratado de HELVETIUS intitulado Remède contre le cours de ventre. Mostrou a ação terapêutica do coco andaassú, da copaíba, do tipi, do sassafrás, da japecanga, da capeba ou pariparoba, do jaborandí. A propósito deste último vegetal, PIES, em vários lugares de sua obra, faz menção muito nítida de suas propriedades sialagogas e diaforéticas, sendo admirável, como dizem os médicos holandeses BAUER e STOKVIS, tenha a medicina levado tantos anos para redescobrir esses fatos.Foi ainda PIES quem primeiro pressentiu as propriedades pépticas da Carica papaya. Em sua obra lê-se o primeiro relato sobre o bicho do pé, o melhor modo de o observar, que o era por meio do megascogio, por certo um microscópio simples (eos-que per megascopium explorare oportet) e a maneira então, e ainda muito depois, usada de extrair o animálculo.À sua descrição do maculo não se tem depois acrescentado grande cousa.A ele e a MARCGRAVE deve-se, por certo, a primeira noção de que pelos dentes da cobra vem o veneno ofídico ao lugar mordido. Em suas páginas lemos a narração dos efeitos venenosos do sapo curu-rú, Bufo viridis, vulgaris, ou musicus, no qual descobriram mais tarde os químicos a bufotalina (de. efeitos um tanto análogos à digitalina), a bufoferi-na e a frinolisina.Foi ele por certo quem primeiro fez necrópses no Brasil e em três capítulos da sua obra, o IV, o IX e o XIX a isto se refere.Regressando o conde JOÃO MAURÍCIO à Holanda com ele foi o seu médico, e de tal modo continuaram amigos, dispensando-lhe o Príncipe tais provas de afeição, que não foi por certo bem informado o padre MANUEL CALLADO, em seu Valeroso Lucideno, no que diz a propósito de uma suposta divergência entre os dois".W. PIES em março de 1645, sempre ao serviço do conde (inserviens illustrissimo Comiti Mauritio) inscreveu-se de novo na lista dos estudantes da Uni-versidade de Leyden, por certo com o justo propósito de rever algo do que se havia adiantado em ciência, durante o septênio de sua ausência. Nesse mesmo ano morreu-lhe o velho pai, naquela mesma cidade.Três anos depois casou-se em Amsterdam e alí se estabeleceu, tornando-se um dos clínicos de maior renome na cidade e muito procurado para conferências à cabeceira dos doentes, como se infere, entre outras cousas, do fato de ser citado muitas vezes na curiosíssima obra médica publicada em Rotterdam e em 1730 e (foi vertida para o alemão e o latim) de autoria do notável cirurgião holandês JOB JANSAON VAN MEEKREN a quem o grande HALLER chamou "ce-lebris et candidus chirurgus", intitulada Heel en Ge-neeskonstige Aanmerkingen (observationes médico-cirurgicae).Em 1655 foi Pjso nomeado inspetor do Colégio Médico de Amsterdam, do qual foi duas vezes deão, uma em 1657, outra em 1660.Em 1658 resolveu publicar nova edição de sua obra, então com outro título: De Indiae utriusque re naturali et medicae. Libri quatuordecim. Amsteloda-mi apud Ludovieum et Danielen Elzevirium, 1658.Comparada à primeira é evidente a diferença, nem sempre em proveito da segunda. Queixa-se, aliás, de que a outra, tendo sido feita durante sua ausência por JOHANNES DE LAET sairá com incorreções. Ao contrário disso, melhor seria que não houvesse modificado o plano da obra, suprimindo como fez todo o livro de MARCGRAVE e incorporando aos seus capítulos o que só a este pertencia, citando-lhe apenas o nome.Na mesma segunda edição acrescentou PISO uns capítulos sobre a Mantíssa aromática, o que lhe valeu do dr. SWAVING, distinto médico holandês a ob-jurgatória de "médico mui supersticioso".Ora, os referidos capítulos são apenas a reprodução da obra então esgotada de AUGIER CLUYT, clínico de Amsterdam e tio da esposa de PISO. Bem dispensável, aliás, seria a reedição de tal livro, do qual o próprio PISO não hesita em declarar que até aquela data não tinha sido possível verificar a mor parte das propriedades terapêuticas de tão gabada noz e que se preconizara como panacéia. (Clutus noster multa sine dubio Nuc Malvidense tribuit, quae hactenus, ut mihi persuadeo, plurimis inexperta sunt.) Mantissa aromática, cap. XIX, pág. 205).Não cabe a W. PISO a pecha de supersticioso, porque, ao contrário disso, há em suas obras notas contra as superstições dos indígenas, contra preconceitos das velhas eras contra outras afirmativas que nada têm que ver com a ciência e sobretudo contra observações superficiais e enganosas.Salienta bem o sábio STOKVIS, repetindo-lhe as frases, que o seu grande compatriota, como todos os seus grandes mestres das ciências exatas, estava compenetrado dessa verdade "que a natureza das cousas não se mostra no vestíbulo, accessível a todos os que passam, mas sim se mantém oculta nos vãos mais recônditos e mais difíceis de achar e que se não pode enfrentar a não ser a força de trabalho assíduo, de amor puro e devotamento sem limites".Médico erudito, conhecendo a fundo as línguas clássicas, assim como o francês, o espanhol e o português, privou ele com todos os letrados holandeses de seu tempo. É assim que o maior poeta dos Países Baixos, JUSTO VAN DER VONDEL, OS outros dois maiores escritores neerlandeses do século XVII: C. VAN HOOP e CONSTATINO HUYGENS, pai do grande astrônomo CHRISTIANO HUYGENS, e GASPAR BARLAEUS que lhe dedicara um poema em latim, e NICOLAU TULP e vários outros, foram de sua privança.Em mais de uma notícia de sua vida leio que ele, ao perder seu protetor, o Conde MAURÍCIO DE NASSAU, passara ao serviço do Grande Eleitor FREDERICO GUILHERME DE BRANDEBURGO. Não é isto real,
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado