Escorço biográfico por Affonso de E. Taunay

Escrito por Taunay, Alfonso e publicado por Museu Paulista. Imprensa Oficial do Estado

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capítulo vOs companheiros de marcgrave da missão científico-artística de joão maurício de nassau. - cralitz e sua morte prematura. - guilherme piso. - francisco plante. - recursos abundantes fornecidos a marcgrave pelo príncipe. - construção do observatório da ilha de antônio vaz. - primeiros trabalhos de marcgrave.

A propósito da missão científica e artística trazida ao Novo Mundo por JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU cita GUDGER os conceitos laudatórios e exatos do ilustre ornitólogo inglês WILLIAM SWAINSON "a corroborar outros de quantos escreveram sobre o Príncipe"."É quase inconcebível como este homem ilustre, cuja vida, neste período, devia parecer consumida nos acampamentos, pudesse achar lazer para pensar sequer em ciência, quanto mais para cultivá-la com de-votamento. Entretanto, tamanhos eram a versatilidade de seu espírito e o seu poder de abstração, que isto realmente sucedia. Não só protegeu e auxiliou os trabalhos dos que empregava nestes labores, como ocupou-se em pessoa, em descrever e desenhar os vários animais novos do Brasil, e isto nos períodos mais árduos de seu governo".Nesta expedição levou em sua comitiva. FRANZ PLANTE, seu capelão particular (que depois foi professor de teologia em Breda) e GUILHERME PISO, seu médico, aos quais se juntaram depois JORGE MARCGRAVE, astrônomo e geógrafo, e HENRIQUE CRALITZ, jovem estudioso alemão, que infelizmente faleceu pouco depois de chegado ao Brasil.Esta última asserção não é exata. CRALITZ não chegou a desembarcar no Brasil como nos assinalam JULIANO MOREIRA e RODOLPHO GARCIA.Morreu a bordo segundo o depoimento de Piso, aos trinta anos de idade e repentinamente immatura morte suffocatus. Piso era médico do CONDE MAURÍCIO continua GUDGER, e cirurgião-mor das tropas. Parece que também chefe dos trabalhos científicos da expedição no pensar de DRIESEN E DE CRANE, porquanto era muito mais velho e mais experimentado do que MARCGRAVE.Contudo, no que respeita aos estudos de história natural, Piso limitou-se estreitamente ao aspecto puramente médico. MARCGRAVE, pelo contrário explorou campo muito mais vasto. Certamente exerceu também a medicina; mas as suas principais atividades foram consagradas à astronomia, à geografia e à história natural, em cujos jdomínios realizou enorme soma de trabalho.A diferença de idade é que não existia senão a favor de Piso. Segundo as pesquisas de JULIANO MOREIRA era mais moço e não mais velho do que MARC-GRAVE pois nascera em 1611, quando o seu êmulo era de 1610 como sabemos. Os grandes dicionários enciclopédicos em geral aliás tão pouca importância atribuem tanto a MARCGRAVE como a Piso que deixam indeterminados muitos dados sobre estes dois célebres companheiros na exploração científica do Brasil holandês Assim o Grana, dictionnaire encyclopedique do XIXème Siècle de P. LAROUSSE apenas nos conta que Piso nasceu em princípios do século XVII.Continua GUDGER:MARCGRAVE, que parece possivelmente já ser conhecido do CONDE MAURÍCIO na Holanda, dentro de poucos meses após a sua chegada ao Brasil conseguiria angariar as boas graças do patrono. MANGET assegura que foi isto devido, em primeiro lugar, ao fato dele possuir alguns conhecimentos de arquitetura militar. Destes, provavelmente, serviu-se o Conde ao edificar a sua nova capital, Mau-ritia, nas cercanias de Olinda.Fosse, porém, como fosse, certo é que MARCGRAVE subiu rapidamente na estima do chefe, pois sabemos que este último construiu para ele, em 1639, um observatório astronômico de pedra, em Mauritia donde MARCGRAVE estudou os movimentos das estrelas, aparições e ocultações, volume, distâncias e outras particularidades.À torre do observatório prossegue GUDGER seria provavelmente uma das duas do palácio de Friburgo na cidade Maurícia, torre avistada de alto mar já a seis ou a sete léguas da costa no dizer de NIEUHOF.Viria ali a estabelecer-se o primeiro observatório ereto no hemisfério austral e no Novo Mundo, observa GUDGER com todo o critério e propriedade.Ao mesmo tempo fornecia-lhe o Conde uma escolta de soldados, para o acompanhar pelas zonas que explorava, de modo que lhe fosse possível caçar, capturar, colecionar e secar animais selvagens, de todas as espécies, peixes, pássaros e plantas: com os quais, colecionados, conservados e apresentados ao CONDE MAURÍCIO como se estivessem vivos (isto é. empalhados), deu grande prazer ao Príncipe e para si atraiu os mais altos louvores.Tal informação foi fornecida a MANGET pelo CORONEL MANSPELDT, comandante da escolta.Ao irmão de MARCGRAVE escreve JULIANO MOREIRA, parece inconteste que o Conde já o conhecia: Mais se lhe afeiçoara, porém, no Brasil por ter logo de início verificado que entendia de castrametação, aproveitando-se de seus conselhos para a construção da sua cidade Mauritia. O certo é que no ano seguinte no Palácio chamado de Friburgo (Vryburg), construído na ilha de ANTÔNIO VAZ segundo os planos de PEETER POST, em uma de suas torres, visíveis à distância de seis a sete léguas do mar e servindo de fanal aos ma-reantes, já MARCGRAVE instalara o seu observatório, primeiro ereto não só no Brasil como no Novo Mundo.Ali foram colhidas as primeiras observações meteorológicas e astronômicas efetuadas em toda a América e que forneceram os dados do Tratatus to-pographicus et meteorólogicus Brasiliae cum obser-vatione eclipsis solaris (o de 1640), publicado na obra de GUILHERME PIES: - De Indiae utriusque Re naturali et medica. A tal propósito, escreveu GASPAR VAN BAERLE, o tão conhecido BARLAEUS: em sua Rerum per octe-nium in Brasilia... história: Longitudines ac latitu-dines alioque, mira accuratione representatur, autore GEORGE MARCGRAVIO, geografo et astrologo exímio qui idem facturus apud astros factis ibidem concessit. Estes manuscritos na opinião de DE CRANE, de DANIEL VEEGENS e DRIESEN, OS melhores biógrafos de JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU, não se imprimiram porque escritos em caracteres secretos, tornou-se impossível, interpretá-los. Inconteste é que foram enviados a GOLIUS, o astrônomo de Leyden e antigo mestre de MARCGRAVE, que por certo não os publicou por lhe ter sido impossível decifrá-los. É esta a versão corrente.Entretanto, diz o célebre astrônomo francês LA-LANDE em sua Bibliografia Astronômica que as observações de MARCGRAVE de 1638 a 1643 "sont au dêpot (de la marine de France)".Na segunda edição de sua Astronomia (1771) o mesmo sábio escreveu:"J'ai aussi trouvé dans les manuscripts de M. DE l'LSLE La notice d'observations de M. DE LA HIRE et de plussieurs autres astronomes, observations qui n'on point été publiées: telles sont celles que MARCGRAF fit en 1630 dans l'Isle de Vaaz au Brésil, qui sont au depot, mais orginal est resté à Cadix, avec les manuscripts de LOUVILLE et beaucoup d'au- três que M. GODIN y avait emportés et que l'on croit être entre les mains de D. ANTONIO DE ULLOA (II, pág. 160).Consultou GUDGER a segunda edição da Astronomia de LALANDE mas não percorreu a Biblioteque As-tronomique deste celebrado astrônomo, coisa que Ju-