Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay

Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado

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grau de longitude no planalto do Equador em 1735 (?).Conta GUDGER que examinou as obras de D. ANTONIO DE ULLÔA, e com o maior cuidado nada nelas encontrando que revelasse o conhecimento dos trabalhos de MARCGRAVE, pelo famoso cientista espanhol do século XVIII.Um único dos manuscritos astronômicos de MARCGRAVE chegou até nós, escreve GUDGER, em seu excelente ensaio biográfico.BARLAEUS (1647) parece ter conservado o que Piso publicou, no seu infólio de 1658, o Tractatus Topographicus et Meteorologicus Brasiliae cum Eclipsi Solari (de 1640). Se bem que este seja baseado nas próprias observações de MARCGRAVE, é sabido que para dar-lhe mais desenvolvimento, o Conde MAURÍCIO ordenou a todos os capitães de navios holandeses que fizessem cuidadosas observações e mesmo desenhos do eclipse e os entregassem a MARCGRAVE.BARLAEUS, cujo prefácio está datado de 20 de abril de 1647, e de Amsterdã, ao enaltecer a João MAURÍCIO DE NASSAU, escreve depois de lhe louvar imenso os talentos do chefe militar e administrador:"Enriqueceu e ornou com edifícios, vilas e cidades. Construiu pontes e palácios para utilidade e beleza. Erigiu em parte por sua munificência, um templo para a piedade e o serviço divino".Acompanhemos o texto do famoso autor bata-vo-brasileirO' mercê de ótima tradução de CLÁUDIO BRANDÃO:"Teve consigo e favoreceu, na paz e na guerra os mais eminentes artistas: arquitetos, geógrafos, pintores, escultores, para que eles mostrassem, vencidos, aos holandeses de além mar, os lugares, as terras e as cidades que ele próprio vencesse. Julgava legítimo que o cultivo do engenho deveria acompanhar o império aonde ele fosse.Mandou desenhar cartas geográficas, com grande cuidado e à sua custa, nas quais se representavam as cidades, vilas, povoações, fortalezas, lagoas" fontes, cabos, estâncias navais, portos, rios, escolhos, engenhos, igrejas, conventos, plantações, posição das regiões, sua longitudes e latitudes e outras coisas sendo autor delas JORGE MARCGRAVE exímio geógrafo e astrônomo o qual, incumbido de fazer o mesmo, na África, lá morreu",Assim, pois, cabe a MARCGRAVE a responsabilidade daquela grande cartografia que ilustra a obra de BARLAEUS, cartografia que está a pedir o exame dos especialistas para que se possa ter idéia exata de sua valia.Pelas palavras do próprio MARCGRAVE tinha ele em muita alta conta as observações que realizara com "grande empenho" e "terminara com o favor de Deus". E "obra até então por se fazer e ninguém empreendera!"Concluindo o capítulo sobre as atividades astronômicas de MARCGRAVE, observa GUDGER:"Assim como a torre de Vryburg, entregue a MARCGRAVE, foi provavelmente o primeiro observatório astronômico construído no hemisfério austral, assim, também, é provável que as observações de MARCGRAVE sobre as estrelas meridionais hajam sido as primeiras realizadas na história do mundo. Por este motivo, e não atendendo mesmo ao seu valor científico, a sua perda é irreparável".Muito felizmente, não somente astrônomo era MARCGRAVE observa JULIANO MOREIRA.Esclarece-nos BARLAEUS O principal objetivo da comissão de MARCGRAVE na África Ocidental, o do levantamento hidrográfico e geográfico.Convém lembrar que, valendo-se dos acontecimentos que se seguiram à restauração portuguesa de 1 de dezembro de 1640 e violando perfidamente a trégua entre Portugal e as Províncias Unidas, a princípio tácita e mais tarde assinada (12 de junho de 1641) ordenara o governo holandês a 28 de março de 1641, a MAURÍCIO DE NASSAU que quanto possível aproveitasse do momento para alargar o domínio neerlandês à custa do império colonial português.Mas já se antecipara o Príncipe a esta ordem, mandando ocupar Sergipe em maio de 1641.A 25 de agosto imediato a esquadra do Almirante Jol, o perna de pau, levando a tropa do Coronel Henderson, apossou-se de S. Paulo de Loanda, e a 11 de outubro seguinte, da Ilha de S. Tomé, pontos da maior importância como base do tráfico negreiro.A 25 de novembro imediato dava-se a invasão e a ocupação do Maranhão.É sabido que Angola só foi reconquistada em 18 de agosto de 1648 pela expedição fluminense de Salvador Corrêa de Sá e Benevides; quando porém já desde quatro anos havia JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU deixado o Brasil.É provável que passando à África aproveitou-se MARCGRAVE do ensejo para repetir o que no Brasil e com tanto êxito fizera: coletar enorme material botânico e zoológico absolutamente inédito para a ciência.Continuando a falar de MARCGRAVE, diz BARLAEUS: "Para lhe ser agradável mandou o Conde JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU construir numa eminência um observatório, onde se estudassem os movimentos, o nascer, o ocaso, a grandeza, a distância e outras coisas referentes aos astros"."A estes estudos juntou ainda aquela diligência com que fez desenhar e pintar artisticamente os animais de várias espécies, as maravilhosas formas dos quadrúpedes, assim como das aves, peixes, plantas, serpentes e insetos, os trajos exóticos e as armas dos povos".Ao redigir estes tópicos declarava o autor do Rerum per octennium que havia grande e geral es-pectativa de que brevemente "tudo devia sair a lume com as respectivas descrições".A JOÃO MAURÍCIO causavam o mais vivo prazer, os trabalhos do seu naturalista astrônomo denunciado pelos altos louvores endereçados a quem chamava seu mestre, informou o próprio MANSFELD comandante da escola, a MANGET, no dizer de GUDGER.Afirma CHRISTIANO MARCGRAVE que seu irmão redigiu um diário de suas jornadas pelo interior do Brasil. Pelo menos de três delas a de 1638, a de 1640 de que escreveu minudente notícia. Não sabia porém o destino dos diários dos restantes três e meio anos, a saber de 1641 a 1644.Foi sobretudo nestas entradas pela floresta que MARCGRAVE realizou estupenda colheita de material, de que muito a propósito disse ALFREDO DE CARVALHO de acordo com DRIESEN, LICHTENSTEIN e outros:"Era tão avultada sua cópia que o gabinete do Conde, os museus de duas Universidades e várias coleções particulares foram com ela enriquecidos e por mais de um século a ciência se nutriu desta provisão".É certo, também, que o Conde, para atender a solicitações de MARCGRAVE, fez vir da África e do Pacífico, material para confrontar com o encontrado no Brasil por isso que aquelle sábio ocorrera trazer uma espécie de mapa da distribuição geográfica das plantas e dos animais".GUDGER é mais minucioso de que o autor brasileiro :Nas suas excursões de colecionador, MARCGRAVE parece ter explorado muito detidamente a parte norte-oriental do Brasil, particularmente as regiões compreendidas pelos atuais Estados de Pernambuco, Paraíba, e Rio Grande do Norte. Não sabemos quantas destas jornadas de exploração empreendeu MARCGRAVE; mas, que pelo menos foram elas três, é certo pela seguinte razão. Parece que, desde a época em que deixou a Holanda, MARCGRAVE redigiu um diário, e que este diário dos anos de 1638, 1639 e 1640, caiu em mãos do ignorado colaborador de MANGET. Este declara expressamente que tais excursões foram descritas dia por dia e que tinha em seu poder o respectivo diário. O que sucedera aos diários dos outros três anos e meio (1641-1644), não sabia dizer.A primeira destas jornadas encetou-se a 21 de junho de 1639 e durou trinta e nove ou quarenta dias; a segunda, iniciada a 20 de outubro de 1640,