Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay

Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado

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Oriente. As nuvens não lhe permitiram a escolha livre de uma estrela."Mars était suivant Margraff em 1 6d.8' lat. ld 56'A ascencion droite 34 20; declinaison lld45'B" escreve PINGRÉ.A altura meridiana do centro da Lua 76°14'30" ao Norte; 214 oscilações após a sua passagem, altura de Aldebaran para Leste 35°39°, sua ascenção reta 63°53' em declinação 15°44'B. Imersão e emer-são sob as nuvens.Final observado e 2' mais tarde, altura de alfa dos Peixes, 16°50' a oeste. A ascenção reta da estrela era 344°4', sua declinação 1°21'B. (Mss. inéditos de MARCGRAVE).Em 1643, a 3 de abril, tentou MARCGRAVE, sempre em Antônio Vaz, observar o eclipse lunar mas foi contrariado pela nebulosidade do firmamento Só pude ver que a Lua, não tendo mais que quatro graus de altura, o eclipse, a olhos nús, parecia ser de três dedos.Foram estes os comentários que à inspeção acurada de PlNGRÉ, os manuscritos parisienses, copiados dos originais de MARCGRAVE, sugeriram.É provável que outro e volumoso acervo das observações marcgravianas exista: o holandês.Relatou-nos o nosso ilustre colega da Academia Brasileira, RIBEIRO COUTO, que viu enorme cópia de páginas cheias de rascunhos de cálculos da lavra do astrônomo de Antônio Vaz.Ele próprio, a muitas fez fotografar pretendendo divulgá-las numa obra que visa escrever sobre o domínio holandês em nosso Nordeste. Assim o faça logo para maior e considerável engrandecimen-to de nossas letras históricas.Das observações de MARCGRAVE as que melhor se documentam ou pelo menos as que se tornaram mais notórias pela publicidade foram as que se referem ao eclipse solar de 13 de novembro de 1640 e as meteorológicas publicadas na História Naturalis Brasilae e na obra de Piso.No Rerum per octennium de BARLAEUS há larga referência ao eclipse que aqui transcrevemos, mercê da excelente tradução da lavra do DR. CLÁUDIO BRAN-DIO, e iniciativa excelente do Sr. Ministro GUSTAVO CAPANEMA."No fim do ano de 1640, houve um eclipse do sol, quase total para o Brasil. Noto-o aqui, não como um fato maravilhoso para o nosso tempo em que já se tornaram conhecidas as causas deste fenômeno, mas por ter sido ele recebido como feliz agoiro pelos cidadãos benévolos, isto é, por aqueles que se com-vprazem em prometer aos príncipes mediante a observação dos astros, o favor do céu e a indulgência de Deus.Animavam eles os que esperavam na realização dos seus votos, e, interpretando esta privação da luz celeste como o o caso e desaparecimento do esplendor hispânico nas terras do Ocidente, exaltavam ao Conde por quem pôde ser empanado o intenso fulgor do poderio real.Ocorreu o eclipse a 13 de novembro. Em Mau-rícia começou às 10 horas e atingiu o máximo às 11, obscurecendo-se três quartas partes e 28' do disco solar de sorte que ali ficou brilhando menos de um quarto dele. Às 12 horas e 47 minutos, de novo res-plendeu com a plenitude da sua luz.Tomou o eclipse aspectos diversos conforme os países onde era visível, em razão das diferenças de longitude e latitude da esfera celeste. Assim, em Nicarágua mostrou-se o sol inteiramente imerso na sombra da lua; mas contemplaram-no sob outra forma os habitantes de Cartágena e do Rio de Santa Marta, ao norte da América Meridional, e bem assim os de Porto Seguro, no Brasil, os angolenses, na África e os moradores do Rio da Prata e do estreito de Lemaire.Entre outras provas de louvável curiosidade e inteligência dadas pelo ilustre Conde JOÃO MAURÍCIO figura esta pouco vulgar: mandou desenhar e descrever esse eclipse pelos seus astrólogos, os quais traz consigo, na paz e na guerra, a exemplo dos maiores e mais célebres generais, que, no meio dasbatalhas, se entregavam à contemplação do céu e ,dos astros, como se diz de CÉSAR, em Lucano.Além disso, deu instruções a todos os capitães de navios que iam fazer-se ao mar para cada um deles, no lugar onde se achasse, observar atentamente e notar no papel o futuro eclipse em todas as suas fases e aspectos. Para agrado dos que se comprazem em conhecer os fenômenos da máquina celeste e as constantes alternativas dos planetas, ponho ao lado a representação deste eclipse, em todas as suas fases, conforme desenhou, com todo o rigor astronômico, JORGE MARCGRAVE, que o Conde tinha por seu astrólogo naquele mundo bárbaro".É interessante o aproveitamento da ocorrência do eclipse feita pelo panegirista para o reforço das loas ao seu sempre gabado Príncipe.Anotando a este trecho comenta o DR. BRAN-DÃOS "Comquanto MARCGRAVE seja conhecido principalmente como naturalista este passo de Barléu aponta-o claramente como astrólogo".Na primeira metade do século XVII era ainda regra geral que os astrônomos fossem ao mesmo tempo cultores da astrologia., Cuidavam de ciência pura e cultivavam o empirismo miliar astrológico. Assim como da alquimia procedeu química no século XVIII com LAVOISIER, PRIESTLEY, CAVEN-DISH, SCHEELE, etc, da antiquíssima astrologia caldaica e egípcia nasceria a astronomia seiscentis-ta de KEPLER e GALLILEU, NEWTON e HUYGHENS.Era MARCGRAVE ao mesmo tempo astrônomo e astrólogo, como os seus mestres LOURENÇO DE ElCHS-TADT e GOLLIUS e como demonstram os interessantíssimos e numerosos horóscopos de sua lavra ultimamente encontrados na Holanda em feliz achado de RIBEIRO COUTO.As observações do eclipse de 13 de novembro de 1640 não foram de ordem astrológica e sim rigorosamente astronômicas.Se assim não fosse não encontrariam guarida nas páginas de um livro da autoridade dos Anais celestes do Século XVII que ainda ultimamente mereceram a consagração partida de um astrônomo do altíssimo valor de BIGOURDAN.A observação do DR. BRANDÃO leva-nos a deduzir que o seu traduzido o bom GASPAR DE BAERLE não sabia distinguir as operações astronômicas das astrológicas. E assim imaginou que MARCGRAVE (a quem aliás qualifica de peritissimus) andou a aproveitar-se do que os aspectos do céu lhe proporcionaram naquele treze de novembro com o fito de ilações e conjeturas para a devassa do futuro de seu querido Príncipe, homem como CESAR inclinado à perserutação do céu e dos astros.Talvez se interessasse, especialmente até, pelas observações do eclipse de 13 de novembro por que o Sol era o grande inspirador da glória, e amigo dos heróis, dos fortes de corpo e de alma, embora às vezes se mostrasse cruel e pérfido. Desejaria quiçá captar, a influência do Astro-Rei para contrabalançar os efeitos nefastos de Saturno, astro frio e tris-tonho dominador dos alcançados de inteligência, ou os da Lua, outro "planeta" nefasto fautor da versatilidade, da mentira e da bajulação em contraposição à protetora daqueles felizardos nascidos sob o famoso signo venusino, a quem o lindo astro, estrela dos pastores e da alva tornara belos, gentis e sobretudo galanteadores cheios de êxito.Que admirava tivesse NASSAU astrólogo oficial" E o consultasse e ouvisse" Quiçá houvesse MARCGRAVE chegado mais cedo e o demovesse do desastra-díssimo assalto à Baía...Tão comum se mostrava que os mais célebres soberanos e cabos de guerra fossem constantemente assistidos por astrólogos! Estava Ana d'Áustria a dar a luz ao futuro Luiz XIV em 1638 e na câmara, ao lado, um astrólogo traçava o horóscopo do futuro Rei-Sol. Nesta ocasião achava-se MAURÍCIO DE NASSAU no Brasil...Não era este o caso de um dos mais famosos monarcas o de Luiz XI com o seu JACOPO GALLEOTTI? Não era exatamente também o de um dos mais ilustres capitães contemporâneos, do Universo, o adversário -