História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

Página 230


que tratam de umbigo, do qual como tinha observado, emanava um líquido semelhante ao leite, pensou ser uma teta, porque possuía vasos mamários. Como, porém, indaguei com diligência dos que tinham longo tempo vivido no Brasil, se este animal alimentava os filhotes por aquela parte, nunca me puderam dar informações seguras. Alguns disseram que amamentava por umas tetas, sitas debaixo do ventre. No dorso possuía umas cerdas, porém não tão espessas e longas como os nossos porcos.PORCO DE GUINÉ. Porco trazido de Guiné para o Brasil, semelhante aos nossos, na figura, mas de cor vermelha. Difere dos nossos pelo fato de não terem a cabeça tão levantada; têm, porém, orelhas longas e agudas com umas pontas compridas, e uma longa cauda, que va até o calcanhar, destituída de pêlos. O corpo é vestido de pêlos curtos, vermelhos, lustrosos não ásperos; o dorso, porém, é privado dele, havendo no entanto, junto à cauda e ao redor do pescoço uns pêlos um pouco mais longos. E um animal inteiramente doméstico.CAPIVARA (termo indígena). Porco fluvial, semelhante na figura ao porco doméstico, do tamanho de um de nossos porcos de idade de um ou dois anos. O comprimento do corpo, da cabeça ao ânus, é de cerca de dois pés, a grossura do ventre, de pé e meio; não existe cauda. Os pés são quatro e são semelhantes aos do porco; os anteriores têm quatro unhas; os posteriores três; nos anteriores encontra-se uma unha média muito longa, duas mais curtas e uma mínima; nas posteriores, a unha média é mais longa e as duas outras, mais curtas, até à curva da perna encontra-se uma pele grossa. O comprimento da cabeça é de dez dedos e tem a mesma medida a grossura; esta cabeça é grande e não proporcionada; a boca é muito comprida e grande,; os olhos são grandes e pretos; as orelhas pequenas e arredondadas. A maxila inferior é mais curta do que a superior; numa e noutra, encontram-se dois dentes curvos, que ficam um dedo e meio do lado de fora de seus alvéolos e no comprimento de quase dois dedos, enterrados; estes dentes, porém, não saem para fora da boca, mas ficam para dentro, como acontece com as lebres. Os outros dentes são curiosos; em cada maxila, cada série consta de oito ossos, isto é, quatro de cada lado; cada osso representa três dentes inseparáveis; desta maneira, em cada maxila os dentes são em número de vinte e quatro, perfazendo assim um total de quarenta e oito; todos eles são chatos, nas extremidades. Estes animais comem capim e várias frutas. Sua carne serve para se comer, mas não é saborosa; assada é um pouco melhor, principalmente a cabeça. Andam em grande quantidade, pelas margens do rio S. Francisco; sabem nadar e mergulhar muito bem; de noite emitem um grande clamor, horroroso, como costumam fazer os burros.ESQUILO brasileiro (o autor não diz como se chama este animal na Língua dos indígenas). Na figura e tamanho é semelhante aos nossos, exceto na cor; como os nossos têm a boca, dentes leporinos e barba. A pupila dos olhos é azulada; as orelhas são curtas e arredondadas. Nos pés anteriores, encontram-se quatro dedos com unhas longas e agudas; destes os médios são um pouco mais longos do que os demais; além disso, na parte interna de um lado, encontra-se