APÊNDICEDAS Ovelhas Peruanas e Chilenas. Q U A N D O na descrição da Índia Ocidental tratei dos animais peculiares do Perú, 1. x. c. IV segundo Acosta, que podia otimamente saber, apresentei a história das ovelhas peruanas, como vulgarmente se diz, e afirmei que duas são suas espécies: uma coberta de lã, cha mada Paco; outra quase nua com uns pêlos apenas. Da primeira qualidade encontram-se também no Chile; mas antes de falar dos chilenos, importa dar uma imagem e descrição da segunda, conforme a Epist. P. And. Mathioli, para que se manifeste mais facilmente a diferença. Este, no lib. V. Epist. ad Joan Odorico Melchior, assim diz: Meu Seren. Príncipe comprou, faz poucos dias, de um certo Theodorico Neus Coloniense um certo animal trazido da região das Índias Ocidentais do Perú e daí para a cidade de Mitteloburgo de Selândia. Diz que esse animal é em parte camelo, em parte veado, de sorte que poderia ser chamado em grego, como penso IXa-<Doxáp]Xov.O comprimento do corpo, da cabeça à cauda é de seis pés; a altura do dorso à planta dos pés de quatro so mente; o comprimento do pescoço dos ombros à cer viz, de dois. Na cabeça, pescoço, boca, a fenda, principalmente do lábio superior é semelhante ao camelo; a cabeça, porém, é um pouco mais oblonga; as orelhas como as do veado; os olhos bovinos. Não tem dentes anteriores, na mandíbula superior, mas possui os molares, de uma e outra parte, como todos os animais fissípedes, e como eles rumina. Tem o dorso sensivelmente proeminente, o que não vem representado por incúria do pintor. Os ombros são caídos, junto do pescoço, com os lados entumecidos; o ventre largo, e nádegas elevadas; a cauda é curta quase do tamanho de um palmo. Nestas coisas se assemelha ao veado, bem assim também nas pernas, principalmente posteriores; os pés são fendidos, sendo feita a divisão, na parte anterior.As unhas são pontudas, encontrando-se ao redor do pé, numa pele grossa, porquanto a planta do pé não é coberta com unha, porém com uma pele, como acontece com os multifendidos e o camelo. Este animal urina para trás, como faz o camelo, e tem os testículos delgados. O peito é amplo; debaixo dele, onde o tórax se une ao ventre, nasce uma bola, como no camelo, semelhante a um tumor do qual parece sensivelmente manar um certo escremento, A cor do pescoço, cerviz, peito e parte anterior das pernas é branca; a do resto do corpo, avermelhada ou vermelho escuro: a cara é preta; a parte anterior das pernas, a partir do joelho, é branco. Este animal é doméstico e manso, mas avesso ao frio como os outros que nos são trazidos de climas quentes. Não assalta a ninguém, mas com admirável habilidade se defende de alguma injúria a ele feita. Quando alguém o incomoda ou o oprime, junto das nádegas, não se defende com coice ou dentada, mas lançando com ímpeto contra o assaltante vômito do alimento, ou secreção, o que pode executar, graças ao comprimento do pescoço.Este animal é muito libidinoso; é prova disso o fato de que, quando não tem fêmea da mesma espécie, com grande ardor, entra em contato com as cabras, que não ficam então de pé, como sucede na cópula com os cabritos, mas ficam deitadas por terra, ao que são levadas pela violência que este animal lhes faz com as pernas, não porém desviando as nádegas como erradamente afirma Aristóteles acerca dos animais que urinam para trás. Este animal é tão estimulado pelo ardor venéreo, no tempo do verão e outono, que cheguei a vê-lo ter descido para um estábulo cheio de areia e aí ter esfregado com grande ruído o órgão genital até ex pelir o sêmen; o que repetiu várias vezes, no espaço de uma hora.As cabras fecundadas por este animal não conceberam quer porque copularam coagidas pela força, balando continuamente, quer porque não convém com ele em espécie.
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado