Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay

Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado

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LIANO MOREIRA realizou. Mas distraidamente pois no verbete aliás minúsculo consagrado ao precursor da astronomia no Novo Mundo há uma circunstância que ao biógrafo brasileiro esapou.É esta a referência de LALANDE: Marcgraff 1638, 1643 Les obsertions sont au Dépôt, P.Este P quer dizer que o informador foi PlNGRET como ele escreve ou PINGRÉ como grafa o dicionário de LAROUSSE. Este PINGRÉ (ALEXANDRE GUIDO) CÔ-nego regular de Santa Genoveva, foi notável astrônomo nascido e falecido em Paris (1711-1796).A princípio, professor de teologia, angariou depois justa nomeada como astrônomo; serviu comobibliotecário de S. Genoveva, em Paris, e chanceler da Universidade. Foi ao Oceano Indico, à ilha Rodrigo, e a S. Domingos, nas Antilhas, para observar a passagem de Vênus sobre o Sol; compôs um tratado notável sobre os cometas e escreveu uma História da Astronomia de TYCHO BRAHE a 1790.Esta última o levou a largas pesquisas e ao encontro com os manuscritos de MARCGRAVE e nos arquivos do Ministério da Marinha de França.A obra de PINGRÉ não se imprimiu, mas LALANDE, seu contemporâneo (1732-1807) teve o ensejo de ler a referência transcrita em sua Bibliographie as-tronomique. Capítulo VIMarcgrave, primeiro astrônomo do novo mundo. - seus trabalhos cartográficos. - o "tractus topographicus et meteorólogicus" e as "tabulae mauritii astronomicae". - o acervo cifrado comunicado a golius. - o observatório de vryburg. - perda dos diários das jornadas naturalistas.No terceiro tomo de sua obra, refere LALANDE, a propósito da obliqüidade da eclíptica que FLAMSTEED - "le plus celebre observateur d'Angleterre", o primeiro diretor do famoso observatório de Greenwich examinou as observações de MARCGRAVE, confrontan-do-as com as de TYCHO-BRAHÉ, HEVELIUS e outros e com as próprias. (III t. pág. 142).Evidente, porém, é que dos manuscritos astronômicos de MARCGRAVE SÓ escapou, graças a BARLAEUS, o Tractatus topographicus et meteorólogicus que Piso publicou em sua edição de 1658. As cartas geográficas do Brasil que ilustra a obra de BARLAEUS são porém do punho do sábio saxão.Em relação aos trabalhos matemáticos e astronômicos de MARCGRAVE pouco se sabe, recorda GUDGER. Pouco se conhece de sua extensão e muito menos de seu escopo.Não pode haver dúvida de que tenha levantado plantas para acampamentos, cidades e fortificações assim como, delineado mapas das regiões exploradas, refere-nos o seu biógrafo da coletânea de MANGET.DRIESEN DE CRANE, e VAN KAPEM, afirmam que MARCGRAVE delineou quatro cartas especiais do Brasil e que o Conde MAURÍCIO, de volta à Holanda, mandou gravá-los em cobre e imprimir em larga tiragem. Devem ser os mapas que MANGET diz terem sido freqüentemente ornamentos comuns das paredes dos vestíbulos das casas dos holandeses, das classes superiores. Mais tarde deles se fez segunda edição, com omissão do nome de MARCGRAVE, com grande prejuízo de sua nomeada portanto."Sabe-se, também, que o Conde MAURÍCIO trouxe consigo, de volta do Brasil, manuscritos do sábio de Liebstadt, de natureza muito mais importante do que o resto da obra que logrou ser publicada". Continua GUDGER:"DE LAET, que foi o testamenteiro literário de MARCGRAVE, informa-nos no prefácio do infólio de 1648, que, de notas achadas entre os papéis de MARC-GRAVE, se conclui haver o nosso autor reunido as suas observações matemáticas e astronômicas em uma grande obra, dividida em três partes, sob o título de "Proginástica Matemática Americana"."A primeira seção trata da astronomia e da ótica, e contém uma relação de todas as estrelas meridionais, situadas entre o trópico de Câncer e o polo antártico; muitas observações diversas sobre todos os planetas e os eclipses solares e lunares, calculadas por processo original; novas e verdadeiras teorias, relativas aos planetas inferiores, Vênus e Mercúrio, baseadas em observações especiais, a teoria das re-frações e paralexes determinando a máxima obliqüidade da eclíptica, e finalmente, observações não só sobre as manchas do sol, como sobre outras raridades astronômicas. A segunda seção, a geográfica e geodésica, contém a teoria da longitude da terra e o processo para calculá-la, demonstrando as verdadeiras dimensões da terra segundo observações especiais e patenteando os erros dos geógrafos antigos e modernos. A terceira se baseia nas duas precedentes e consiste nas Tabulae Mauritii astronomicae". (Pergunta-se: calculadas no observatório de Mau-rícia, ou dedicadas a MAURÍCIO?)A tal respeito explica JOÃO DE LAET;"Achei este título entre as fichas de MARCGRAVE mas somente o título. Se terminou a obra e o que dela foi feito, ignoro. Este título está porém subscrito "obra desejada e por ninguém até hoje tentada graças à munificência do ilustríssimo e excelentíssimo herói Conde JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU, sumo governador de terra e mar, obra começada felizmente e igualmente terminada, com o favor de Deus, depois de muitos trabalhos, na nova cidade Maurícia situada no Brasil, região da América Austral pelo Autor JORGE MARCGRAVE, germano de Liebstadt."Prossegue GUDGER:De certos trechos dos vários prefácios e introduções a ambos os infólio de 1648 e 1653, parece as-saz provável que a Piso foi confiada à guarda destes MSS.; pelo menos é certo que todos os papéis das primeira e segunda seções, foram, por ordem do Conde MAURÍCIO OU de DE LAET, entregues, para serem editados e publicados, a GOLIUS, o astrônomo de Leyden, e antigo professor de MARCGRAVE. Infelizmente é plausível que hajam sido perdidos. Pelo menos é certo que nunca foram publicados.Reproduz o professor de Greensboro uma hipótese de LlCHTENSTEIN:"Acaso tivessem sido divulgados e talvez lhe coubesse a glória que mais tarde conquistaram os franceses de la Caille e La Condamine".Perfilhava o grande zoólogo aliás a opinião de DE CRANE, que chega a dizer que o grande HUY-GHENS "apenas redescobrira algumas das coisas já observadas por MARCGRAVE".Expende GUDGER:"DE CRANE, seguido por VAN KAMPEN e DRIESEN, que sem dúvida o copiaram, alega que a razão pela qual GOLIUS nunca publicou estes MSS. foi o estarem escritos em cifra. Isto, entretanto, parece erro, pois não o confirma DE LAET, nem nenhum dos outros biógrafos de MARCGRAVE, segundo me consta.Realmente, no prefácio de JOÃO DE LAET, lê-se que MARCGRAVE deixou volumosos manuscritos cifrados, mas dá a entender, serem os que tratavam da História Natural, não fazendo referência especial às observações astronômicas.Entende GUDGER que o aproveitamento por FLAMSTEED das observações de MARCGRAVE parece indicar que os aludidos MSS. não eram cifrados.Alega DE CRANE que o exemplar se acha nos arquivos da marinha francesa, e VAN KAMPEN pensa que estes papéis caíram em mãos dos espanhóis (não diz como) e foram aproveitados por GODIN e D. AN-TONIO DE ULLÔA no seu trabalho de medição de um