História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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A vinte de julho de 1639, recebi uma destas e lhe dei batatas para alimento por alguns dias; punha então ovos quotidianamente; depois nada lhe dei e ainda viveu até o fim de abril de 1641, tomando só um pouco d'água algumas vezes e residindo sempre, debaixo de minha casa. Suportou assim a inédia, durante vinte e um meses. Emite um som breve como a rã Kick-Kick, mas somente uma ou duas vezes e isto raramente.JACARE (termo indígena). Cayman (termo do Congo). Crocodilus (nas línguas latinas). Possuí seis do comprimento de sete, oito ou nove pés. Têm a cabeça chata e boca arredondada ou de figura oval. O hiato da boca é amplo, pois pode abri-la até muito acima dos olhos; na man díbula superior e inferior, encontram-se numerosos dentes, agudos, uns mais longos, outros mais curtos. Pode mover a mandíbula superior; quase não tem língua, mas somente uma membrana, que jaz na mandíbula e apresenta a figura de língua a qual contudo não pode ser levantada. Os olhos são grandes, redondos, claros, verdes-gaios (não como os do porco) com a pupila preta; as pernas e os pés são em número de quatro; as pernas da frente são mais finas (para que não possa engrossar demais) mais curtas com cinco dedos, nos pés, três dos quais, sitos no centro, têm unhas pretas, como as aves; as laterais não têm unhas. As pernas traseiras são mais grossas e mais longas, possuindo quatro dedos, igualmente com unhas pretas, como as aves; o exterior não tem unha, o corpo se estende em forma de uma longa cauda. To4o o "tronco é coberto de uma pele escamosa; na cabeça, parte superior do corpo e cauda se acha uma couraça. Na parte inferior do corpo, as escamas são quase quadradas, moles e lisas; dos lados elas tomam várias figuras e têm tubérculos; em parte são pretas; em parte, amareladas; da mesma forma são os lados da cauda e as pernas. A parte superior da cabeça é muito sólida, guarnecida de uma couraça de cor escura com mescla de amarelo; a parte superior do pescoço é coberta de es camas ornadas com túberculos maiores. O dorso e longa parte da cauda são cobertos transversalmente por muitos longos paralelogramas; são estas escamas duras de cor mesclada de amarelo e escuro; levantadas em certos intervalos. A última metade da cauda é dotada até o fim de uma nadadeira sólida, levantada, na parte superior com a qual se dirige, na natação, como os peixes. Esta nadadeira consta de muitas escamas de cor amarela com elegante variedade de linhas escuras. A cauda é quase cingida de anéis escuros; sendo uma parte intermédia amarela, entrecortada de umas elegantes estrias escuras. A carne é semelhante à do peixe, nem tem mais sangue do que eles, em pequena quantidade; os negros comem esta carne. Põe ovos quase maiores do que os da galinha, de figura quase cilíndrica, aptos para se comerem e de bom sabor; são cobertos de uma casca branca, muito dura, coberta de tubérculos. Encontram-se muitas vezes vinte e oito ou trinta ovos, num só ninho. No estômago deste animal encontrei muitos caranguejos e pequenas unhas de algum animal. Nota. Observa o que disse desse animal conforme Fr. Ximenes, no lib. v, Desc. Ind. Occid. cap. IV. Observei os remédios preparados com as glândulas sitas debaixo da garganta e com o estômago; omiti, porém, o que o mesmo escreve. Este animal, quando não encontra alimento, devora pedrinhas; achei-as muitas vezes um tanto digeridas no seu estômago. Tomando-se o pó destas pedrinhas, pode se obter a cura de cálculos renais. Amore pinima. Desta serpente só encontrei a imagem, sem descrição alguma. O pintor só havia declarado que mede dois pés e meio de comprimento e sua pele é fusca e que existem umas manchas lácteas na parte interna e rodeadas de cor cinzenta.