Ao leitor continuaria indeterminado este diâmetro dos olhos da arraia. Qual o da moeda saxônica corrente na Mísnia"E nesta região germânica só haveria um tipo de moeda"Como poderiam os naturalistas determinar o valor de tal dimensão pois não é crível que a moeda mísnica circulasse uniformemente por toda a Europa"Aponta GUDGER como segundo exemplo das descrições de MARCGRAVE O que ele diz de um peixe-sapo (niqui) cujo nome aliás declara desconhecer.Assim não o pôde identificar embora JORDAN e EVERMANN em seus Fishes of North America (V. III, p. 2.315), pensem se refira a um "gênero brasileiro "Marcgravia cryptocentra", talvez o animal a que MARCGRAVE chamou niqui.A excelência do livro de MARCGRAVE, continua GUDGER, o que o distingue dos trabalhos de CONRAD VON GESNER O "Plínio Germânico" e ALDROVANDI, provêm de sua absoluta originalidade. Estes naturalistas, embora muito tenham feito pela História Natural eram compiladores, copistas, homens que sistematizaram as observações dos viajantes mas que pessoalmente jamais se avistaram com a décima parte dos animais cujas figuras e descrições colocaram em seus grandes infólio.Daí o fato de se não estranhar que suas páginas estejam refertas de figuras de monstros mitológicos, que tornam às vezes, difícil aos naturalistas, modernos, dar-lhes o crédito que acaso mereçam.Mas tal não ocorre com MARCGRAVE. Esteve ele no Brasil e viveu em seus sertões. Suas figuras e descrições foram tiradas dos próprios animais e muito provavelmente na maioria dos casos do natural, pois como é sabido em Freiburg tinha o Príncipe dê NASSAU, jardim botânico com grande número de plantas do país e também gaiolas com animais assim forno tanques com peixes de água doce e marinhos.Além disto todas ou quase todas as plantas e animais de sua História Natural do Brasil eram novidade para a ciência, e tanto suas figuras como descrição são exatas que o estudante de hoje pode reconhecê-las de relance.O incidente que se segue provará o cuidado com que procedia em suas observações.Nas descrições da arraia pintada e de ferrão, deu MARCGRAVE O número de 14 dentes para o maxilar superior e 17 para o inferior. Por interessante coincidência foram esses mesmos números encontrados, no primeiro exemplar desta arraia, por mim apanhada."Anota JULIANO MOREIRA :Ao tempo em que viveu MARCGRAVE, CONRAD VON GESSER, já havia feito como diz MIRBEL, "a mais memorável e útil revolução na botânica", substituindo ao agrupamento alfabético até então usado, a primeira classificação metódica baseada sobre a estrutura da flor e do fruto, e lançando a noção do gênero como uma reunião de espécies, já CESALPINO havia lançado sua classificação dos vegetais, mas nem LINNEU nem JUSSIEU haviam ainda surgido. Apesar disto dele disse muito bem um naturalista de mérito: his work in Brazil was an epoch-making one. Referindo-se ao preciosíssimo reliquat das jornadas marcgravianas assim se exprime GUDGER à quarta parte da Memoralilia científica da expedição de JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU ao Brasil.Em 1786 JOÃO GOTTLOB SCHNEIDER insigne naturalista e filólogo, tornou ao Mundo conhecida a existência destes inapreciáveis tesouros por meio das palavras seguintes impressas no Leipziger Magazin zu Naturkunde: "Muitas vezes ouvira eu falar na coleção de pinturas originais de animais do Brasil, que o Príncipe MAURÍCIO DE NASSAU,, antigo governador do Brasil Holandês, fizera e anotara de próprio punho e finalmente após a sua volta oferecera ao grande Eleitor of Brandenburgo, que, uma vez por todas, me dispuz a examinar esses Cadernos manuscritos.Até que enfim em princípios deste ano, 1786, realizou-se o meu desejo.Encontrei a coleção na Biblioteca Real, de Berlim em dois cadernos infólio de tamanhos diferentes sob o título "ícones Rerum Brasiliensium". Todas as folhas estão numeradas, mas sem coordenação perfeita, por terem sido trazidas em dois cadernos diversos, separados um do outro.Comparando-as às figuras da História Natural do Brasil de MARCGRAVE, vê-se claramente que este transportou todas as suas melhores figuras para xilogravuras e do mesmo tamanho.Serão fieis" Acerca de tal ouçamos-lhe as próprias palavras.As notas acrescentadas estão em holandês e da lavra do próprio Príncipe, certamente e sempre con-cordantes com o texto de MARCGRAVE.Comenta LICHTENSTEIN a este respeito, observa GUDGER, O tom semigalhofeiro das notas de JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU. Assim no caso de certa folha em que há a figura do Tamanduá-guassú escreve NASSAU: "Este é o grande comedor de formigas tão grande quanto uma lontra (?). Introduz a língua num formigueiro, as formigas sobre ela sobem e ele as recolhe à boca. A língua tem cerca de meio côvado de comprido (0,33). Ele não corre de todo."São contudo muito curtas estas notas e apenas indicam os tamanhos e relação dos animais entre si, continua SCHNEIDER.Talvez não mais estejam completas as coleções. Seja como for, procurei em vão alguns esboços de MARCGRAVE; poderá haver contudo alguns que ele não tenha copiado, assim como animais que não haja conhecido.Notei geralmente, em cuidadosa comparação, que esta coleção interpreta geralmente o texto de MARCGRAVE.Também penso não possa haver erro quanto ao fato de MARCGRAVE somente apresentar gravuras feitas sobre madeira e seu desenhista raras vezes haja copiado os originais de modo inteiramente errôneo. Ao invés na coleção anotada, todos os animais estão representados pelas cores naturais, diferença esta que tantas vezes é o ponto essencial de distinção, entre as espécies e gêneros intimamente relacionados.Em seguida exprime SCHNEIDER quanto seria desejável que outros autores como BLOCH pudessem ter ilustrado seus livros valendo-se desta magnífica coleção de pinturas.MARCOS ELIEZER BLOCH não só conheceu estes desenhos como reproduziu grande número deles em sua "Ausländische Fische" e em sua magnífica "Ictiologia".No prefácio do volume VI de sua última obra datada de 1788, descreve BLOCH esta coleção de desenhos como feita sobre pergaminho branco.A primeira parte traz 32 quadrúpedes, 87 pássaros, 9 anfíbios, 80 peixes, 31 insetos, algumas conchas e estrelas do mar e uma lula; 183 folhas ao todo. Em cada uma delas há uma figura de peixe, passado, quadrúpede, anfíbio, inseto ou verme.Todas são lindamente desenhadas e parte pintadas em cores muito vivas e belas. Por cima do animal encontra-se o nome que no Brasil o distingue e por baixo a menção de seu tamanho, muitas vezes em holandês.A segunda parte também em pergaminho branco compreende dois quadrúpedes, 15 pássaros, 46 anfíbios, 45 peixes, 46 insetos e várias páginas sobre vegetais...Consta de 114 folhas, onde se encontram os desenhos mencionados e feitos pela mesma mão que traçou os da primeira parte.Não se pode negar que as reproduções destas pinturas feitas por BLOCH muito contribuíram para torná-las conhecidas pelo mundo, declara GUDGER a observar contudo que só delas veio a ter notícia, pelo prefácio do Volume VI da "Ictiologia". Quanto a sua fidelidade deixemos que CUVIER e VALENCIENNES se pronunciem."BLOCH copiou muitas destas figuras na sua Ictiologia, mas sem parecer duvidar que hajam sido desenhadas pelo Príncipe, e o que nele ainda é muito
Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay
Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado