uma pequena rapousa americana ou um pouco maior. O comprimento do tronco é de um pé; o do pescoço de dois; o da cabeça de cinco; o da cauda, de dez. Cada uma das pernas mede quatro dedos de comprimento e os pés são do tamanho dos pés do macaco de rabo comprido. Os pés dianteiros têm quatro unhas curvas; duas grandes e grossas no meio e duas menores laterais com uma grossa e redonda cavidade; os traseiros têm cinco dedos pequenos, quase uniformes, com suas unhas. A cabeça é afilada e redonda, representando um cone agudo, um pouco curvado para baixo; a boca é preta, fina, sem dentes; os olhos, pretos e pequenos; as orelhas levantadas do comprimento de um dedo mais ou menos. A cauda possui cabelos mais longos do que os do dorso, mas a extremidade é nua e com ela pode ficar suspenso dos ramos das árvores. A cor dos cabelos de todo o corpo é amarela clara; esses cabelos são duros e lustrosos. Ao longo do dorso até à parte cabeluda da cauda, pelas pernas traseiras e no baixo ventre, a maior parte possui uma mescla de cabelos escuros; além disso duas linhas grossas, pretas, de um a outro lado, partem do pescoço e vão sobre os ombros até o dorso e se unem, no fim deste. A língua deste animal é redonda como uma sovela, do comprimento de oito dedos, e ela se assenta numa espécie de canal, entre as bochechas inferiores. Este animal é feroz, mas não pode morder, agarra fortemente com as unhas anteriores e tocado com um bastão assenta-se com as pernas traseiras, como o urso; ronca pelo nariz e agarra o bastão. Dorme o dia inteiro com a cabeça escondida, debaixo do pescoço e pernas anteriores; de noite passeia. Quando bebe, expele pelo nariz uma parte do que bebeu. Quando matei este animal, vivia em parte já sem a pele, embora tivesse permanecido oito dias sem alimento; na parte superior do rim esquerdo encontrei um processo triangular notável, preso ao rim por meio de uma dupla membrana tênue; nos intestinos, muitos vermes redondos, notáveis válvulas do coração e uma grande vesícula biliar. Sua carne cheira como a da raposa e não serve para se comer; o couro é espesso.CAPÍTULO V Guariba. Cagui maior e menor. Vários Cercopitecos. GUARIBA (termo indígena). Espécie de macaco de rabo comprido, do tamanho de nossa raposa, com a face erguida, olhos pretos e lusidios, orelhas curtas arredondadas. A cauda é longa e nua, na extremidade; este animal sempre se agita e assenta-se sobre ela onde, quer que se ache. Os cabelos de todo o corpo são pretos, longos e lustrosos e tão unidos entre si que o animal parece ser liso. Debaixo do queixo e garganta, os cabelos são mais longos e terminam numa barba redonda, semelhante a do cabrito; os cabelos das mãos e pés são de cor escura bem como a metade exterior da cauda. A que eu descrevo aqui era fêmea; os machos são um pouco maiores, porém da mesma cor. Encontram-se esses animais, em grande quantidade, nos bosques, onde emitem um grande grito, que pode ser ouvido de longe. Às vezes um só grita e outros, em grande número, formam uma roda, como se ouvissem uma alocução; esse grito é considerado cem vezes maior quando se está ao longe. Este é o modo ordinário, como muitas vezes observei. Todos os dias, antes e depois do meio dia, reunem-se uma ou outra vez; um deles se assenta, num lugar mais elevado, no meio; os outros se assentam ao redor, num plano inferior; aquele canta, em alta voz, e dado um sinal, os outros cantam prosseguindo a canção até que seja novamente dado um sinal; todos então calam-se num instante e o presidente termina a canção com elevada voz. Carregam os filhotes no dorso, quando andam pelos ramos das árvores; estes filhotes percorrem
História natural do Brasil.
Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado