História natural do Brasil.

Escrito por Marcgrave, Jorge e publicado por Museu paulista. Imprensa Oficial do Estado

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o dorso, porém, debaixo das asas até o início da cauda, é coberto de penas da cor do barro.O baixo ventre é de um notável cerúleo; as asas, pretas com as extremidades laterais cerúleas de sorte que fechadas parecem totalmente carúleas só com a extremidade preta. O início das asas fulge externamente com penas de cor verde-mar e cada asa tem, na parte superior do dorso ou na extremidade superior lateral, uma mistura de penas amarelas. A cauda é larga e mede de comprimento dedo é meio; tem penas pretas com a extremidade lateral cerúlea; sua extremidade é preta. Costuma ser presa na gaiola e ela grita zip, zip, como costuma fazer a Rubrica (?), em alemão Gympel. Alimenta-se de farinha e pão. Segunda espécie. No tamanho e figura, assemelha-se ao nosso pardal. Tem o biquinho fusco, mesclado de amarelo, um tanto largo, agudo na extremidade com a parte inferior muito mais curta que a superior; os olhos são pretos. A cabeça é coberta de penas de um vermelho carregado; o resto do corpo com as asas e a cauda é notavelmente preto. A parte superior das pernas tem penas brancas, mas pelo lado exterior estende-se uma mancha vermelha, como se esta parte se achasse manchada de sangue. A parte inferior das pernas e os pés são cinzentos; nos pés acham-se quatro dedos, dispostos, como sucede geralmente. A cauda é curta, do comprimento de um dedo e as asas terminam junto de sua origem.

CAPÍTULO XIV Anhima. Pitangua guacu. Atingacu camucu. Guira acangatara. ANHIMA (termo indígena). Ave aquática, do gênero das rapinantes, maior do que o cisne. Sua cabeça não é grande; é semelhante à da galinha e o bico é preto, sendo sua parte superior um pouco mais longa que a inferior, e é um pouco curvo para baixo na extremidade. Os olhos são belos, áureos, tendo a pupila preta e rodeada exteriormente de uma íris preta. Na cabeça, perto do início do bico, encontra-se um chifre levantado, curvado para a frente, do comprimento de um pouco mais de dois dedos, da grossura de uma corda maior de violão, redondo, como se fosse torneado, de cor embranquecida ou óssea. Ao redor deste chifre, encontram-se umas peninhas tenras e curtas, de cor branca e preta. O pescoço tem mais de sete dedos de comprimento; o resto do corpo até à origem da cauda, quase pé e meio. As asas são amplíssimas, de sorte que o comprimento das penas excede a pé e meio. Na parte dianteira de cada asa, encontram-se dois chifres retos, triangulares, nascidos do próprio osso da asa, da grossura de uma ponta de dedo mínimo, de figura cônica, triangular. A parte anterior é do comprimento de um dedo; a posterior um pouco mais curta, de cor fusca. A cauda desta ave mede dez dedos de comprimento e é da largura da cauda do pato; a parte superior das pernas tem quatro dedos de comprimento tendo uma metade nua; a inferior tem cinco de comprimento e quase dois de grossura. Em cada pé, encontram-se quatro dedos dispostos como os da galinha; destes o médio fronteiro mede quatro dedos e meio de comprimento; os outros, três e meio; o posterior tem quase dois; cada qual tem uma unha em forma de chifre, preta, do comprimento de um dedo; nos dedos posteriores é um pouco mais longa. São cobertos de uma pele fusca e escamosa os dedos e as pernas nuas; o vértice da cabeça é dotado de umas peninhas brancas e pretas; dos lados, na garganta e metade superior do pescoço domina o branco; a metade inferior do pescoço e o peito possui uma variedade de cores: branca, cinzenta e preta. O baixo ventre é todo coberto de penas brancas; dos lados situados debaixo das asas, e no dorso, as penas são pretas, mescladas de branco aqui e ali. A cauda é preta, bem como as asas com exceção das extremidades (junto dos ossos) onde são mesclados de branco amarelado. Emite um clamor terrível, gritando vyhu, vyhu. Nunca se encontra sozinho, mas sempre um casal e quando morre uma delas, a companheira