da Biblioteca da capital prussiana - "Theatrum rerum naturalium Brasiliae".Não se pode bem comprovar a autoria desses trabalhos, a não ser que se aceite para todos, a de MARCGRAF, como fez o médico da côrte, Christiano Mentzel, respectivo compilador.MARCGRAF não parece, porém, ter sido o pintor da parte a óleo, que denota mão mais perita. Será de algum dos três ignarados" De EECKHOUT" De POST?Só um estudo comparativo com a obra daquele em Copenhague, permitiria uma conclusão.Pouco provável sejam de WAGNER, que nas suas quase miniaturas, reproduzindo cenas da vida da cidade ou das aldeias indígenas, revela certo acanha mento de traços e insegurança nas figuras, inferiores às belas páginas daqueles tipos de caciques índios e régulos africanos, magistrais flagrantes de verdade.Tão pouco é de presumir sejam obra de POST, como pretendem MARTIUS e VARNHAGEN, já que os caciques chilenos e lhamas da Cordilheira, os reis negros e os grandes espécimes da fauna africana, ele não chegara a conhecer.É verdade que o Rei do Sonho, potentado de Angola, mandou a MAURÍCIO, certa ocasião, emissários com ricos presentes, que poderiam ter inspirado o pintor. De MARCGRAF OU de POST, pouco importa, essas aquarelas e óleos são tão soberbos que a Biblioteca da Prússia deve se orgulhar de possuí-los, tanto mais quanto grande número deles traz anotações elucidativas do próprio punho de NASSAU. Provém da aludida coleção brasileira, cedida a FREDERICO GUILHERME DE BRANDEBURGO e da qual nos resta um inventário minucioso. Seja dito de passagem que, do mesmo Conde, possui ainda a Biblioteca, preciosos exemplares de BARLAEUS e da "Historia Naturalis Brasiliae" de 1648 (esse último iluminado a cores por mão contemporânea), em cujos frontispícios se lê a assinatura "J. MORITZ G. zu NASSAU".É também da mesma coleção um curioso banco de marfim, decorado com frutas típicas brasileiras, entre as quais, cajús e maracajás, seguramente peça do mobiliário do Palácio das Torres. Está no castelo, real de Monbijou, em Berlim, justamente colocado sob um retrato do Príncipe (o Conde MAURÍCIO fora, em reconhecimento aos seus serviços, elevado à categoria de Príncipe do Sacro Império, em 1652).Do "Theatrum rerum", de MARCGRAF e do "Zoo biblion", de WAGNER, já se tem ocupado amplamente a bibliografia alemã como a nossa.É de lastimar, porém, que as belas aquarelas, tenham permanecido inéditas, bem assim, as decorativas portadas de Menzel, para os quatro fólios da Biblioteca de Berlim, de que a revista "Velhagen & Klasing Monatshefte" reproduziu, a cores, uma pe quena seleção, no número de fevereiro de 1928.Sobre a obra de EECKOUT, há um capítulo suges tivo no recente livro "A Sereia Scandinava", em que ARGEU GUIMARÃES desvenda o vulto pouco conhecido do pintor, fazendo-lhe a relação dos quadros, que são os retratos mais antigos das raças ameríndias. Só resta acrescentar o registro do único trabalho subsistente da atividade de EEKHOUT em Dresden, depois que, de volta do Brasil, lá fora ter, recomendado por NASSAU ao Eleitor João Jorge II (1656-1680).Fato curioso, tal trabalho passou até agora despercebido aos nossos pesquisadores.É o teto do pavilhão de caça Hofloessnitz, nos vinhedos de Radebeul, arrabalde da capital saxã, mandado construir em 1650, como residência de verão, e terminado pelo sucessor de João Jorge, que o dotou das atuais decorações.Contém o teto, em caixotões, da sala de festas do modesto castelo, oitenta campos em que se vêm pintados - maiores que o natural - outros tantos pássaros do nosso nordeste, em vivas cores luminosas, com os respectivos nomes tupis ou portugueses, sobre fundos de paisagens, que provavelmente foram adulteradas por quem, em 1915, as restaurou; hoje mais européias que americanas".Como acabamos de ver, julga SOUZA LEÃO que a POST não se pode atribuir a fatura das estampas africanas e chilenas pelo fato de jamais ter estadono Chile ou em África. À segunda parte desta afirmativa denegan as pranchas da obra de BARLAEUS assinadas por POST e repreduzindo aspectos de S. Tomé e Angola.Sobre EECKHOUT publicou-se ultimamente importante obra: a de THOMAS THOMSEN, impressa em Compenhague e em 1938: ALBERT EECKHOUT Ein Niederländischer Maler / und sein Gönner / Moritz der Brasilianer / Ein Kulturbildaus dem 17 Iahr-hundert.A edição é de Ejnar Munksgaard e apresenta-se profusa e soberbamente ilustrada com inúmeras raridades para a nossa iconografia antiga.É livro que merece logo as honras da tradução para o português. Traz capítulos interessantíssimos como sejam os que se referem ao vultoso presente de JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU à Luiz xiv, nada menos de quasi uma centena de quadros de POST, EECKHOUT, WAGNER, e outros provavelmente sobre assuntos brasileiros.Além do estudo sobre este assunto feito, mas muito incompleto, por SOUTO MAIOR, nos Fastos Pernambucanos há o artigo de L. C. VAN PANHUYS: Recherche des tableaux sur le Brésil, offert par le prince Jean Maurice de Nassau au roi Louis XIV, que se encontra nos Comptes rendus do Congresso Internacional de Americanistas (XXI Sessão, segunda part, Goteborg, 1924).Declara LICHTENSTEIN suspeitar que as aquarelas sejam cópias das pinturas a óleo, visto serem menores e menos perfeitas.Foram as duas figuras da arraia pintada e da de ferrão, as únicas que GUDGER viu. No seu entender, não resta dúvida possível que hajam sido tiradas do natural e se cópia houve, deve ser a da pintura a óleo, pois parece obtida de espécime morto ou dessecado.Declara GUDGER achar-se convencido de que não se pode duvidar do fato de que MARCGRAVE haja feito todas ou quasi todas as aquarelas.O autor das pinturas a óleo porém, não pode ser tão facilmente identificado. Segundo conjeturas de LICHTENSTEIN, foram executadas por certo anônimo, que ao Brasil acompanhara o Conde JOÃO MAURÍCIO.CUVIER, VALENCIENES e DRIESEN contentam-seem afirmar que foram elas pintadas por ordem doPríncipe.PISO, na introdução de seu in-fólio de 1658, declara: "Anexei ao texto figuras, copiadas do natural, por um pintor que comigo andou errando naquelas brenhas selváticas".DRIESEN, contudo, em 1849, muito eficientemente esclareceu o mistério. Assim escreveu: "O senhor HAAGAN, diretor da Pinacoteca do Museu de Berlim, assegura que o pintor foi FRANZ POST DE HARLEM, irmão do célebre arquiteto PETER POST. Autores holandeses afirmam, categoricamente, que JOÃO MAURÍCIO apreciava grandemente certas paisagens brasileiras, pintadas sobre tela por FRANZ POST e por ele trazidas do Brasil".PETER POST ali esteve com o Conde, tendo projetado e construído o Palácio de Freiburg e os jardins que o rodeavam na ilha de Antônio Vaz como afirma NlEUHOFF."Parece-nos muito provável que seu irmão o haja acompanhado, escreve GUDGER assim mostrando a sua ignorância de um fato de real relevância na história do Brasil holandês. Segundo nos relatou RI-BEIRO COUTO provou-se ultimamente na Holanda que PETER POST jamais esteve no Brasil. Foi P. POST quem executou os projetos que NASSAU lhe pedira para as suas obras do Recife."MARTIUS, escrevendo de 1853 a 1855, chega à mesma conclusão, tendo provavelmente obtido informes de DRIESEN. Expressamente afirma que tal artista voltou à Holanda com o Conde, continua GUDGER. Mais adiante de tal se encontram provas irrefutáveis no depoimento de DE LAET, na "História do Novo Mundo ou das Índias Ocidentais", publicada em 1640. "Recebi de certo rapaz, nosso patrício, pintor bastante hábil, três figuras de outros peixes pescados por todo, naquele mar (Maranhão) na costa do Brasil".
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado