História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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É formado de uma substância plana, lisa, transparente, seca, de uma cor mesclada de branco e cinzento carregado. Esta serpente é eminentemente venenosa, nem existe antídoto conhecido contra seu veneno. Nota. Descrevi esta serpente lib. XV, cap. VI, Américas. Recebi depois da Nova Bélgica (porquanto se encontram na parte setentrional da América, embora não em tanta quantidade) uma casca desta serpente com a cabeça (nela ainda se viam os dentes maiores e menores) e a cauda. O chocalho tinha sete partes e era do comprimento de dois dedos transversais; toda a pele media mais de quatro dedos de comprimento e sua maior largura era de dois. A série das es camas e sua cor concordava com a descrição do autor.CURUCUCU (termo indígena). Serpente de oito ou nove pés de comprimento e mais grossa do que a Boicininga; de escamas como a que vem pintada, mas de cor amarelada, marchetada de grandes manchas pretas pelo dorso; isto é em todo o amarelo, acha-se uma grande mancha preta; no preto, porém, duas amarelas; em algumas pretas uma única amarela e assim por diante. No ventre, acham-se umas escamas longas, amareladas, semelhantes às da Boicininga, Esta serpente é venenosa. Nota. No Lib. XV, cap. VI Ind. Occid. assim descrevi esta serpente, conforme um autor português: cobra terrível e muitíssimo de se temer, chegando às vezes a medir quinze palmos de comprimento. Seu principal veneno se acha na cabeça, por este motivo os bárbaros, quando a apanham, logo cortam a cabeça e a cobrem de terra.BOITIAPO (termo indígena). Cobra de cipó (em português). Serpente de sete ou oito pés de comprimento e da grossura do braço humano; redonda, pontuda. na parte posterior à semelhança de uma sovela; da cor da azeitona mas no ventre é amarelada. Seu corpo é coberto de escaminhas elegantes quase triangulares; vive de rãs; é venenosa. Nota. O autor português, que eu segui na desc. Américas lib. XV, cap. VI, a denominava: Boitiopua; outro, porém, me disse que se deve chamar Boitimapua, como se dissesse - cobra do tada de longo bico. É uma serpente redonda e alongada, que vive só de rãs, como dizem. Os bárbaros dizem que as mulheres estéreis se tornam fecundas, se esfregarem nos rins esta cobra. No mesmo capítulo, fiz descrição de outras serpentes, não mencionadas pelo autor; os curiosos procurem ler.

CAPÍTULO XV Rã. Várias Tartarugas. Crocodilo. RÃ - Encontra-se aqui uma rã, que mora nas árvores. É de tamanho medíocre; de cor amarela clara, na parte superior, e de cor amarelo-avermelhada na inferior; a metade inferior das pernas posteriores também é de cor amarela tendendo ao vermelho, cortada transversalmente por umas linhas pretas; assim também são os lados do ventre.J A B O T I (termo indígena). Espécie de tartaruga terrestre. Cagado do terra (em português). É coberto por uma couraça preta, na qual se acham esculpidas muitas figuras hexagonais; a face é como as demais; a cabeça e as pernas são fuscas, marchetada de manchas sombreadas. O fígado desta tartaruga é de ótimo sabor; é superior, em sabor, ao fígado de todos os outros animais.J U R U C U A (termo indígena). Tartaruga (em português). Tartaruga marítima, que tem umas espécies de asas, em vez de pés; as anteriores tem cada uma cerca de pé e meio de comprimento; as posteriores são um pouco mais curtas. A cauda é aguda, cônica; os olhos grandes e pretos; a boca desguarnecida de dentes é semelhante ao bico das aves. Possui couraças medindo três pés de comprimento e mais de dois de largura. Nas costas desta tartaruga acham-se inseridas as couraças, oito de cada lado; as anteriores são curtas, as médias, um pouco mais longas; as posteriores novamente, um pouco mais curtas. Seus ovos, bem como a carne, servem para se comer. Põem os ovos, na areia do litoral marítimo, fazendo um buraco e cobrindo-o com areia formando montículos. Muitas vezes vi vestígio delas, quando saíam do mar e se retiravam. Estas tartarugas são de vários tamanhos; encontrei uma cujo comprimento era de quatro pés a largura de três; tão grande era seu volume, que com dificuldade podia ser movida por quatro homens robustos. A couraça possui várias figuras geométricas insculpidas; outras têm a couraça preta, lustrosa, interceptada por linhas e figuras amarelas; outras têm com outra conformação.JURURA (termo indígena). Cagado d'agoa (termo português). É menor do que as outras tartarugas. A couraça superior tem de comprimento dez dedos e de largura nove, considerando-se a convexidade; a inferior tem nove dedos de comprimento e quatro e meio de largura e é chata. A superior tem figura elíptica. Esta tartaruga pode ocultar-se debaixo da couraça e estender o pescoço para fora a uma distância de três dedos. A cabeça tem a grossura de três dedos e é um tanto oblonga; o nariz é levantado e pontudo; a boca, ampla; os olhos, um pouco escuros; a pupila preta. Nos pés acham-se quatro unhas oblongas, pretas; a cauda é curta e pontuda; a pele rugosa e cheia de escamas; a couraça superior é fusca; a inferior, amarelada. Põe uns ovos arredondados, do tamanho de meio ovo de galinha, e tem a casca branca; são bons esses ovos, quando fritos. Eu os comi algumas vezes.

HISTÓRIA NATURAL DO BRASILLIVRO VIII

Que trata da própria Região e dos IndígenasCAPÍTULO I Do nome da região, sua grandeza, posição e divisão. E S T A região foi chamada primitivamente pelos lusitanos SANTA CRUZ, O qual nome depois mudaram em TERRA DO BRASIL, por causa da abundância da madeira, que aí é cortada e é levada para Europa, muito conhecida pelo povo, de modo que é hoje chamada comum e vulgarmente pelo nome BRASIL por todos os Europeus.O Brasil pois está situado na zona tórrida e mesmo na sua metade austral, e estende-se além do trópico do Capricórnio, pela zona temperada meridional.Porém nem todos concordam que deva ser definida pela sua grandeza ou latitude entre o Setentrião e o Meio-Dia. Nós determinamos seu começo na latitude Setentrional de um grau e meio, seja desde o Rio Para, e seu fim na latitude austral de vinte e quatro graus e meio, seja até o Rio Capiibari, a duas léguas além da cidade de S. Vicente; de sorte que sua grandeza seja de vinte e três graus entre o Boreal e o Austral. Até aqui está indeterminado até onde se estenderia entre o oriente e o ocidente, porque poucos até aqui penetraram no interior desta terra e viajando, pouco a percorreram.Quanto avalio, adotando a longitude de Limae, Capital do Perú, a qual os Espanhóis calculam estar a oitenta e dois graus da parte mais Ocidental de Toleto (porém Toledo está a dezenove graus e cinco escrúpulos ao Ocidente de Uranoburgo) de sorte que a longitude de Lima seja de duzentos e noventa e cinco graus e quarenta escrúpulos. Tomando da mesma maneira a longitude da cidade Maurícia, quase nas regiões mais Orientais do Brasil, que eu mesmo muitas vezes observei pelos Eclipses e. achei de trezentos e quarenta graus e meio com relação a Uranoburgo, e deste lado deduzindo a diferença de quarenta e quatro graus e cinqüenta escrúpulos. Ora sob o paralelo 8.40 segundo minha observação correspondem a um grau 28175 dez pegadas "Rhynlandicas" que divididas por 1500 (pois tantas pértigas formam um milhar de horas) darão horas ou melhor milhares Holandeses XVIII 1157/ 1500, isto é, dezoito milhares e três quadrantes. Por conseguinte a diferença 4450 será dada por 1.263.197 varas e dois pés, os quais for mam 842 179/1500 milhares subtraídos, pois cem milhares, porque Cusco é mais Oriental do que Lima e está situada nos limites do Brasil com o Perú, a grandeza do Brasil entre o Oriente e o Ocidente, seja perto de setecentos e quarenta e dois milhares, cuja amplitude todas as tábuas geográficas aumentam cerca de cento e oitenta e oito. Colocam assim o Brasil, muito mais ao Oriente do que realmente está, de acordo com que muitas vezes aprendi com experiência, à custa de observações próprias.Assim, a extremidade do Brasil, do Para, ao Maranhon, estende-se do Vento Noroeste ao Vento Sudeste. Do Maranhon ao Ciara a maior parte se dirige para o Vento Sudeste. Do Ciara ao Potiyi ou Rio Grande na direção do Vento austral; do Potiyi a Paraíba na direção austral; da Paraíba a Itamaraca do mesmo modo; de Itamaraca ao Promontório de S. Augustini e até a Baía de Todos os Santos o limite se curva na direção do vento sul; da Baía de Todo os ' Santos ao outro rio Paraíba de novo se dirige em grande parte em linha reta para o vento Sul; e em seguida até seus limites se estende direção ao vento Noroeste. Estas coisas, porém, podem ser conhecidas pelas Tábuas hidrográficas, para as quais enviamos os curiosos.