História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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TAPIIERETE (termo indígena). Anta (em português). Quadrúpede do tamanho de um bezerro de seis meses, assemelhando-se ao porco, na figura corpórea; a cabeça semelhante à deste é mais grossa, oblonga e pontuda, na parte superior. Sobre a boca se acha proeminente o focinho, o qual pode ser contraído ou alongado, graças a um fortíssimo nervo; no focinho, porém, acham-se uns orifícios alongados. A parte inferior da boca é mais curta do que a superior; ambas as maxilas são proeminentes na parte anterior, havendo, em cada uma, dez dentes incisos, em cima e em baixo; depois num certo espaço são essas maxilas desguarnecidas de dentes; vem depois os molares, que são grandes, e em número de cinco de cada lado, perfazendo-se um total de vinte molares e vinte incisos. Os olhos são porcinos e pequenos: as orelhas, arredondadas, um tanto grandes, as quais podem ser movidas para a parte anterior. As pernas um pouco mais longas do que as do porco, porém mais grossas; nos pés anteriores, acham-se quatro unhas; nos posteriores, três; a média é maior, em todos os pés; nos pés dianteiros, a quarta pequena fica para fora. Estas unhas são de cor escura; não compactas, mas ocas, e que podem ser tiradas. Este animal não tem cauda, mas, em seu lugar, tem um processo sem pêlos, cônico, pequeno como a cotia. Mas pode protrair o membro genital como os Cercopitecos., Caminha com o dorso encurvado como a Capivara. Sua cutis é sólida como a do alce; os pêlos curtos. A cor destes nos novos, é de um sombreado claro, marchetado de manchas claras, como o cabrito montez; nos mais velhos, a cor é fusca ou meio escura sem manchas. Este animal dorme algumas vezes, ocultando-se nos bosques espessos; de noite ou de manhã sai para procurar alimento. Nada muito bem; alimenta-se de capim, cana de açúcar, couve, etc. Sua carne serve para se comer, porém é muito desagradável.MURIUM. Aqui se encontra grande abundância de ratos grandes e pequenos; alguns grandes tem o ventre branco e o resto do corpo preto ou fusco; o corpo é oblongo. Rato aranha. Na figura assemelha-se ao rato. O comprimento do corpo, da extremidade da boca até à cauda, é de cinco dedos mais ou menos; o da cauda é de dois. A boca é alongada; os dentes são agudíssimos; sua cor é fusca, mas no dorso, no sentido longitudinal da cabeça à cauda, encontram-se três linhas pretas, grossas. Brincava com o gato, nem temia quando o gato o assaltava.CARUCUOCA (termo indígena). Rato pequeno doméstico, semelhante aos nossos, roedor como eles e estragador do que pode atingir.G U A B I R U (termo indígena). Rato de casa (em português). É um rato doméstico maior do que o chamado geralmente rato com o corpo alongado, da cor dos nossos e com o ventre branco. Percorrem as casas em grande número e causam muito dano.CAPÍTULO VII Tajacu. Porco de Guiné. Capivara. Esquilo. TAJACU CAAIGOARA (termo indígena). Porco silvestre, tendo um botão no dorso. Na figura se assemelha aos nossos porcos e chega a ter um tamanho maior do que o porco de um ano. Suas orelhas são curtas; as pernas são como as do porco; não possui cauda; seus pêlos são mais macios do que o de nossos porcos; não possui cerdas no dorso, mas são sempre iguais os pêlos. A cor de todo o corpo é preta, marchetada de uns mínimos pontos brancos; sua carne é boa e semelhante à de nossos porcos domésticos, mas não tem toucinho tão espesso. Nota. Possuí um desses porcos, enviado do Brasil por um amigo; era muito domesticado. Durante seis meses e mais, alimentei-o com alimentos úmidos como se faz com nossos porcos, mas ele morreu de volvo, como pensava. Dei-o ao nosso preclaríssimo professor de anatomia D. Valkenburgoque o abriu e fez esta observação: o